Ontem eu olhava os canais de TV e parei vendo a GloboNews, programa Painel. A trinca de “especialistas” (Paulo Francini, Silmão Silber e Juan Jensen),
ancorada por William Waack, debateu no primeiro bloco as decisões européias da semana passada. Todos eles infelizes com a inflexibilidade da senhora
Angela Merckel, que não quer ver o Banco Central europeu transformado em emprestador de última instância e sancionador da irresponsabilidade fiscal dos
parceiros quebrados. Mais que ninguém a Alemanha sabe do valor indelével de uma moeda saudável.
No segundo bloco foi analisada a situação do Brasil. E aqui foi a minha grande surpresa quando Paulo Francini, criticando os demais especialistas,
reclamando da desindustrialização do Brasil, clamou por um “plano” de salvação da indústria nacional. Isso mesmo! O velho e malfadado “plano”, a
varinha de condão de todos os comunistas mundo afora. A Fiesp será talvez a mais vetusta instituição infiltrada pelas teses do Partido Comunista, que
sempre fez do “plano” a mola mestra da ação econômica estatal.
Por que há desindustrialização? Por razões conhecidas: 1- A China, usando da sua imensa reserva de mão de obra, simplesmente deslocou as plantas
industriais do mundo para seu território. Lá o Estado, paradoxalmente, tributa pouco, o mercado de trabalho é desregulamentado e os trabalhadores
ganham bem pouco. Compensa aos empresários atravessar o globo para lá produzir. Isso retirou plantas industriais inteiras do Brasil; 2- A política
cambial do governo do PT descobriu as delícias do câmbio valorizado, ancorando a baixa taxa de inflação. O partido sabe que a perda de controle sobre
os preços pode lhe custar o poder político. Aproveitou o momento favorável dos preços da commodities e afrouxou a política fiscal. O impacto nos preços
só não é corrosivo ainda porque o câmbio segura tudo. Ninguém sabe até quando.
O que o “plano” teria a fazer contra isso? Nada. Paulo Francini e sua Fiesp avalizaram Lula e o PT e não podem pleitear mudanças na política salarial,
bem como na política do mercado de trabalho enrijecido, tão cara aos sindicalistas da base do governo. A inflexibilidade do mercado de trabalho é
total. Não há também como ter surpresas na taxa de câmbio, pois o sistema de metas de inflação tem se mostrado bom para administrar conflitos e
permitido a navegação em meio à crise.
O tal “plano” pleiteado teria portanto o encargo de fazer o que essa gente da Fiespsempre quis e pleiteou: reserva de mercado, barreira tarifária e
subsídios estatais para o suposto “desenvolvimento” industrial. O velho filme dos anos cinqüenta. Claro que os tempos são outros e tal receita não tem
sequer condições de ganhar respeitabilidade política.
Paulo Francini e seus pares não discutem o único caminho possível, o de repensar o Estado social-democrata ossificado, que transformou a população
brasileira em rentistado Estado. A supertributação vem nesse processo, outro vetor a tirar competitividade da indústria nacional. Reduzir a
regulamentação no mercado de trabalho, amenizar a necessidade de financiamento externo pela elevação da taxa de poupança e liberar os forças de mercado
são as únicas bandeiras sensatas, mas Paulo Francini nem opinou sobre essa possibilidade. Ficou apenas no mágico “plano”, como se essa loucura não
tivesse sido completamente desmoralizada desde o naufrágio da ex-URSS.
* José Nivaldo Cordeiro, Executivo, nascido no Ceará. Reside atualmente em São Paulo. Declaradamente liberal, é um respeitado crítico das idéias
coletivistas. É um dos mais relevantes articulistas nacionais do momento, escrevendo artigos diários para diversos jornais e sites nacionais. É Diretor
da ANL – Associação Nacional de Livrarias.