Por puro acaso o Brasil deixou de mergulhar numa crise econômica nos termos em que estamos vendo na Venezuela, com desordem no abastecimento e o desaparecimento da produção. Se Dilma Rousseff continuasse na chefia o Poder Executivo é provável que já estivéssemos naquela situação vexatória e sofrida, mas antes que lá chegássemos vimos uma união insuspeita das elites políticas, que resolveram dar um basta ao PT. Michel Temer pacificou o Congresso Nacional e deu estabilidade política ao país. Literalmente podemos dizer que tiraram a cabra (o bode!) da sala e as coisas caminharam para a normalização. O câmbio apreciou, a inflação recuou da aceleração, as contas internacionais alcançaram patamar de vitalidade. A especulação com o infortúnio foi neutralizada.
Fala-se agora em crescimento econômico e retomada do desenvolvimento mesmo sem que ainda os investimentos públicos e as privatizações tenham sido consumadas. É uma grande notícia, pois é o abreviar do sofrimento coletivo.
Olhando em retrospectiva é difícil agora ver que a mesma elite que depôs Dilma Rousseff criou as possibilidades para a eleição do PT, lá mantendo-o por longos 13 anos, desde Lula. Analistas independentes cansaram de dizer que era suicídio nacional entregar o poder de Estado nas mãos da corriola petista, que porta singular mistura de irresponsabilidade, incompetência e má fé na gestão da coisa pública. Um bando de aventureiros irresponsáveis. Foi inútil. A começar pelo PSDB e seu líder máximo, FHC, houve a fascinação de entregar o poder a um operário, na busca da utopia da igualdade. Professar a fé na igualdade tem sido o bilhete de entrada nas corriolas do poder. Mesmo o pragmático PMDB caiu nessa e decidiu ser o sócio menor do triunfo petista, tendo sido objeto de todo tipo de preconceito e suspeição e, desde o início, percebeu que o PT projetava ou destruir o partido ou reduzi-lo ao ponto da insignificância. O mensalão foi a expressão histórica desse desprezo político.
O PMDB por isso sempre se constituiu na oposição eficaz ao PT, tendo impingido ao sócio suas maiores derrotas, a começar pela não renovação da CPMF e a negação do terceiro mandato a Lula. Recentemente, foi decisivo na votação do impeachment, coroando sua trajetória oposicionistas aos arroubos totalitários do PT. É bom também relembrar aqui a PEC da Bengala, que impediu o PT de nomear novos ministro para o STF, cada vez mais condicionados para dar apoio integral ao partido naquela corte. Foi outra grande derrota do PT.
Nunca é demais recordar que Eduardo Cunha, alçado à presidência da Câmara de Deputados contra a vontade do PT, arquivou sua agenda parlamentar revolucionária, da qual não mais se falou desde então. Temas como aborto e gaysismo foram devidamente relegados ao arquivo de proposituras. Golpe fatal nas aspirações revolucionárias do PT.
O PT só foi desmascarado por dois acidentes históricos decisivos, que poderiam não ter acontecido. Primeiro, a inconfidência de Roberto Jefferson, que deu início às peripécias do julgamento do mensalão, que aprisionou figuras de proa do petismo, como José Dirceu e José Genoíno, mudando inclusive a trajetória da sucessão, que teve Dirceu como nome natural. O segundo foi a descoberta acidental das transações do doleiro Alberto Youssef, fio da meada que levou às denúncias mais espetaculares na Justiça daquilo que ficou conhecido como petrolão e as operações dele derivadas. Desde então o encanto do PT se acabou e a própria elite política e econômica teve que se conformar com as análises mais lúcidas sobre a natureza e as intenções revolucionárias e deletérias do PT. Foi o começo do fim. Os dois acidentes salvaram o Brasil da venezuelização acelerada que estava em curso.
Estamos na transição e a tranquilidade deriva do isolamento completo a que foi confinado o PT. Este não tem forças para reagir e parece fadado ou a ficar nanico ou a desaparecer. A marca PT está queimada junto ao eleitorado. É claro que a transição é Michel Temer, pessoa que não poderia ser mais bem talhada para o momento. Negociador, personalidade suave, mas firme nas decisões, Michel Temer tem tudo para entregar o Brasil ao sucessor, em 2018, muito melhor do que aquele que recebeu. As eleições municipais deste ano serão essenciais para determinação da inexpressividade política residual do PT e a vitórias das forças comprometidas com a democracia, o Estado de Direito e a normalidade da vida econômica da nação. Michel Temer tem a favor de si o fato de nunca surpreender a opinião pública com medidas pirotécnicas. Isso tranquiliza a nação.
Em janeiro passado ninguém diria que estaríamos nessa nova perspectiva de estabilidade institucional e de crescimento econômico no espaço de tão poucos meses. Uma dádiva para quem esteve ameaçado de completa bolivarizaçao da economia. Quem viver verá.
www.nivaldocordeiro.net – 24/07/2016