Direito Internacional

O Fórum Social ao redor do mundo

O Fórum Social ao redor do mundo

 

 

Maria Berenice Dias*

 

 

Todos os brasileiro – principalmente os gaúchos – lastimam sua retirada do Brasil. Afinal, a idéia de globalizar os problemas sociais foi nossa. Porto Alegre sediou suas três primeiras edições, nos anos de 2001 a 2003, bem como a que se realizou em 2005. Em 2004, foi na Índia e em 2006 na Venezuela. Este ano foi a vez do Quênia.

 

Dizer não à opressão e ao neoliberalismo, no mesmo momento em que o chamado G-8, formado pelos países mais poderosos do mundo, comanda uma reunião para discutir problemas econômicos na aprazível Suíça. Assim surgiu o Fórum Social Mundial cujo lema continua o mesmo: “Um outro mundo é possível!”

 

O fato de essa última edição ter sido levada para a África, sabidamente o continente que mais deixa à mostra o desequilíbrio entre ricos e pobres, brancos e negros, teve reflexos quer em sua dimensão numérica, quer na própria estrutura organizacional. A redução do número de participantes nem de longe significou esgotamento do modelo ou esvaziamento da proposta – ideal do fórum. A distância e as limitações econômicas do próprio Quênia dificultaram o acesso dos seus assíduos freqüentadores. Mas o evento enriqueceu-se com a presença dos africanos que jamais teriam como cruzar o planeta e contribuir com temas relacionados as suas tão diferentes realidades. As marchas de abertura e de encerramento na favela mais numerosa do mundo foram emblemáticas, pois todos tiveram a oportunidade de ver a cara da miséria.

 

Deficiências outras também existiram. A solenidade de abertura foi em uma praça na zona central de Nairobi onde sequer foi colocada uma faixa alusiva ao evento. Os trabalhos se concentraram em um estádio, a cerca de meia hora da cidade, cujas instalações eram para lá de precárias. Os debates ocorriam nas arquibancadas, que foram cobertas, transformadas em auditórios. Mas não houve qualquer preocupação em pintar, lavar ou ao menos varrer as salas improvisadas que, em sua grande maioria, não contavam com sistema de som. Ao redor do estádio foram erguidas tendas onde foram instaladas as entidades participantes e as representações de alguns países.

 

Quem lá esteve certamente teve enormes dificuldades para conseguir acomodações, encontrar um meio de se deslocar ao local do evento e até mesmo obter uma cópia do programa que se esgotou logo no primeiro dia. Não havia um espaço em que se conseguisse alguma informação. Não se achava uma pessoa que soubesse indicar o local dos encontros, onde não havia qualquer cartaz identificando as reuniões que lá iriam se realizar. Não existiam mapas ou indicações para se encontrar nada.

 

Conclusão: ninguém se achava!

 

Todas essas dificuldades tiveram, no entanto, um efeito muito, muito positivo. Serviu para escancarar as diferenças e evidenciar que o Fórum precisa continuar – seja onde for – pois é indispensável e urgente a construção de uma sociedade mais igual. É o acontecimento de resistência mais importante da atualidade e já mostrou a que veio: a pauta da reunião de Davos não é mais a mesma, os países ricos passaram a discutir os problemas sociais da humanidade. Sem dúvida uma mudança provocada pelo grito daqueles que se reúnem sem medo de mostrar suas mazelas, mas com a esperança de que outro mundo é possível.

 

 

 

* Ex-desembargadora do TJ/RS. Vice-Presidente Nacional do IBDFAM

 

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Como citar e referenciar este artigo:
DIAS, Maria Berenice. O Fórum Social ao redor do mundo. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2009. Disponível em: https://investidura.com.br/artigos/direito-internacional/o-forum-social-ao-redor-do-mundo/ Acesso em: 13 mai. 2025