Visão Liberal

O PT e o ajuste fiscal

Ontem a Câmara de Deputados aprovou a Medida Provisória 665, que reduz benefícios trabalhistas e impõe arrocho contra os trabalhadores. A própria edição da Medida Provisória mostra a grande contradição que é intrínseca ao PT. De um lado, denuncia o “neoliberalismo” supostamente por esse ser contra os trabalhadores, fazendo discurso populista sobre temas econômicos complexos. Do outro, praticou uma medida saneadora necessária, pois que o modelo desenvolvimentista adotado pela presidente Dilma Rousseff esgotou-se em meio à mais grave crise econômica desde 1930. O princípio de realidade triunfou sobre o discurso populista. No último programa do PT Lula ainda vociferava suas palavras de ordem de 30 anos atrás, mas foram palavras ao vento, sem influir nas decisões tomadas.

Por que esse fato se reveste de particular importância? Porque comprova aquilo que tenho escrito e dito em vídeos: a eleição legislativa de 2014 deslocou fortemente o eixo de poder para o campo da centro-direita, sendo a pessoa de Eduardo Cunha na presidência a expressão dessa mudança na correlação das forças políticas em ação. O PMDB fez duas coisas que contrariaram fortemente o PT, que queria ficar na sombra e não assumir o ônus do ajuste fiscal. Por primeiro, impôs ao PT que se definisse claramente sobre a questão, o que foi feito muito a contragosto. Depois, o presidente Eduardo Cunha impôs votação nominal para a matéria, impedindo que os petistas ficassem no conforto do anonimato.

Viu-se que a bancada petista apoiou o arrocho, pois esse é inevitável, tendo que assumir o ônus diante da opinião pública.

Aqui de novo fica claro que a lei da escassez se impôs aos irresponsáveis que propagandeiam as promessas impossíveis de uma sociedade de abundância sem correspondente esforço de trabalho. É um passo importante, pois leva o governo na direção daquilo que se espera do poder público. Se a indústria está sendo destruída e as contas externas estão em frangalhos é porque, nas últimas décadas, paulatinamente foram se ampliando “direitos” que se somaram ao Custo Brasil e inviabilizaram a competitividade. O PT nada mais é do que sindicalistas no poder e Lula impôs a lógica do dirigente sindical ao seu período de governante, assim como o fez Dilma Rousseff.

Não dá para ser governo e, ao mesmo tempo, entoar um discurso de oposição ao “neoliberalismo” e ao capitalismo. A atuação correta do governo, protegendo as instituições do livre mercado e combatendo o déficit público, ao fazer a consistência da receita e da despesa, é essencial para que a vida prática funcione e as pessoas possam, desembaraçadamente, procurar o melhor para si. Destruir o mercado é o mesmo que destruir a condição de sobrevivência do povo.

O problema é que a veia revolucionária que move o PT o joga na tentação de seguir o caminho oposto. Foi preciso que se instalasse a maior crise das últimas décadas para que a política econômica fosse modificada e a sensatez recolocada no comando do Ministério da Fazenda. Mas estamos apenas no começo e só uma medida provisória foi aprovada. Veremos o que ocorrerá na sequência.

Da mesma forma, temos a necessidade do enfrentamento do déficit na Previdência Social, que só será feito contrariando frontalmente os aposentados. É imperativo elevar a idade mínima para aposentadoria. É obrigatório estabilizar a base de remuneração. Qualquer elevação adicional de proventos poderá precipitar a quebra do sistema. É claro que os discursos do PT, desde sempre, foram em sentido contrário, como se não houvesse limitação de recursos. Obviamente que a atual política de elevação do salário mínimo não pode ser mantida, o que custará muito caro ao próprio PT. Certamente será o seu bilhete de saída do poder.

Viu-se, mais uma vez, que a base governista (leia-se: o PMDB) apoia sempre o governo nos atos necessários de gestão, mas deixou de acompanhar o partido governante nos temas de sua agenda revolucionária. Esse é o fato novo alvissareiro. É isso que permite vislumbrar a saída da crise, preservando-se a ordem democrática. A trajetória anterior de exaltação à irresponsabilidade fiscal levava a um beco sem saída.

Nunca é demais exaltar a figura do presidente Eduardo Cunha na condução do processo. Tem sido brilhante. A aprovação da PEC da bengala foi um golpe mortal às pretensões hegemônicas do PT, que não mais poderá indicar apaniguados seus para compor o STF e outros tribunais superiores. Foi uma decisão de grande envergadura e mostrou ao PT quem manda no Parlamento.

Graças a Deus que tem sido assim, que as loucuras revolucionárias do PT enfim tiveram a trava necessária. A crise econômica veio depois das eleições, o que significa que a irritação do eleitorado com o PT só cresceu desde então. É de se esperar que nas próximas eleições o partido governante sofra grande derrota.

Quem viver verá.

www.nivaldocordeiro.net – 07/05/2015

Como citar e referenciar este artigo:
CORDEIRO, Nivaldo. O PT e o ajuste fiscal. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2015. Disponível em: https://investidura.com.br/colunas/visao-liberal/o-pt-e-o-ajuste-fiscal/ Acesso em: 21 nov. 2024