Baseado nas sábias lições de Piero Calamandrei e Francesco Carnelutti, Antônio Cavalcante da Costa Neto busca desmistificar a profissão do advogado, mostrando que, a despeito do senso comum, é possível compatibilizar ética com advocacia.
Primeiramente, cita uma passagem do livro “Eles, os juízes, vistos por um advogado” de Calamandrei, em que um magistrado vê o causídico como alguém que fala demais, que não se interessa pelo cliente e mentiroso. Diante disso, divide seu artigo em três partes, onde debate as críticas do fictício juiz criado pelo mestre italiano e conclui com o capítulo “O advogado e a ética”.
Quanto à relação do advogado com as palavras, deixa claro o escritor que essas são o instrumento de trabalho daqueles. Assim, para ser um bom profissional é imperativo o conhecimento da língua e da oratória, bem como utilizá-las com moderação, visto que os excessos podem até comprometer a defesa do cliente.
Menciona o autor que muitas pessoas acreditam ser o advogado uma “ave de rapina”. No entanto, esquecem que, a exemplo de médicos que cobram por uma consulta ou cirurgia, também o fazer os procuradores. Tal excelente comparação acaba por afastar quase que por completo a tese infeliz de que o advogado está apenas interessado no dinheiro.
Aduz, ainda, o escritor sobre a questão da verdade nos processos. Lembrando os ensinamentos dos mestres italianos, explica que não há uma verdade única, ao menos três. Ademais, podem os sentidos confundir as pessoas e desviar sua impressão do que ocorreu. Tais fatos, contudo, não autorizam o advogado a tornar legítima toda e qualquer versão, sob pena de violar a ética.
No último capítulo, deixa claro que a conduta ética de um advogado é perfeitamente compatível com o sucesso profissional, visto que o Ordenamento Jurídico Pátrio pauta o processo nos deveres de lealdade e boa-fé.
Assim, conclui que a conduta ética do advogado é tentar pensar com alteridade, isto é, pensar no outro. Este que pode ser o cliente, o magistrado, a outra parte.
De forma geral, o texto é bem escrito, com boa bibliografia, e traz algumas ideias que vão além do senso comum, o que faz com que o leitor reflita. O ponto negativo é que o último capítulo se misturou com a conclusão que deveria ter sido feita à parte, obedecendo os padrões da escrita.
REFERÊNCIA
COSTA NETO, Antônio Cavalcante da. Socorro! Um advogado! (breves considerações sobre a Ética do advogado). Jus Navigandi, Teresina, ano 4, n. 46, out. 2000. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=288>. Acesso em: 10 nov. 2009.