Dilma Rousseff cassada fecha um ciclo de expansão das esquerdas brasileiras, que tentaram implantar a revolução pelo voto. É preciso dizer que o PT quase conseguiu, faltou apenas o passo decisivo para controlar o Congresso Nacional. Fracassou, todavia. Na tentativa de subjugar Parlamento, o PT inventou o mensalão e o petrolão, apostou forte na via da corrupção como atalho para o poder total. Diga-se que é preciso muita incompetência para pôr 2/3 do parlamento contra si, sendo o partido governante. O descalabro administrativo foi decisivo.
Certo que o PT falhou porque acidentalidades ocorreram, trazendo a público a desfaçatez política. Primeiro, com Roberto Jefferson, um sócio menor do poder petista que por picuinhas resolveu botar a boca no trombone e gostou do palco denuncista. Derrubou José Dirceu e a cúpula do PT, abrindo o caminho para que a Operação Lava-Jato, que nasceu também de um fato fortuito, empreendesse a mais espetacular ação contra a corrupção da história do Brasil. As acidentalidades tiveram o papel catalizador de unir os brasileiros de bem contra as falcatruas petistas. A Justiça fez seu papel, aí incluído o STF, tão sujeito a críticas, mas que, nos momentos decisivos, cumpriu a lei.
Um passo decisivo para o isolamento da presidente Dilma Rousseff foi a forma como ela se comportou após ser reeleita, não percebendo que o país estava dividido e que sua eleição tinha um viés de representação, ou seja, ela não era uma governante legítima porque usou de expedientes repudiados pelos formadores de opinião. Ao contrário de fazer uma realista análise do cenário, ela se comportou como se tivesse ganho o mandato para cumprir a sua plataforma revolucionária. Erro colossal cometeu ao tentar fazer presidente da Câmara dos Deputados um camarada seu, contra a força objetiva que representava o PMDB naquela Casa, que acabou por eleger Eduardo Cunha. Este, empossado, arquivou in limine a agenda revolucionária da presidente. A beligerância se intensificou entre os poderes. Dilma Rousseff não percebeu que precisava recuar para administrar o dia a dia.
A crise econômica, nascida da imperícia e da incompetência dos gestores do PT, bem como da farta irresponsabilidade fiscal praticada para pagar a sua reeleição, agravou-se veloz, levando a presidente a amargar as mais baixas taxas de popularidades de um governante da história da República. Ela foi o motor que levou as multidões às ruas contra o seu governo, juntamente com a crescente indignação provocada pelas revelações paulatinas da devastadora indústria de corrupção. Crise econômica e crise moral de mãos dadas foram construir a maioria que cristalizou a possibilidade de impeachment. Dilma Rousseff e o PT voltaram aos gueto originário de minoria ativista perigosa, que tentava impor aos brasileiros sua visão de mundo estreita, nela moldando as leis e as instituições. A repulsa se converteu na vontade majoritária do Parlamento.
A aliança que sustentou o PT no poder incluía o Centrão patrimonialista que, saciado em suas demandas, deixou o projeto de poder prosperar sem maior preocupação. Esse mesmo Centrão corrige agora o seu erro ao impor ele mesmo a saída da presidente, dando voz e expressão política à maioria da Nação. O PMDB é o partido símbolo dessa aliança e também da derrocada do PT.
Um capítulo particular foi o comportamento da chamada bancada evangélica, que se colocou firme na oposição à revolução cultural e retirou seu apoio ao PT. Este jamais quis abrir mão de sua visão política aloprada e, ao não fazê-lo, pôs contra si aqueles que se declaram cristãos. A dubiedade ficou por conta da Igreja Católica, cuja cúpula está alinhada com o PT, embora seus membros leigos repudiem fortemente o partido que é a própria expressão da cultura da morte. A bancada evangélica fez a diferença e ocupou o lugar que outrora ocupavam aqueles que eram oriundos da ortodoxia católica.
O aparente paradoxo é que partidos de esquerda estão também apoiando o impeachment, como o PSB e o PSOL. Ocorre que nem toda esquerda é composta por aloprados e cúmplices da corrupção. A sociedade brasileira tem largo segmento que adota a visão esquerdista, mas de forma alguma pactua com as mazelas praticas pelo PT. O novo governo que se instalará tem que levar em conta esse segmento, sob pena de se isolar e não representar a totalidade dos brasileiros. A saída de Dilma Rousseff não é a saída da esquerda do cenário político, apenas da sua ala petista. Michel Temer certamente sabe disso e terá sabedoria se levar em conta essa realidade.
Não obstante, a saída do PT ensejará uma imediata melhoria nas condições políticas, permitindo que sejam tomadas as decisões necessárias para reorganizar a economia. O PT era mais do que um estorvo, era um agente nocivo, que compelia os agentes econômicos para a desconfiança e a fuga do Brasil. A nova realidade permitirá instantânea sensação de alívio, pois o grande parasita que enfraquecia o organismo econômico nacional foi afastado. Uma gestão minimamente eficaz de Michel Temer poderá trazer um grande bem de forma rápida.
O futuro do PT é se tornar essa minoria ativista que sempre foi, talvez mais radicalizada e mais raivosa. Quanto mais radicalizada e raivosa mais perderá votos e mais minoria será. Será um partido nanico e irrelevantes, especialmente se Lula e Dilma Rousseff vierem a ser apenados pela Justiça. Seu projeto político fracassou.
Vimos o triunfo da democracia e o que eu achava mais improvável, a saída não violenta do PT do poder, está acontecendo. A Câmara dos Deputados fez a sua parte, a elite política repudiou a revolução do PT. Melhor assim.
Quem viver verá.
www.nivaldocordeiro.net – 17/04/2016