Economia

Desabafo de um Humilde Cidadão Brasileiro

Desabafo de um Humilde Cidadão Brasileiro

 

 

Ricardo Bergamini*

 

 

Tenho plena consciência de minha exaustivamente luta em tentar congregar todos os amigos e irmãos para uma luta comum, porém a cada dia que passa, após mais de dois anos tentando desviar os debates para o verdadeiro centro gerador do caos econômico brasileiro, confesso minha desilusão em não ter conseguido, por deformação cultural de nossa elite intelectual, econômica e política, em não acreditar ser a disciplina fiscal de uma família, ou de uma Nação, a base fundamental de tudo na vida, sendo sua consciência o primeiro passo para resoluções e soluções para todas as mazelas de uma Nação, ou das famílias. Em vista do exposto todos as criticas, daqui por diante colocadas, sempre me socorrerei à diversos pensadores da história da humanidade, evidenciando que ainda devemos tentar, até nosso último sinal de vida, mudar o eixo dos debates para parâmetros mais consistentes, saindo da nossa eterna mesmice dos debates sobre as conseqüências, em detrimento do debate maior sobre suas causas culturais e históricas, abandonando nossa mania de transferirmos todas as culpas para outras Nações pelo nosso maldito destino. Vejamos abaixo breve resumo das reflexões dos principais pensadores e filósofos da humanidade com relação aos números, medidas e controles, temas secundário em nossa formação cultural, desde de nossa origem, gerando uma Nação onde ninguém necessita prestar contas à ninguém, sobre coisa alguma.

 

Os grandes pensadores e criadores da ciência moderna, Kepler, Galileu e Newton interpretavam a inteligibilidade matemática do cosmo num sentido teológico (como seus contemporâneos Descartes e, sobretudo, Malebranche). Deus criou o mundo segundo leis matemáticas colocando em nosso espírito “ciências de verdade” (Descartes), apenas temos de desenvolver para compreendê-lo. Kepler, entusiasmado com sua descoberta da trajetória elíptica dos planetas, exprime, numa bela página dos seus Cinco Livros sobre a Harmonia do Mundo, sua gratidão a Deus: “Agradeço-te, Criador e Senhor, por me teres regozijado o espírito com o espetáculo de tua obra”. Leibniz admirava profundamente a extrema simplicidade das leis do universo, em que o máximo de efeitos realizou-se com o mínimo de meios. “O mundo”, dizia, “originou-se dos cálculos de Deus”. Já Platão invocava um Deus que “sempre geometriza”. Na Bíblia, o Livro da Sabedoria (XI, 20) ensina-nos que “Deus tudo regulou com medida e com número”.

 

Vejamos na prática como funciona nossa lógica deformada de brasileiro, sem base cultural na convicção matemática. Peguemos exemplo recente do projeto “Caça Bandidos” do governador Mário Covas. Vamos transformar seu projeto em números, considerando as premissas colocadas pelo governo do Estado de São Paulo:

 

– Total de criminosos procurados110.000, não considerando criminosos foragidos com foro privilegiado, detentores de cargos vinculados ao poder público, tais como: Prefeitos, Deputados, Governadores, Vereadores, Juizes, Delegados, etc.

 

– Prêmio por cada foragido preso – R$ 50.000,00.

 

– Custo per capita com gastos administrativos, pessoal, manutenção, alimentação, alojamento, etc, em torno de R$ 1.800,00 mensais.

 

– Custo do metro quadrado de construção no Estado de São Paulo de R$ 362,04, segundo anuário estatístico do IBGE , base 1997, página 6-59.

 

– Para facilitar vamos considerar que todas as obras de construções dos presídios seriam em terrenos de propriedade do Estado, ou dos Municípios paulistas.

 

– Dentro das técnicas de engenharia e de segurança um presídio moderno deveria ter sua capacidade limitada, em torno de 300 internos, demandando uma média de construção em torno de 10 metros quadrados de área útil per capita, incluindo refeitório, alojamento, administração, etc. Assim sendo, cada presídio teria uma área construída em torno de 3.000 metros quadrados. Como haveria necessidade de construção de 367 novos presídios para atender à nova demanda dos 110.000 foragidos, o projeto de área construída total seria de 1.101.000 metros quadrados de construção.

 

– Cabe acrescentar que em nossos cálculos não vamos considerar a necessidade de construções de novos presídios para atender à demanda da superpopulação dos presídios e delegacias, já existente.

 

Quadro Demonstrativo dos Custos Para Captura e Manutenção dos Presos Foragidos

 

Itens de Custos

Valores Em R$

Custo com Prêmios de Captura – 110.000 x R$ 50.000,00

5.500.000,00

Custo com a Construção dos Presídios – 1.101.000,00 x R$ 362,04

398.606.000,00

Total de Custo Incorrido Apenas Uma Vez

404.106.000,00

Acréscimo de Custo Corrente Mensal – 110.000,00 x R$ 1.800,00

198.000.000,00

 

 

Como queríamos demonstrar, caso o projeto anterior de cobrança de R$ 2,50 por conta telefônica tivesse vingado, somado ao projeto em pauta do Governador Mário Covas, haveria necessidade de cobrar, pasmem!!! 161.642.400.(cento e sessenta e um milhões, seiscentos e quarenta e dois mil e quatrocentas) contas telefônicas para implementação do projeto, e mais, um acréscimo mensal definitivo de 79.200.000 (setenta e nove milhões e duzentos mil) contas telefônicas. Provando ser um projeto de lance demagógico, baseado apenas na convicção e na certeza de que, jamais haverá alguém com prestigio, formação independente e com espaços democrático para questionar sua inviabilidade. Infelizmente, minha experiência mostra que mesmo dentro dos grupos mais grandiosos de luta, com participação de brasileiros altivos, patriotas, honestos e dignos, ainda há muita dificuldade nas colocações em bases numéricas, matemáticas e racionais, sempre considerado como um assunto chato.

 

Meus amigos e irmãos, imaginem meu sofrimento e angustia ao saber que, com base em meus modestos conhecimentos profissionais sobre economia e, principalmente contas públicas, tendo colocado mensalmente um relatório demonstrando a falência total do Brasil provocada pelo Cavaleiro do Apocalipse (FHC), e ainda não tenha conseguido sensibilizar meus companheiros de luta comum de que não devíamos mais estarmos escrevendo ou criticando o referido senhor (acendendo velas para defunto errado), mas sim, acreditarmos que racionalmente falando deveríamos estar refletindo sobre como iremos retirar nosso querido Brasil deste atual atoleiro. Quem dentre nós imaginar que será fácil o projeto de reconstrução de nosso país está totalmente enganado, afirmo com total convicção que o sofrimento e dor do acerto será muito maior do que, o já instalado e conhecido

 

Alguém ainda teria algum fundamento, teórico ou prático, para acreditar que um país sem Constituição como é o nosso, onde é mais fácil conseguir sua alteração, quase que diariamente, do que a alteração de uma simples Lei Ordinária ou, num grupo de poder que é capaz de debater valores e indicadores econômicos, tais como do salário mínimo, salários de servidores, sem mesmo ter o Orçamento para o ano aprovado. Com todo respeito ao meu querido país, mas não posso me furtar em ser sincero, me sinto vivendo num acampamento de refugiado, jamais em uma Nação Soberana.

 

 

* Economista, formado em 1974 pela Faculdade Candido Mendes no Rio de Janeiro, com cursos de extensão em Engenharia Econômica pela UFRJ, no período de 1974/1976, e MBA Executivo em Finanças pelo IBMEC/RJ, no período de1988/1989. Membro da área internacional do Lloyds Bank (Rio de Janeiro e Citibank (Nova York e Rio de Janeiro). Exerceu diversos cargos executivos, na área financeira em empresas como Cosigua – Nuclebrás – Multifrabril – IESA Desde de 1996 reside em Florianópolis onde atua como consultor de empresas e palestrante, assessorando empresas da região sul.

 

 

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Como citar e referenciar este artigo:
BERGAMINI, Ricardo. Desabafo de um Humilde Cidadão Brasileiro. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2008. Disponível em: https://investidura.com.br/artigos/economia/desabafo-de-um-humilde-cidadao-brasileiro/ Acesso em: 21 abr. 2025