Judiciário

O Drama da 1ª Instância e a Evasão de Magistrados…

 

O Consultor Jurídico (www.conjur.com.br) publicou, em 10/05/2008, um artigo de autoria de MARCELO AULER intitulado Culpa da burocracia – Não sou preguiçoso, diz juiz que não sentencia há dois anos.

 

No setor de Comentários a esse artigo a jornalista ANA D’ANGELO anotou sua opinião nos seguintes termos:

 

      É público e notório que a carga de trabalho de cada juiz de primeira instância é monstruosa. Por causa disso, alguns têm trocado a carreira pela do Ministério Público Federal (no último concurso, os primeiros colocados eram juízes federais). Enquanto isso, a cúpula do Judiciário insiste em gastar dinheiro público com palácios suntuosos como a construção do novo TRF1, com gabinetes de desembargador equivalentes ao tamanho de seis, sete apartamentos de famílias de classe média, enquanto a primeira instância funciona em condições ruins. Os processos estão espalhados em repartições de primeira instância que gritam por reformas. No Rio, a situação é mais grave ainda. Que os juízes atuais – mesmo querendo – não dão conta de desovar todos os processos é fato. Só não vejo muito interesse em resolver a situação. Só vejo muita pompa de parte da cúpula.

 

Extraí do texto da jornalista duas afirmações para breves comentários: 1) evasão de magistrados; 2) pompa de parte da cúpula do Judiciário.

 

Quanto ao tópico nº 1:

 

Eu e grande número dos juízes somos egressos do Ministério Público.

 

Pessoalmente, não conheço ninguém que tivesse feito o caminho inverso, ou seja, depois de ser juiz, tenha ingressado no Ministério Público.

 

A informação de ANA D’ANGELO me causou muita surpresa: alguns magistrados da 1ª instância teriam mudado de profissão por causa da sobrecarga de trabalho…

 

É de se ponderar que a sobrecarga de trabalho existe igualmente na 2ª, 3ª e 4ª instâncias, aliás, crescendo em progressão geométrica à medida que se sobe na hierarquia da carreira.

 

Pessoalmente entendo, com todo o respeito aos que mudaram de profissão, que realmente não eram magistrados vocacionados.

 

A respeito do tópico nº 2:

 

Não convivo com os colegas das instâncias superiores. Todavia, pelo pouco que conheço dos desembargadores do TJMG, acho que eles não têm mordomias superiores ao mínimo suficiente para o desempenho de suas atividades.

 

A verba orçamentária destinada ao Judiciário mineiro, por exemplo, é insuficiente para atender às necessidades da 1ª e da 2ª instâncias.

 

E, ademais, o gasto com pessoal não pode ultrapassar a um teto que não é o ideal. Atualmente, só o fato de não mais se permitir o nepotismo já representa uma grande conquista para o serviço público da Justiça.

 

Quanto aos recursos tecnológicos e materiais não atendem às necessidades, nem de longe, por culpa do orçamento apertado.

 

Acresça-se a isso o aumento incontrolável do número de processos.

 

E, para piorar a situação, aparecem conclusões desarrazoadas como o da jornalista…

 

 

* Luiz Guilherme Marques, Juiz de Direito da 2ª Vara Cível de Juiz de Fora (MG).

Como citar e referenciar este artigo:
MARQUES, Luiz Guilherme. O Drama da 1ª Instância e a Evasão de Magistrados…. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2009. Disponível em: https://investidura.com.br/artigos/judiciario/o-drama-da-1o-instancia-e-a-evasao-de-magistrados/ Acesso em: 05 jul. 2025