Não foi surpresa para mim a vitória espetacular do Brexit (contração das palavras Britain e exit) no referendo inglês, selando a saída do Reino Unido da União Europeia. As análises que li dos defensores da permanência antes e depois da derrota foram ridículas: o terrorismo econômico falsificado a uma acusação sempre recorrente de refeudalização da Europa, quando na verdade não foi nada disso. Os britânicos como sempre fizeram prevalecer a razão e evitaram o mergulho do mundo (sim, seu exemplo vai ser seguido) na aventura do governo mundial, controlado por uma burocracia fria e insensível e com vocação de ditadura permanente.
O argumento pela permanência ressoa à obra de Ortega y Gasset, que nos anos Trinta já propunha a tese. Ortega era um estóico e, como tal, via com bons olhos o projeto de governo mundial controlado por uma elite esclarecida, mas via mais ainda na união europeia a possibilidade de fortalecer seus povos diante do vigor norte-americano e das antigas colônias, que mais das vezes se tornaram sociedades e economias mais fortes e complexas do que seus antigos colonizadores. O filósofo espanhol identificava a civilização com a Europa, numa miopia típica de períodos de transição. No pós guerra pudemos ver as florescentes economias colonizadas prosperarem com grande velocidade, inclusive o Brasil, a Índia, a China e o caso único e hegemônico dos EUA. A Europa era apenas mais um conjunto de nações como as outras.
Desde o Clube de Roma, passando pelo Tratado de Maastricht e suas imitações mundo a fora, como o Mercosul, parecia que esse era o caminho lógico e inevitável. Parecia… A experiência da União Europeia se mostrou um projeto abstrato de engenharia social, criando uma burocracia centralizadora e distante da fonte real de legitimidade de qualquer governante, o consentimento de seus cidadão. O acúmulo das tensões evoluiu para a abertura franca das fronteiras para imigrantes, especialmente islamitas. A invasão civil da Europa pelo Islã terá sido o erro estratégico mais óbvio e insustentável do projeto europeu e é difícil imaginar como aqueles países vão se livrar dos quistos populacionais estranhos em seus territórios. Mas a invasão se deu também com povos de outra origem, inclusive dos brasileiros, que fizeram de Portugal e da Itália corredores de passagem para seu destino final, mais das vezes o Reino Unido.
Nunca é demais repetir que o Inglaterra é para os ingleses, como a Itália é para os italianos e a Alemanha é para os alemães. Esse é o genuíno sentimento das gentes. O pano de fundo desse embate é o cristianismo, que mesmo em crise e administrado por ateus ainda mantém seu liame civilizacional. O Ocidente é cristão, antes de ser ateu e nunca será islâmico. Religião é algo mais sério do que pensam os ateus.
Um dos argumentos favoritos dos integracionistas estava no campo econômico, quando se sabe que isso é mistificação. Os que querem a saída do bloco europeu não querem o isolamento econômico, querem a integração, mas sem a submissão política. Afinal, a consolidação da União Europeia significaria a renúncia à soberania e portanto, do fundamento último da liberdade individual. Um império mundial será sempre uma ditadura e um corpo estranho para as nações e suas gentes. Portanto, o terrorismo econômico alardeado não passa de retórica vazia de quem não tinha melhores argumentos para convencer os eleitores.
A Inglaterra já havia logrado a integração econômica do mundo muito antes de monstros burocrático-políticos como a União Europeia terem sido imaginados. O Estado-nação é a perenidade da antiga pólis, sempre ameaçada por alguma forma de império mundial.
Hoje o mundo amanheceu melhor e mais livre. Os britânicos ainda uma vez deram ao mundo um exemplo de altiva liberdade. Uma questão de tempo que outros países sigam o exemplo. É um dia histórico, a comemorar. A decisão afetará toda a humanidade no caminho do bem e no evitar do mal.
www.nivaldocordeiro.com.br – 24/06/2016