A economia pós-crise
Ives Gandra da Silva Martins*
O mundo ainda está mergulhado na crise decorrente da bem remunerada criatividade dos gênios do sistema financeiro mundial. A estratégia genial consistiu em emprestarem sem garantias e multiplicarem a velocidade de circulação da mesma moeda, mediante desenfreada emissão de títulos, cuja confiabilidade consistia no fato de seus emitentes terem certeza de que ninguém desconfiaria de que não eram confiáveis.
O pastel repleto de vento que tais títulos representaram era tão grande, que, dada a primeira mordida, um tsunâmi fez explodir a economia mundial de países civilizados e dos emergentes.
Estamos ainda navegando no temporal. A marolinha do presidente Lula ganhou proporções tão grandes, que levou parte de sua popularidade, com sérios riscos de que venha ainda a fazer mais estragos.
Todos os países desenvolvidos, para socorrer o falido sistema financeiro e evitar prejuízos maiores, estão emitindo dinheiro, o que vale dizer, projetando para o futuro razoável desvalorização de todas as moedas, assim como inflação, a médio prazo.
Muitos entendem que esta inflação futura será corretiva, pois desvaloriza o valor dos títulos contaminados pela insolvência dos tomadores de empréstimos e que serão adquiridos pelos governos, para não permitir a quebra de grandes instituições financeiras, se antes não forem leiloados por valores insignificantes. Embora correto o raciocínio, os efeitos deletérios, todavia, sobre a economia futura, exigirão uma dura política monetária, que implicará, necessariamente, não permitir a expansão dos mercados, para evitar que uma inflação de demanda, reaquecendo a economia, venha a implodir todos os padrões monetários do mundo.
Desta forma, o custo das emissões presentes, para que não impacte, no mundo que sairá da crise, a qualidade das moedas, terá que ser combatido por um processo de enxugamento da quantidade das disponibilidades do meio circulante, o que vale dizer, com controle da demanda reprimida, o que representará, de rigor, alongar a crise por mais algum tempo, tão logo ultrapassada a fase crítica de UTI, em que o mundo ingressou e da qual ainda não saiu e não se sabe quando sairá.
Tenho para mim que a melhor forma de enfrentar a crise depende, fundamentalmente, da vontade política dos governantes de cortarem a fantástica adiposidade que criaram, no que concerne às despesas de custeio lato sensu, que não geram desenvolvimento, assim como de investirem pesadamente na economia, reativando os mecanismos clássicos de versão pública em obras de grande vulto ou sociais habitação popular com o que será mais fácil contrabalançar, no porvir, o enxugamento das disponibilidades de mercado com os investimentos realimentadores da economia.
O certo é que, se todos os governos falharam em perceber a extensão da crise, que se delineava desde começos de 2007, estão agindo com os instrumentos que têm para não permitir que se alastre fora de seu controle. As emissões, todavia, em números ciclópicos, certamente, trarão impactos inflacionários futuros, que já devem começar a ser examinados pelos governos para que não sejam pegos, novamente, de surpresa, como o foram pela crise do sub prime.
Por ter progredido menos que os outros países em pleno boom econômico, o Brasil também está menos exposto a todos os desajustes dos países desenvolvidos, parecendo, o presidente Lula, o famoso capitão da história de Jorge Amado, que mandou lançar as ancôras em frente a um porto, por não saber como atracar, decisão que, todavia, salvou o barco, pois uma tempestade noturna afundou os navios atracados, menos o barco do capitão, por estar fundeado no mar alto.
O certo é que, por termos preservado o sistema financeiro e termos mercado interno em expansão, apesar da queda do valor das commodities e da brutal queda das exportações, estamos, ainda, dentro da crise, mas com melhores condições de dela sair, principalmente, por força de um mercado interno com capacidade de expansão muito superior àquela dos países desenvolvidos.
* Professor emérito das Universidades Mackenzie, UniFMU, Unifieo, Unip, do Ciee-O Estado de S. Paulo, das Escolas de Comando e Estado Maior do Exército (Eceme) e Superior de Guerra (ESG), é presidente do Conselho Superior de Direito da Fecomércio-SP e do Centro de Extensão Universitária (CEU)
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