Desafios Permanentes
Ives Gandra da Silva Martins*
Paulo Nogueira Neto – talvez o maior ambientalista brasileiro, com notável reconhecimento no exterior e Professor Emérito CIEE-Estado 2005, sobre ter sido secretário nacional do meio-ambiente e o responsável pelo estabelecimento das primeiras 13 estações ecológicas do país e titular da Universidade de São Paulo – tem procurado conscientizar as autoridades brasileiras e mundiais sobre a necessidade real de se examinar o futuro da humanidade, muito além dos acordos tímidos e de conveniência, como os do protocolo de Kyoto ou de Bali.
Afirma que, se a humanidade toda vivesse nos mesmos padrões de consumo dos Estados Unidos, os 7 bilhões de seus habitantes descompassariam de tal forma o meio-ambiente, que faltaria energia e alimentação, com destruição irreversível – por séculos ou, talvez, milênios – do “habitat” único que o homem possui, comprometendo a existência da vida humana, animal e vegetal.
Porque existem extensos bolsões de pobreza e de insuficiência, é de se presumir que estamos apenas no começo do aquecimento global, por força exclusiva da ação deletéria do homem, cuja visão imediatista emperra a visão do futuro.
Bento XVI, em sua mensagem de 08 de dezembro de 2007, para o Dia Mundial da Paz, realça que tais problemas “que se desenham no horizonte são complexos, e o tempo escasseia. Um ambiente onde seria particularmente necessário intensificar o diálogo entre as nações é o da gestão dos recursos energéticos do planeta”.
O certo é que os 192 países vinculados às organizações internacionais voltadas ao tema, teorizam mais do buscam soluções. Os ódios, os ressentimentos, as convicções políticas, raciais, religiosas, ideológicas opostas terminam por gerar, nada obstante o discurso da paz, temores e divergências de tal ordem, que o ponto comum para um diálogo convergente não se estabelece, nem nos foruns internacionais, nem nos diálogos pluri-regionais ou bilateriais entre as nações.
Em meu livro “Desenvolvimento Econômico e Segurança Nacional – Teoria do Limite Crítico” de 1971, prefaciado pelo saudoso amigo Roberto Campos – principiei analisando o impacto das despesas militares nos orçamentos públicos com a frase: “O homem é um ser pacífico que nunca viveu em paz”.
Creio que os tempos atuais não são diferentes. Do confronto de escala mundial que terminou em 1945, passamos para mais de uma centena de conflitos de escala regional, com tantas mortes quanto aquelas causadas pela 2a. guerra. E a teoria do poder, da imposição, do não respeito aos valores e culturas próprios de cada povo acabam por exarcebar os ódios, fazendo dos vencedores, perdedores, como está ocorrendo na guerra do Iraque.
Alberto Cardoso, em seu admirável livro “Os 13 momentos da arte da guerra de Sun Tzu”, lembra que “aceitar operações que objetivam o aniquilamento do inimigo seria o mesmo que admitir uma política que deseja uma paz de ressentimentos. Uma paz que leve, necessariamente, a outra guerra”.
O ano de 2008 começa com grandes desafios para a humanidade e para os governos de todos os países. Num mundo que caminha para a exaustão, capaz de provocar alterações climáticas em décadas – quando, no passado, isso levava milênios ou milhões de anos – se não houver um consenso global que ultrapasse o interesse econômico dos países e corporações mais ricos, estaremos caminhando a passos largos para uma catástrofe mundial sem precedentes.
* Professor Emérito das Universidade Mackenzie e UNIFMU e da Escola de Comando e Estado maior do Exército. Presidente do Conselho de Estudos Jurídicos da Federação do Comércio do Estado de São Paulo, da Academia Paulista de Letras e do Centro de Extensão Universitária – CEU. Site: http://www.gandramartins.adv.br
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