Clinton Confirma Maioridade do Brasil e Corta Mesada
Ricardo Bergamini*
No último dia 21 realizou-se em Florença, na Itália, a conferência da “Progressive Governance for the 21st Century, conhecida como “Terceira Via”, com a participação dos Presidentes dos Estados Unidos, Bill Clinton, Primeiro Ministro Britânico, Tony Blair, Primeiro Ministro da França, Lionel Jospin, Chanceler alemão, Gerhard Schoeder, Primeiro Ministro da Itália, Massimo D’Alema e o FHC.
Coube ao FHC, autêntico exemplar do burocrata brasileiro, sempre transferindo sua responsabilidade para outros, transformado em estadista pelos bajuladores da corte, fazer a primeira colocação da reunião, propondo regular o fluxo internacional de capitais, principalmente o de curto prazo, citando o exemplo do Brasil, segundo FHC, o País perdeu US$ 20,0 bilhões no mês de setembro/98, por causa da fuga de capitais provocada pelo pânico dos investidores após a crise da Rússia. O objetivo da medida seria evitar que a crise de um país atinja outros por contágio.
Senhores, leiam com atenção alguns trechos das respostas agressivas colocadas por Clinton sobre a bobagem proposta por FHC, já desmentida por Pedro Malan, por ser justificativa apenas para uso do público interno, na grande maioria ignorante. Vejamos os principais trechos do discurso de Clinton:
“Adoção de políticas econômicas domésticas adequadas é que dá segurança aos países e mantêm a confiança aos investidores”.
“Considerou natural que os investidores tirem os seus recursos dos países onde não haja mais confiança”. Segundo ele, ninguém vai colocar dinheiro onde não pode fazer dinheiro”.
“Os países precisam controlar suas políticas econômicas e ajustar as suas contas”.
” A velha e a nova esquerda têm de aceitar a realidade de que é preciso ter disciplina fiscal”.
“Citou o exemplo de Uganda para mostrar que uma política econômica adequada pode fazer milagres, crescendo a base 5% ao ano”.
“Não é admissível que recursos de empréstimo para alguns países sumam por causa da corrupção.
Cabe relembrar trechos do anexo encaminhado juntamente com o Relatório – Prestação de Contas Governo FHC – Base Junho/99, divulgado em 19.08.99:
O economista-chefe do banco ING Barings, Arturo Porzecanski, recomendou ontem a venda de títulos da dívida externa do Brasil e a compra de papéis do México. Acabou a lua-de-mel com o Brasil e com o presidente do Banco Central, Armínio Fraga”, disse Porzecanski.
Disse ele, “terminou o prazo em que o Brasil podia baixar juros sem pressionar a moeda, desvalorizar a moeda sem pressionar a inflação, ou impor medidas de austeridade sem conseqüências recessivas”
Segundo ele, sua percepção negativa em relação ao Brasil decorre, não só pelo pouco interesse do Congresso quanto ao ajuste fiscal, mas também da inapetência do presidente FHC para o exercício da liderança que a realidade exige.
O problema não é só do Congresso, mas também do Executivo. Falta uma visão coerente e com rumo na ação do Executivo; o governo joga na defensiva e a questão não é se vai fazer concessões, mas quantas fará”.
Também devemos relembrar algumas colocações contidas em meu artigo a Crise Cambial Brasileira, divulgado em 03.11.99:
Com certeza, um Presidente Estadista, que entendesse o que está se passando no mundo, já teria trazido a questão para o seu comando único, com a formação de um gabinete especial com especialistas em economia internacional, para colaborar na condução dessa mudança mundial dos padrões e valores das relações econômicas, financeiras, monetárias e cambiais, as quais iremos passar nos próximos anos.
A exportação de problemas nacionais, nos países desenvolvidos, é uma forma clássica de comportamento internacional. Votos estrangeiros não contam em eleições nacionais. Os custos políticos de providências internas que poderiam resolver um problema de desemprego, um problema de inflação, ou um problema de indústria deprimida, normalmente, são mais altos que os custos políticos da exportação do problema. Assim o resto do mundo subdesenvolvido se transforma em escoadouro de problemas internos dos países desenvolvidos.
É comum nos dias de hoje o uso constante do termo (ataque a moeda), mas poucos saberiam explicar seu processo, cabendo breve análise sobre o tema. Ataque ocorre contra qualquer moeda existente no mundo, bastando os analistas internacionais encontrem contradições entre, os indicadores econômicos ruins de um país, e o discurso político interno, de que tudo está sob controle, sem tomada de decisões para correções dos rumos. Analistas no mundo inteiro lêem apenas balanços dos países, malgrado em muitos países as decisões são políticas e não técnicas, já que políticos somente sabem ver pesquisas, independentemente, da gravidade do momento econômico do seu país. Em economia internacional, como as ações são exógenas, não bastam decisões com medidas certas, têm que serem medidas certas, no momento certo. Os governantes deveriam aprender que suas justificativas dadas para seu público externo, não poderão ser as mesmas bobagens ditas para seu público interno. Praticamente foi o que Clinton quis dizer ao burocrata FHC. Posteriormente, Pedro Malan, tentou amenizar o problema.
Como regra geral, quanto mais poderosa a burocracia, menor o campo de ação para decisões orientadas para o mercado. A burocracia afeta as decisões de várias maneiras, pelo controle de credito, imposto, obras, investimentos, importação, etc. É evidente que movimentos para uma economia mais aberta tenderão a enfraquecer o controle burocrático e, assim, ameaçam o futuro da burocracia.
O pior que pode acontecer é uma nação enfrentar uma crise internacional (ajustes) sendo um “FALIDO ÓTIMO” ou seja, enfrentar ataques em sua moeda dependendo de recursos externos. “FALIDO ÓTIMO” vive obtendo empréstimos. Primeiro, toma emprestado o máximo que pode aos prestamistas de baixo custo e, quando essa fonte esgota ele toma emprestado o máximo possível aos prestamistas de alto custo. Usa esses fundos dos novos empréstimos para pagar as despesas de juros e amortizações sobre os empréstimos pendentes. A única razão porque deseja servir a dívida é para proteger sua classificação de crédito, para obtenção de novos créditos.
Nos países com o perfil acima as explicações das autoridades monetárias serão sempre evasivas e inúteis, visto não terem como explicar sua incompetência total em economia internacional, usando as desculpas de sempre, fatores externos nos levaram à essa situação, citando um rosário de países culpados. Justificativa não aceita pelo governo americano na reunião em pauta.
Na minha opinião pela primeira vez um governante americano teve a coragem de dizer diante de um presidente brasileiro o que merecia ouvir, encerrando definitivamente nossa postura de eternos adolescentes, empurrando todas as culpas de nossos problemas para os outros, e para o futuro Acabou nossa fase de ficarmos “Deitados Eternamente em Berço Esplendido”. Os brasileiros de fé, e o mundo, estão esgotados de nossa lixeira política. Acabou o prazo, o recado é o seguinte: Como FHC vai explicar a destruição de nosso balanço de pagamentos, em quatro anos e nove meses, com um rombo de US$ 254,7 bilhões, não considerando fontes de financiamento de recursos? Existem duas alternativas para FHC: a) obter empréstimo de emergência com seu ídolo e amigo Fidel Castro; ou b) iniciar PLANO de FUGA.
Prezados leitores e amigos, cada dia que passa estou mais convicto da exclusão do contexto mundial de Nações cujas administrações ainda sejam baseadas em patotas, falanges, fisiologismo e corporativismo. Como uma luta entre gatos e ratos, escondendo da sociedade seus verdadeiros problemas, ou os empurrando para o futuro. Queiramos ou não, concordemos ou não, os preceitos de Max Weber serão a forma de administração no terceiro milênio Como disse o Presidente Clinton, “a velha ou a nova esquerda terão que ter disciplina fiscal”, acrescentaria não ser condição apenas para as ideologias de esquerda, mas para qualquer ideologia política, terão que se enquadrar nos fundamentos da matemática. Não haverá mais espaços, no mundo, para políticas de orgias econômicas ou mágicas. Assim sendo, cabe reeditar um resumo da visão dos maiores pensadores da história da humanidade, e até da Bíblia, que deveriam constar de qualquer programa de governo, ou de partidos políticos, inclusive da constituição.
Grandes criadores da ciência moderna tais como, Kepler, Galileu e Newton interpretavam a inteligibilidade matemática do cosmo num sentido teológico (como seus contemporâneos Descartes e, sobretudo, (Malebranche). Deus criou o mundo com leis matemáticas colocando em nosso espírito “ciências de verdade” (Descartes) que nós apenas temos de desenvolver para compreendê-lo. Kepler, entusiasmado com sua descoberta da trajetória elíptica dos planetas, exprime, numa bela página dos seus Cinco Livros sobre a Harmonia do Mundo, sua gratidão a Deus: “Agradeço-te, Criador e Senhor, por me teres regozijado o espírito com o espetáculo de tua obra”. Leibniz admirava profundamente a extrema simplicidade das leis do universo, em que o máximo de efeitos realizou-se com o mínimo de meios. “O mundo”, dizia, “originou-se dos cálculos de Deus”. Já Platão invocava um Deus que “sempre geometriza”. Na Bíblia, o Livro da Sabedoria (XI, 20) ensina-nos que “Deus tudo regulou com medida e com número”.
Florianópolis, 24 de novembro de 1999
* Economista, formado em 1974 pela Faculdade Candido Mendes no Rio de Janeiro, com cursos de extensão em Engenharia Econômica pela UFRJ, no período de 1974/1976, e MBA Executivo em Finanças pelo IBMEC/RJ, no período de1988/1989. Membro da área internacional do Lloyds Bank (Rio de Janeiro e Citibank (Nova York e Rio de Janeiro). Exerceu diversos cargos executivos, na área financeira em empresas como Cosigua – Nuclebrás – Multifrabril – IESA Desde de 1996 reside em Florianópolis onde atua como consultor de empresas e palestrante, assessorando empresas da região sul.
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