O deputado Dado Cherem (PSDB), após denúncias de suposto desvio de mais de R$ 3 milhões de dinheiro público no Hospital Ruth Cardoso, de Balneário Camboriú, fará dois encaminhamentos na Assembleia Legislativa.
O primeiro será informar aos membros da Comissão de Saúde da Assembleia para que tomem conhecimento dos supostos desvios de recursos naquela instituição, que contabilizou 176 mortes no período de seis meses.
A segunda medida será convidar os membros da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) criada na Câmara de Vereadores de Balneário Camboriú para se manifestarem na Assembleia sobre o caso.
?O governo de Balneário Camboriú deve explicações urgentes. A cidade e sua população não merecem passar por isto. O sentimento é de indignação sobre essa bandalheira e esse desvio milionário que vemos estampado nos jornais?, afirmou Dado Cherem.
Depois de dois meses de trabalho, a CPI finalizou a tomada de depoimentos. O relatório comprova irregularidades na administração e desvio de finalidade do gasto do dinheiro público. Amanhã, dia 26, o relatório entrará na pauta para, se necessário, receber emendas e, em seguida, ser apreciado pelos vereadores.
?A conclusão é que se instaurou uma quadrilha no Ruth Cardoso com a finalidade de obter lucro com o sofrimento do povo. Espero que haja imparcialidade política, porque não temos que proteger nenhum criminoso?, assegurou o presidente da CPI, vereador Claudir Maciel (PSD).
DENÚNCIAS ESTAMPADAS NOS JORNAIS
Nas edições do final de semana e desta segunda-feira o Diarinho do Litoral traz extensa reportagem com detalhes sobre como foram desviados mais de R$ 3 milhões do Hospital Ruth Cardoso pela Cruz Vermelha, organização contratada para gerir o Hospital.
Na reportagem o jornalista Cláudio Eduardo Souza entrevistou uma pessoa que trabalha há mais de três anos nos projetos da Cruz Vermelha Brasileira e contou tudo o que sabia sobre o esquema milionário de desvio do dinheiro público que se instalou em Balneário Camboriú, mas que não se restringe ao município do litoral catarinense.
?Anderson Marcelo Choucino é apontado como o cabeça que, para vingar no Ruth Cardoso, contou com a participação de autoridades do município. João – nome fictício usado para preservar a identidade da pessoa – apontou quatro nomes como sendo os principais responsáveis pela falcatrua: Anderson Marcelo Choucino, Marcos Roberto Romero Sanches, Fernando José Mesquita e Marco Fatuch. Segundo João, todo o esquema foi facilitado conforme, pelo caminho, cooptavam outras pessoas. A vaidade, a negligência e a ambição fizeram com que o grupo aumentasse. E, em Balneário, no comando do hospital municipal Ruth Cardoso, não foi preciso um ano para que o desfalque tomasse proporções escandalosas: 176 mortes em seis meses, desvio de quase 25% dos mais de R$ 12 milhões injetados pelo município para serem aplicados na unidade, dois inquéritos instaurados pelo Ministério Público, decretada a intervenção, aberta uma CPI na Câmara de Vereadores. Colocaram o Ruth Cardoso na UTI?.
A reportagem ainda aponta a participação de cada um no esquema em Balneário Camboriú. Destaca, principalmente, a postura de duas lideranças no município que acabaram facilitando a ação do grupo: José Roberto Spósito (PMDB) ? que era secretário de Saúde até o fim de março deste ano e ainda presidia a comissão de Acompanhamento e Avaliação do Ruth Cardoso ? e o presidente do conselho Municipal de Saúde (Comus), Luiz Fernando Brito, que também era membro da comissão que fiscalizava o hospital. Os dois, além de saberem de tudo, colaboravam e tiravam vantagens, segundo João. Ele ainda acrescenta que o gestor do fundo Municipal de Saúde (responsável pela liberação do dinheiro), Rafael Schroeder (PMDB), que assumiu a pasta depois que Spósito se afastou, sabia de tudo. E pecou pelo silêncio. Quanto ao prefeito Edson Periquito (PMDB), João isenta de qualquer culpa com relação ao desvio de dinheiro público. Diz que a falha do prefeito foi o interesse político, ao forçar a contratação de pessoas indicadas por ele para ocupar cargos dentro do hospital?.
A prefeitura contratou uma auditoria para averiguar o contrato de gestão com a Cruz Vermelha que revelou mais irregularidades:
? Utilização de recursos públicos para o pagamento de passagens aéreas, alimentação, táxi e hospedagem. Em alguns casos, as notas fiscais confirmam o consumo de pratos sofisticados, fora outras notas de restaurantes luxuosos de Jurerê Internacional, em Florianópolis;
? Contratação irregular de profissionais autônomos, como, por exemplo, um assador de chester;
? Compra de uma fragmentadora de papel, em caráter de urgência, no dia 13 de abril deste ano. O equipamento foi localizado no departamento financeiro do hospital e, na justificativa informada na solicitação de compras, consta: ?para destruir documentos confidenciais?;
? Documentos fiscais em branco, localizados no departamento financeiro do Ruth Cardoso, que poderiam ser preenchidos nos termos e valores que bem entendessem;
? Pagamento de amostra grátis confirmado pelos comprovantes no valor total de R$ 6,9 mil;
? Pagamento do seguro de um Chevrolet S10, no valor de R$ 1.508,72. Pelo boleto, o carro estaria no nome de Luis Fernando Motta Rodrigues, que tem como endereço o mesmo da Cruz Vermelha Brasileira no Rio de Janeiro.
Apesar de o Ministério Público ter instaurado dois inquéritos sobre o caso, Deputado Dado Cherem acredita que é preciso fazer com que todas as irregularidades sejam apuradas e os responsáveis punidos.
?Os atuais administradores prometeram uma revolução na saúde em Balneário Camboriú. Para nossa perplexidade a única revolução que vemos é incompetência e desvio de milhões de reais do sistema de saúde. Uma tragédia?, pontuou.
Fonte: AL/SC
