O manicômio dos juros no Brasil
Ricardo Bergamini*
“No Brasil quem tem um olho é rei, quem tem dois é maluco”. (Olavo de Carvalho).
Periodicamente os meios de comunicação anunciam com estardalhaço a tal reunião do COPOM (Comitê de Política Monetária) para fixação dos juros da economia. Sendo a última fixada em dezembro de 2002 na faixa de 25% ao ano.
A partir daí começa um verdadeiro manicômio dos analistas tentando explicar algo que, em sua grande maioria, nada entendem sobre o tema. Senão vejamos as principais confusões:
– Em primeiro lugar os juros acima fixados pelo Banco Central, conhecidos como juros primários ou básicos, servem apenas como referência para um dia de financiamento da rolagem da dívida no chamado mercado “Selic”.
Na rolagem da dívida de mais longo prazo as taxas de juros variam com base nos ingredientes normais de qualquer outro negócio econômico, quais sejam: prazo, risco, etc, etc.
Com base no conceito exposto no parágrafo acima, acreditem se quiserem, o custo de carregamento da dívida pública total da União, inclusive indexada ao câmbio, de janeiro de 2002 até novembro de 2002 ficou em 3,27% ao mês, ou 47,16% ao ano. Com ganho real para os investidores de 1,54% ao mês, ou 20,13% ao ano, depois de excluída a inflação pelo IGPM do período de 1,73% ao mês, ou 22,85% ao ano.
A gravidade do estado de putrefação das contas do governo é de tal magnitude que, mesmo o governo rolando a sua dívida ao custo médio de 47,16% ao ano, em novembro de 2002 existia um montante de R$ 267,8 bilhões em títulos da dívida da união sendo carregados ilegalmente pelo Banco Central, por falta de tomadores em mercado.
– Em segundo lugar sempre que há mudança do patamar dos juros, entram os analistas explicando os efeitos que os mesmos causarão no dia-a-dia do cidadão, sem conhecerem que esses efeitos são sempre retardos “Curva de Philips”, em média seis meses para atingirem os efeitos desejados pelos gestores de política monetária. Não caberia explicar tecnicamente do que se trata, porém em termos figurativos seria o seguinte: “Imaginem uma represa fechando suas comportas. Os efeitos seriam sentidos lentamente por toda a extensão do rio, mais rápido na cabeceira, e muito mais tarde na sua foz. O mesmo raciocínio se aplicaria ao efeito inverso: ao abrirem as comportas”.
– Em terceiro lugar uma das mais estúpidas falta de entendimento sobre o tema é quando todos dizem (muitos até escrevem em jornais) não entenderem os motivos pelos quais os bancos cobram juros tão elevados. Como um estúpido no assunto poderia entender que um patamar de juros divulgado em manchetes pelos meios de comunicação, atualmente em 25% ao ano, possam se transformar em juros de algo como 150% ao ano para o tomador final?
Para explicar temos que conhecer o que seja “Efeito Multiplicador de Base (ou Crédito): “é um índice calculado pelo Banco Central para regular a liquidez do mercado, via depósitos compulsórios”. Através deste índice podemos chegar a taxa real de juros de mercado.
Sendo o multiplicador de base médio no período de janeiro/02 até novembro/02 de 1,4984, ou seja: 66,74% dos recursos disponíveis foram esterilizados pelo Banco Central através dos depósitos compulsórios, os juros mínimos de mercado, na média do período, seriam de 47,16% a.a. x 3,0066 = 141,79% a.a., ou 7,63% ao mês. Não considerando outros custos, tais como: impostos, taxas e lucro dos bancos.
Em vista do acima exposto caberia uma explicação mais didática para os não muitos entendidos no tema:
“Um banco recebe um depósito no valor de R$ 100,00. Ele teria duas opções de aplicação: emprestar ao governo os R$ 100,00 e receber, no nosso exemplo real, 47,16% ao ano de remuneração bruta, ou emprestar ao mercado. Nesse caso dadas às restrições acima descritas o referido banco somente poderia emprestar 33,26% do referido depósito. Assim sendo, para ter a mesma remuneração que teria com o governo, ele é obrigado a triplicar a taxa para o tomador final”.
Para finalizar creio que os leitores poderiam estar pensamento que isso é muita sacanagem do governo. Concordo plenamente com quem esteja pensando dessa forma. Porém caberia a seguinte pergunta: Como o governo poderia financiar as suas orgias de gastos públicos, se não criasse tais barreiras para o desenvolvimento do cidadão comum e das empresas?
Em função do acima explicado os caipiras brasileiros ficaram “enxugando gelo” e “batendo palmas para bêbados dançarem” nos oito anos de FHC, com um crescimento medíocre médio em torno de 2,22% ao ano em reais. Em dólares americanos queda de 15,14% no período, em relação ao ano de 1994.
05 de janeiro de 2003
NOTA: Estudo completo ler “Prestação de Contas do Governo FHC” disponível em nosso sítio abaixo mencionado
* Economista, formado em 1974 pela Faculdade Candido Mendes no Rio de Janeiro, com cursos de extensão em Engenharia Econômica pela UFRJ, no período de 1974/1976, e MBA Executivo em Finanças pelo IBMEC/RJ, no período de1988/1989. Membro da área internacional do Lloyds Bank (Rio de Janeiro e Citibank (Nova York e Rio de Janeiro). Exerceu diversos cargos executivos, na área financeira em empresas como Cosigua – Nuclebrás – Multifrabril – IESA Desde de 1996 reside em Florianópolis onde atua como consultor de empresas e palestrante, assessorando empresas da região sul.
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