João Baptista Herkenhoff
No Dia Nacional do Fotógrafo, que acabou de transcorrer, creio ser justo homenagear esses profissionais, cujo trabalho é tão útil à sociedade.
Comecemos pelo repórter fotográfico. Como as notícias seriam insossas se as palavras não fossem acompanhadas por imagens. Em algumas situações, a imagem diz quase tudo e o texto é apenas um complemento da mensagem.
Enquanto a fotografia jornalística dirige-se a milhares ou milhões de espectadores, a fotografia pessoal ou familiar restringe-se às pessoas abarcadas pelo acontecimento registrado, seja um batizado, um casamento, uma viagem ou outro evento personalíssimo. Nestas hipóteses de uso doméstico, a fotografia eterniza o momento e permite que seja relembrado com emoção e ternura por anos a fio e até ultrapassando gerações.
Neste artigo quero homenagear um fotógrafo em particular, um fotógrafo de fama internacional, nascido no Brasil. Trata-se de Sebastião Salgado.
Sebastião Salgado foi reconhecido pelos grandes críticos da arte fotográfica, como alguém que foi capaz de produzir fotos de mérito singular. Muitos especialistas consideram-no “primus inter pares”.
Além de exímio artista, Sebastião Salgado fez da fotografia instrumento de afirmação de valores humanistas e de denúncia de tudo aquilo que agride a dignidade humana. Cito algumas de suas obras inspiradas nessa direção:
a) documentou fotograficamente a seca no Norte da África, num trabalho realizado em colaboração com a ONG “Médicos sem Fronteiras”;
b) também documentou, com a cooperação UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância), o drama de crianças vitimadas pela fome, em várias partes do mundo;
c) testemunhou através da fotografia os grandes flagelos que vitimam multidões empobrecidas: trabalhadores sem terra, migrantes, refugiados;
d) produziu grandioso documentário sobre o desalojamento em massa de hordas de seres humanos.
Longe de cair em depressão ao concluir essas tarefas, Sebastião Salgado acenou para a Esperança:
“Mais do que nunca, sinto que a raça humana é somente uma. Há diferenças de cores, línguas, culturas e oportunidades, mas os sentimentos e reações das pessoas são semelhantes. Pessoas fogem das guerras para escapar da morte, migram para melhorar sua sorte, constroem novas vidas em terras estrangeiras, adaptam-se a situações extremas…”
Salgado tinha consciência de que sua arte estava ligada a sua condição de brasileiro. Declarou numa entrevista:
“Venho de um país subdesenvolvido onde os problemas sociais são muito intensos. E assim torna-se inevitável que as minhas fotos reflitam isso. Creio que exista uma forma latino- americana de ver o mundo”.
João Baptista Herkenhoff é Juiz de Direito aposentado (ES) e escritor. E-mail: jbherkenhoff@uol.com.br