Visão Liberal

José Serra, o Antiquado

O artigo de hoje de José Serra (A nova vanguarda do atraso), publicado no Estadão, revela porque ele perdeu as eleições e
porque seu partido deixou de ser uma alternativa política e eleitoral para os brasileiros. José Serra continua escravo das velhas e ultrapassadas
idéias cepalinas e quer com ela construir um discurso oposicionista, supostamente técnico, contra o que chama de lulopetismo. Serra quer ser a esquerda
da esquerda, enquanto que a esquerda o enxerga como a direita da esquerda, por força das administrações do seu partido.

Desde logo digo que o único discurso capaz de tirar o PT do poder é o conservador, na linha do Partido Popular da Espanha ou do Partido Republicano dos
EUA. É o tempo de caminhar para a direita. Sobretudo no Brasil, onde o campo esquerdista está completamente congestionado. Até o Guilherme Afif
Domingos entrou na canoa que apóia o PT. A bandeira conservadora está sem dono e sem mestre. E ela aponta para o futuro.

No artigo, José Serra insiste no discurso técnico-econômico, quando o que se sobressai diante do eleitorado órfão é o discurso na esfera dos valores. É
a bandeira dos costumes que pesa, o combate à tese do aborto, a defesa franca dos valores cristãos, uma consistente defesa da minarquia, o cultivo da
sociedade aberta e livre das amarras estatais. Mas tudo isso soaria falso em José Serra. No artigo, até que ele ensaiou ir contra a carga tributária
exorbitante paga pela indústria, a seu ver “elevada e distorcida”. Com que autoridade um socialista fala contra a carga tributária elevada? Se o PSDB a
elevou brutalmente? Se o próprio José Serra é um crente na função distribuidora de renda do Estado?

Essas palavras soam falsas e oportunistas. Seria diferente se o próprio José Serra viesse a público fazer um profissão de fé na economia liberal. No
fundo, o artigo não propõe uma redução geral na carga tributária, mas um alívio na indústria, automaticamente elevando-se em outro setores. Isso é
aumentar as distorções. O que encantaria o eleitorado é a redução geral na carga tributária, não esse artificialismo que propõe.

José Serra tem o apego cepalino à indústria de transformação, herdada do Partido Comunista Brasileiro. Ora, depois da revolução da informática e das
telecomunicações esse discurso, já velho nos anos 50, hoje padece de decrepitude. Uma velharia digna de um museu de paleontologia. Se tem algum apelo
emocional para os integrantes da sua geração, para as novas ele não faz sentido algum. Estamos na era dos serviços, que veio para ficar. Vimos o que
houve nas últimas décadas: os países desenvolvidos enviaram suas indústrias para a China e mesmo o Brasil fez isso, está fazendo isso. O que agrega
valor são os serviços. Ademais, com a carga tributária e a legislação trabalhista estúpida que por aqui temos, mais e mais indústrias serão
reinstaladas na China.

A pobreza teórica do Serra é consoante sua proposição política indigente. Bata ler o seguinte trecho: “Ao se desindustrializar, o País está perdendo a
sua maior conquista econômica do século 20. Estamos a regredir bravamente à economia primário-exportadora do século 19; a médio e a longo prazos, esse
modelo é vulnerável no seu dinamismo, por ser muito dependente do centro (hoje asiático) da economia mundial. Os países com desenvolvimento brilhante
têm sido puxados pela indústria, setor que é o lugar geométrico do progresso tecnológico e da geração dos melhores empregos em relação à média da
economia”. Uma ova: o Brasil perderia se os serviços estivessem estagnados, mas não estão. Esse é um dos fatores legitimadores do PT, que não se
colocou no caminho da corrente principal do processo econômico. Por não se atrapalhar, ele se legitima.

José Serra, com suas idéias antiquadas, se chegar o poder pode inaugurar um período obscurantista de intervenção estatal. E quer justificar essa
indigência como se portasse uma teoria superior. O que ele tem, na verdade, é velharia que já nasceu velha, extemporânea quando Celso Furtado a trouxe
ao mundo. Mais extemporânea ainda nos dias de hoje. José Serra não serve nem para posar de esquerdista.

* José Nivaldo Cordeiro, Executivo, nascido no Ceará. Reside atualmente em São Paulo. Declaradamente liberal, é um respeitado crítico das idéias
coletivistas. É um dos mais relevantes articulistas nacionais do momento, escrevendo artigos diários para diversos jornais e sites nacionais. É Diretor
da ANL – Associação Nacional de Livrarias.

Como citar e referenciar este artigo:
CORDEIRO, José Nivaldo. José Serra, o Antiquado. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2012. Disponível em: https://investidura.com.br/colunas/visao-liberal/jose-serra-o-antiquado/ Acesso em: 10 mar. 2025