Economia

Multiplicação da Moeda

Multiplicação da Moeda

 

 

Ricardo Bergamini*

 

 

O principal objetivo do depósito compulsório é evitar a multiplicação descontrolada da moeda escritural.

 

Quando uma pessoa deposita certa quantia de dinheiro num banco comercial, esta quantia fica disponível para que o banco a empreste a outro cliente. Este cliente, por sua vez, não gasta imediatamente todo o dinheiro tomado como empréstimo, mas deposita o valor tomado em um segundo banco. Neste ponto temos uma multiplicação da moeda, já que o primeiro depositante tem a totalidade de seu dinheiro disponível em moeda escritural (pode emitir um cheque nesse valor, ou fazer compras com cartão de débito, por exemplo) e o segundo depositante também tem a mesma quantidade disponível. Entretanto, a quantidade de moeda “real” é apenas a quantidade que foi depositada pelo primeiro depositante.

 

Num exemplo mais concreto: Digamos que A tenha 100 dinheiros e isso seja toda a nossa economia num país imaginário P. Quando A deposita esses 100 dinheiros no banco X, os 100 dinheiros em papel moeda se transformam em 100 dinheiros em moeda escritural, que A pode gastar emitindo cheques ou usando seu cartão eletrônico.

 

Temos então que outra pessoa, digamos B, precisa de 100 dinheiros. Ela se dirige ao banco X e toma um empréstimo de 100 dinheiros. O banco X entrega então a B os 100 dinheiros em papel moeda que A lhe havia entregue como depósito, sem com isso diminuir o valor em moeda escritural que A tinha em sua conta. Assim temos na economia do país P um total de 200 dinheiros, mas apenas 100 desses em papel moeda. A moeda está se multiplicando a cada depósito.

 

Se B também deposita seus 100 dinheiros num banco Y, e C toma um empréstimo junto ao banco Y de 100 dinheiros, temos mais uma multiplicação da moeda. Essa multiplicação não tem limites, já que os bancos podem emprestar todo o dinheiro depositado neles.

 

Essa situação é insustentável, se a oferta de moeda se torna maior que o que a economia é capaz de produzir, a inflação toma conta para reajustar o valor da moeda até o nível de preços. Mas se a moeda é infinita, então a inflação também será.

 

Aí entram os depósitos compulsórios.

 

Controle da Multiplicação da Moeda ou Multiplicador de Base

 

Suponhamos que para cada depósito feito por uma pessoa num banco, este banco deva reservar 50% do dinheiro, e só possa emprestar os outros 50%. Nesse caso, B só pode tomar 50 dinheiros de empréstimo, e C só pode tomar 25 dinheiros, e assim sucessivamente, até que o valor que poderá ser emprestado é menor que 1 dinheiro, e assim não pode mais ser depositado ou emprestado. Nesse caso, a multiplicação da moeda não é infinita e pode ser controlada através da variação desta porcentagem.

 

Essa “reserva” de dinheiro é do que trata o depósito compulsório. Os Bancos Centrais obrigam a cada banco que uma parcela do dinheiro que eles captam em depósitos seja depositado junto ao Banco Central. Esta parcela é usada para que o Banco Central tenha um controle da quantidade de moeda que existe na economia do país, seja na forma de papel moeda, seja na forma de moeda escritural, e assim poder controlar o poder de compra e a liquidez da moeda.

 

 

Sendo o multiplicador de base médio em 2008 de 1,4258, ou seja: 70,13% dos recursos disponíveis foram esterilizados pelo Banco Central, através dos depósitos compulsórios, com remuneração ZERO,  o juro mínimo de mercado médio em 2008 foi de 13,56% ao ano  x 3,3478 = 45,40% ao ano (3,1685% ao mês), não considerando outros custos, tais como: impostos, taxas e lucros dos bancos.

 

13,56% ao ano de R$ 100,00 = 45,40% ao ano de R$ 29,87

 

Cabe lembrar que o banco é isento de depósito compulsório ao comprar títulos do governo, por isso, e somente por isso, o governo federal rolou a sua dívida, no ano de 2008, ao custo médio de 13,56% ao ano, enquanto as famílias e as empresas ao custo médio de 68% ao ano.

 

No Brasil, de longa data, o depósito compulsório deixou de ser um instrumento de política monetária, para se tornar um mecanismo de captação compulsória de recursos, para financiar a dívida do governo.

 

Porque o depósito compulsório é alto no Brasil? Para o Banco Central poder carregar R$ 499,6 bilhões da dívida da União em sua carteira, caso contrário teria que aumentar a base monetária com novas emissões.

 

Com base em dezembro de 2008 a dívida total (Interna e Externa) líquida da União era de R$ 1.896,6 bilhões (66,66% do PIB), sendo R$ 1.264,8 bilhões (44,46% do PIB) em poder do mercado; R$ 499,6 bilhões (17,56% do PIB) em poder do Banco Central e R$ 132,2 bilhões (4,64% do PIB), relativa à dívida externa.

 

Que Deus tenha piedade da abissal escuridão reinante no Brasil

 

 

* Economista, formado em 1974 pela Faculdade Candido Mendes no Rio de Janeiro, com cursos de extensão em Engenharia Econômica pela UFRJ, no período de 1974/1976, e MBA Executivo em Finanças pelo IBMEC/RJ, no período de1988/1989. Membro da área internacional do Lloyds Bank (Rio de Janeiro e Citibank (Nova York e Rio de Janeiro). Exerceu diversos cargos executivos, na área financeira em empresas como Cosigua – Nuclebrás – Multifrabril – IESA Desde de 1996 reside em Florianópolis onde atua como consultor de empresas e palestrante, assessorando empresas da região sul..  Site: http://paginas.terra.com.br/noticias/ricardobergamini

 

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Como citar e referenciar este artigo:
BERGAMINI, Ricardo. Multiplicação da Moeda. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2009. Disponível em: https://investidura.com.br/artigos/economia/multiplicacao-da-moeda/ Acesso em: 12 fev. 2025