Direito Eleitoral

Propaganda, Egolatria, Fatos e Voto

Propaganda, Egolatria, Fatos e Voto

 

 

Deoclécio Galimberti*

 

 

            Qualquer meio de comunicação que se consulte sempre há propaganda do governo. É incensurável que se faça divulgação, porém não é admissível e atenta contra o bom senso o exagero, tanto assim que nestes últimos anos houve um abismal acréscimo.  Os gastos despendidos nos oito anos da administração anterior chegou a R$3,005 bilhões e, na atual, até 2008, o Tesouro Nacional já desembolsou R$6,300 bilhões, sem contarmos a propaganda indireta dos organismos estatais (Petrobrás, BNDES etc), para dizer que o Brasil é “um país de todos”.

 

            A finalidade de qualquer administração é proporcionar o bem-estar do povo, principalmente nos itens concernentes à educação, saúde, segurança e obras de infraestrutura. Verifica-se, porém, que a propaganda vem crescendo de forma geométrica, em contraste com a efetiva prestação dos serviços públicos. A própria mídia, ao mesmo tempo em que estampa matéria paga pelo governo, registra pessoas morrendo em filas de hospitais, jovens drogados, roubos e a desmesurada prática de infrações penais, em decorrência da falta de verbas e da ineficaz segurança oferecida pela administração pública.

 

Essa situação, que afeta as instituições numa crise de identidade, impõe-nos a perder o respeito pela verdade que nos é mostrada como tal e a pesquisar a plena realidade, sob pena de sermos levados a emitir uma opinião errada. Serve de exemplo o que ocorreu em Honduras. Toda imprensa condenou a deposição do presidente de Honduras como golpe de Estado, merecendo de nosso primeiro mandatário apoio a Manuel Zelaya. No entanto, sabe-se que ele queria se perpetuar na chefia da Nação. Para tanto, convocara um plebiscito para mudar a Constituição viabilizando sua reeleição; a consulta sequer teve apoio de seu partido, foi rejeitada pelo Legislativo e indeferida em recurso ao Judiciário.  Assim mesmo, Zelaya marcou o plebiscito e como a Carta hondurenha não prevê o impeachment para o crime de responsabilidade, os militares no dia marcado para o referendo o destituíram e entregaram o Poder ao sucessor de direito.

 

            O comportamento de Zelaya é um exemplo de egolatria, espécie derivada da mediocridade de que estão dotados alguns políticos ocidentais. A maioria da imprensa não retratou o fato com fidelidade, à luz da legislação hondurenha, daí o mal que faz o juízo apressado de qualquer notícia.

 

Infelizmente, no Brasil, estamos vivenciando uma verdadeira guerra de acusações – denúncias recíprocas de comportamento entre membros do Congresso Nacional, acusações a governadores,     desentendimentos entre integrantes do Judiciário e corrupção endêmica no Executivo. Contudo, não podemos firmar qualquer posição, sem que antes estejamos bem inteirados dos fatos a fim de formarmos um juízo de valor. Portanto, enquanto nossos políticos não se compreenderem e não se tolerarem uns aos outros, sem adotarem um agir humano despido de qualquer arrimo de armas e agressividade, a  melhor resposta que poderemos dar é, doravante, sufragarmos nas eleições somente pessoas que mereçam nossa absoluta confiança e que estejam aptas a exercer o cargo disputado. O voto é a arma mais eficaz de que dispomos para um Brasil melhor.

 

* Doutor em Direito

Como citar e referenciar este artigo:
GALIMBERTI, Deoclécio. Propaganda, Egolatria, Fatos e Voto. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2009. Disponível em: https://investidura.com.br/artigos/eleitoral/propaganda-egolatria-fatos-e-voto/ Acesso em: 25 abr. 2024