O artigo de José Viegas Filho, publicado na página 3 da Folha de São Paulo (A solução não será dada pelo mercado), embora abra com o correto
diagnóstico de que a crise mundial é profunda e prolongada, revela que o autor está profundamente equivocado quanto a sua etiologia, desde o título.
Comento o artigo para sublinhar que esse erro de diagnóstico do autor é espelho do erro de todo mundo ligado aos partidos de esquerda e à burocracia
estatal. Dizer que a presente crise se dá por causa por falta de “mais” Estado – “mais” regulação – é um engano monumental, é a própria negação do
real.
Escreveu José Viegas Filho: “Recordemos que toda essa situação foi produzida pela euforia das grandes corporações financeiras, que durou até 2008 e nos
levou à crise, sem a “ajuda” de ninguém -nem comunistas, nem terroristas, nem anarquistas, nem operários rebeldes- e na vigência da mais ampla
desregulação e livre-iniciativa”.
Toda a história do século XX foi a acumulação de interferência estatal não apenas na vida econômica, mas em todos os recantos da ação humana, uma
hipertrofia de regulação que fez do Estado o ente transferidor de renda dos que trabalham para legiões de pessoas ou que não trabalham ou que enganam
falsamente empregadas no setor público, onde mais das vezes a produtividade do trabalho é zero. O que podemos ver, especialmente depois dos espasmos
provocados pela crise de 2008, é que a solução “mais” Estado não apenas é contraproducente, mas é inviável. A crise econômica é o espelho do
esgotamento do modelo político social-democrata, hegemônico desde a Segunda Guerra Mundial.
José Viegas Filho aponta a livre iniciativa como causa da crise, uma delas, ao lado da regulação. Ora, quem salvou o mundo da miséria endêmica foi
justamente a livre iniciativa, que inclusive permitiu que essa forma corrompida de poder, que se abriga no rótulo de social-democracia, tenha vindo ao
mundo e persistido por décadas. A social-democracia parasitou os frutos do liberalismo. A presente crise é o esgotamento desse modelo político, que tem
precisamente o dom de sufocar a livre iniciativa. José Viegas Filho escreve como se o Estado e sua burocracia fossem capazes de criar alguma coisa,
agregar algum valor. Criam, isto sim, o reino dos monopólios e da injustiça distribuitiva, penalizando quem trabalha em favor dos parasitas de todos os
matizes. O Estado social-democrata é o reino da distorção ética precisamente porque não respeita méritos.
Achar que a velha fórmula do pós-Guerra ainda é válida é um engano colossal. A crise veio para destruir o que está errado, para despertar a ira dos
injustiçados. O mundo terá que voltar aos valores esquecidos em 1939. O Estado terá que ser reduzido, bem como a sua vasta burocracia. Os regulamentos
terão que cair para dar lugar à liberdade e à livre iniciativa. De novo, o “deixa fazer, deixa passar”. Esta é a fórmula para a superação da crise
atual, tão simples e tão eficiente como se mostra à primeira vista. A engenharia social que a social democracia se quer portadora está esgotada, todo o
keynesianismo deverá ser abolido se as pessoas quiserem voltar à trilha da normalidade econômica e da prosperidade.
Em outros termos, o século XXI precisará descobrir as lições eternas do liberalismo econômico e da sabedoria política conservadora. O delírio do sonho
impossível das esquerdas acabou. A realidade exige o seu lugar na ação dos governantes. A verdade é precisamente o oposto do título doa artigo: A
solução será dada pelo mercado. Exclusivamente.
* José Nivaldo Cordeiro, Executivo, nascido no Ceará. Reside atualmente em São Paulo. Declaradamente liberal, é um respeitado crítico das idéias
coletivistas. É um dos mais relevantes articulistas nacionais do momento, escrevendo artigos diários para diversos jornais e sites nacionais. É Diretor
da ANL – Associação Nacional de Livrarias.