INTRODUÇÃO
O mundo que conhecemos foi palco de guerras diversas vezes, que em sua maioria, envolviam diferentes estados na disputa hegemônica mundial. Assim, podem ser citados eventos como a Primeira Guerra Mundial, Segunda Guerra Mundial e Guerra Fria, como os últimos eventos marcantes envolvendo a disputa pela superioridade no contexto internacional. Nos dias de hoje, ocorre uma guerra comercial, chamada por muitos de uma nova guerra fria, entre os Estados Unidos e a China, as duas maiores potências econômicas no cenário global.
No ramo das Relações Internacionais e do Direito Internacional, existe um preceito denominado teoria da estabilidade hegemônica, onde é afirmado que para existir a estabilidade global, é necessária a figura de um “hegemon”, isto é, uma superpotência que está acima de todas as outras no contexto internacional. Logo, diante da problemática entre EUA e China, caso ocorra o mesmo da antiga guerra fria com a União Soviética, o mundo pode estar com a sua estabilidade ameaçada, ou seja, em risco de uma guerra.
1 – DA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL
Com o fim das guerras promovidas por Napoleão Bonaparte, o sistema internacional começou a se basear no equilíbrio entre as potências europeias. A realização do Congresso de Viena estabeleceu novos rumos para que a hegemonia europeia não se abalasse diante das guerras ocorridas. Então, mudanças drásticas foram realizadas, que inclusive não agradaram muitos países, como a atual Alemanha, que teve seu número de estados reduzidos. A Itália à época, começava a unificação, surgindo como novo estado europeu, não reconhecido como potência.
Com a unificação da Alemanha e da Itália, que eram temidas pelos demais estados da Europa, a sociedade internacional iniciou um aspecto de expansão colonial, onde os países mais fortes exploravam os demais, como ocorreu nas Américas, Ásia e África. Então, para nações recém formadas como a Alemanha e a Itália, ter colônias no continente africano era um prestígio. Para a França, após a derrota na Guerra Franco-Prussiana, a demonstração de poder era imprescindível. Enquanto isso, países como Estados Unidos e Japão ganhavam espaço entre as potências.
Porém, a paz europeia que durou cem anos, havia acabado, perante o começo da Primeira Guerra Mundial. Diversos motivos levaram ao início de um dos maiores conflitos armados da história do planeta. Nesse período, a Rússia, o Império Otomano e a Áustria-Hungria eram observados como candidatos a potências. Além disso, o medo das demais potências com o crescimento alemão era grande, o que ocasionou a formação de uma frente única entre Grã-Bretanha, França e Rússia contra uma possível ascensão da Alemanha.
Contudo, o verdadeiro estopim para o início da Primeira Guerra Mundial fora o assassinato do Arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do trono austro-húngaro, no ano de 1914. O resultado ocorrido foi uma briga generalizada entre diversas nações, divididas entre a Tríplice Aliança (as principais nações foram a Alemanha, Áustria-Hungria, Império Otomano e Itália) e a Tríplice Entente (as principais nações foram a Rússia, Grã-Bretanha e França), onde os países que compuseram a Tríplice Entente se saíram vitoriosos após a assinatura do Tratado de Versalhes e mais de oito milhões de pessoas morreram. (Brasileiro s.d., Pág 126 – 165)
2 – DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL 172
Após a Primeira Guerra Mundial, uma onda de radicalismo político balançou a Europa, com diversos regimes de extrema esquerda e direita. A Itália, começara a estabelecer um regime fascista com Mussolini, com a ocorrência da Revolução Russa, o comunismo ganhava força no país e a Alemanha não encontrava chances de reestabelecer o seu sistema capitalista. Mas, em 1933, chegou ao poder na Alemanha o principal difusor das ideias de Mussolini: Adolf Hitler. A Alemanha anteriormente se encontrava destruída, sem nenhuma esperança de futuro, tendo seu novo governante prometido a mudança, que levaria a Alemanha aos trilhos novamente, instaurando assim, o nacional-socialismo.
O sentimento de revanche diante da perda da Primeira Guerra Mundial, provocado por Hitler, culminado com a crise que Alemanha enfrentava, ocasionou seu crescimento gigantesco, tendo conquistado grande apoio da população. Na Itália, ocorria similar, visto que a Itália também enfrentava uma crise e havia junto com a Alemanha, perdido a guerra. Ocorre que, três anos de governo, mais precisamente no ano de 1936, Hitler já alcançava grandes feitos no poder, em razão do milagre econômico da Alemanha, que conseguiu colocar o país novamente no clube das potências.
A Alemanha começava a derrubar cada imposição do Tratado de Versalhes e com o início da invasão de outros territórios, começava a Segunda Guerra Mundial. O conflito armado durou entre 1939 – 1945, causando 80 milhões de mortes e grandes prejuízos econômicos para o mundo e fora travada por praticamente todos os países do mundo. A Segunda Guerra Mundial pode ser dividida em duas fases.
A primeira ocorreu entre 1939 a 1941, onde os países europeus ainda tentam manter suas relações de modo pacífico, diante dos traumas anteriores, e a guerra é eminentemente europeia, como o ocorreu na I Guerra Mundial. Contudo, a segunda fase, que vai de 1941 até 1945, o conflito se tornou mundializado, com a participação de novos países, particularmente os EUA, URSS e o Japão, e se prenuncia uma nova ordem internacional. (Brasileiro s.d., Pág 172 – 197)
3 – DA GUERRA FRIA
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, a Europa já não era mais o centro do mundo, diante de novas potências no cenário mundial, especialmente no caso dos Estados Unidos e da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, que foram os vencedores menos afetados pela guerra, o que possibilitou um crescimento econômico maior após o conflito. Nascia então, a Organização das Nações Unidas, que foi criada para solucionar os erros anteriores, para o estabelecimento da paz mundial. Um novo modelo de política internacional era formado por URSS e EUA, com um novo tipo de país, a superpotência.
Em razão da briga constante pela hegemonia mundial por parte dos dois novos atores do cenário global, um novo conflito surgira, porém, dessa vez, sem o conflito físico, apenas uma guerra econômico-militar para fins de demonstração de poder, acontecia então a Guerra Fria. O mundo começou a ser dividido em blocos, onde do lado norte-americano era constituída a Organização do Tratado do Atlântico Norte (EUA, França, Grã-Bretanha, Bélgica, Canadá, Dinamarca, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Países Baixos, Noruega e Portugal) e do lado soviético foi criado o Pacto de Varsóvia (URSS, Albânia, Bulgária, Tchecoslováquia, Hungria, Polônia e Romênia).
Na Europa, o lado que era influenciado pelos Estados Unidos era chamado de Europa Ocidental e o lado de influência dos soviéticos era nomeado de Europa Oriental. A divisão dessas partes, entre o lado oriental e ocidental, era chamada de cortina de ferro, que ocasionou a construção do muro de Berlim. Assim, o mundo durante esse período passou por diversas iminências de conflitos militares com bombas nucleares, pois a todo momento os dois países disputavam o controle mundial, como ocorrera na corrida armamentista, corrida espacial, Guerra do Vietnã, entre outros.
Todavia, no ano de 1989, aconteceu a queda do Muro de Berlim, levando ao fim da cortina de ferro e oficialmente, da Guerra Fria. A partir desse momento, os Estados Unidos tomaram a posição de país dominante no cenário internacional. Os conflitos, que antes envolviam boa parte dos países, começaram a ser regionais, mais precisamente no Oriente Médio, entre disputas históricas e religiosas. (Brasileiro s.d., Pág 203 – 222)
4 – DA TEORIA DA ESTABILIDADE HEGEMÔNICA 30 – 31
No âmbito histórico, as relações internacionais são marcadas pela disputa da hegemonia global, que pode ser econômica, militar, cultural ou ideológica. A hegemonia pode ser conceituada como o exercício de uma liderança ou comando em uma sociedade, com base em recursos de poder. Recursos esses que fundamentam-se em dois aspectos: coerção e consenso. Logo, toda relação de poder tem por base os graus de coerção e consenso exercidos por um ente ou mais de um sobre os demais.
Por esse motivo, a sociedade internacional sempre será marcada pela figura de um “hegemon”, isto é, uma nação que queira manter-se no poder, para a garantia da ordem do sistema. Desse modo, de acordo com a teoria da estabilidade hegemônica, quando há um país controlando o sistema mundial, este passa a ser estável, diante de sua liderança. Nos dias de hoje, a figura do hegemon se encontra nas mãos dos Estados Unidos da América, que são a maior potência mundial em termos gerais e desde então, as ameaças de uma possível guerra só ocorreram diante da tentativa de outro país se estabelecer como líder no contexto internacional. (Brasileiro s.d., Pág 30 – 31)
5 – DA GUERRA COMERCIAL COM A CHINA
A nova crise do coronavírus vem trazendo conflitos entre as relações dos Estados Unidos com a China. Em diversas ocasiões, os dois países trocaram acusações em razão da propagação do vírus. Os EUA são detentores do título de maior economia do mundo, logo atrás está a China, forte concorrente dos norte-americanos. A política do presidente Donald Trump tenta frear as empresas chinesas da concorrência com empresas norte-americanas, em uma forma de proteger a economia do país.
No fim do mês de maio do corrente ano, a China informou que está à beira de uma guerra fria com os Estados Unidos[1], devido as acusações feitas por Donald Trump. Os EUA, por sua vez, afirmaram que vão cortar todas as pontes com a China, O Presidente norte-americano escreveu em seu Twitter que “É claro que os Estados Unidos mantêm uma opção política, sob várias condições, de cortar todas as pontes com a China”[2]. As relações entre os países seguem em extrema tensão, sobretudo pelos Estados Unidos serem o país mais afetado pela Covid-19, vírus surgido na China
6 – CONCLUSÃO
É perceptível que a maioria dos confrontos armados da história do mundo ocorreram pela disputa da hegemonia global. Na primeira guerra mundial, Alemanha e Itália, unificadas, buscavam se estabelecer como potência e isso incomodava os demais países, o que ocasionou o conflito pouco tempo depois. A Segunda Guerra Mundial, ocorreu diante de um sentimento de revanche provocados por ditadores na Alemanha e na Itália, que pregavam o fascismo e o nacional-socialismo (nazismo). Ambos os conflitos ocasionaram a morte de milhões de pessoas e o estabelecimento de uma nova ordem mundial.
As potências vencedoras da guerra, que não tiveram seu território comprometido, se sacramentaram como as novas potências. Estados Unidos e União Soviética iniciaram um confronto político-ideológico para assumir a hegemonia mundial, confronto esse denominado Guerra Fria. O mundo observava a possibilidade de uma guerra nuclear acontecer a qualquer momento, em razão da corrida armamentista provocada por ambos os países. No entanto, em 1989, o conflito oficialmente acabou, com o fim da URSS e da cortina de ferro. A partir desse momento, os EUA se estabeleceram como a superpotência hegemônica entre os demais países.
Por esse motivo, a nova “guerra fria”, que pode ser ocasionada entre Estados Unidos e China leva à reflexão acerca da teoria da estabilidade hegemônica. Isso pois, os EUA quando representavam a figura do hegemon, apaziguaram os conflitos armados em nível global, sendo esses ocasionados apenas em determinadas regiões. Contudo, com uma nova ameaça econômica na sociedade internacional, o hegemon teme perder seu posto de líder mundial, o que pode colocar o mundo em perigo novamente. Logo, os Estados Unidos sentem a necessidade de frear todo o qualquer tipo de evolução chinesa, pois isso pode leva-los ao posto de grande potência econômica, ameaçando o hegemon e colocando fim a estabilidade internacional.
Referências
Brasileiro, Instituto Legislativo. Relações Internacionais: Teoria e História. Brasília: Senado Federal, s.d.
Autor:
Pedro Vitor Serodio de Abreu: Acadêmico em Direito pela Universidade Estácio de Sá, Ex-estagiário do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, auxiliar jurídico na área do Direito Empresarial, Família, Sucessões, Consumidor e Previdenciário no escritório CAS Assessoria Jurídica. Formação complementar em Relações Internacionais pela Fundação Getúlio Vargas e pelo Senado Federal, Negociação pela Universidade Estadual do Maranhão, Gestão das Finanças Públicas pela Organização das Nações Unidas e Conselhos de Direitos Humanos pela Escola Nacional de Administração Pública.