Política

Por que da Revolução de 1964?

Por que da Revolução de 1964?

 

 

Ricardo Bergamini*

 

 

“Povo que não respeita seu passado e sua história não é digno de futuro”

 

É impressionante como o período atual da vida brasileira revive, de forma perfeitamente idêntica, os processos políticos vividos no período imediatamente anterior ao movimento cívico-militar de 31 de março de 1964, onde a continuidade do desenvolvimento brasileiro vinha também sendo prejudicada por atitudes deformadas e amplamente difundidas ao povo ingênuo, em sua grande maioria, como verdades absolutas, impedindo o debate com critério e racionalidade no comportamento administrativo e econômico do Brasil, quase levando o país para o abismo de um regime totalitário e populista de esquerda.

 

Hoje, como naquela época, levavam à busca de desculpas externas para o insucesso interno, ao invés de formulações internas de políticas pragmáticas e eficazes. Assim, a estagnação do comércio exterior era atribuída a uma tendência inexorável de deteriorização dos preços dos produtos primários ou a concorrência insuportável dos atuais países industrializados, intransigentes na preservação de seus mercados. A maldita conjugação da inflação interna com taxas cambiais subvalorizadas, e com a pouca importância dedicada ao papel dinâmico das exportações no processo de desenvolvimento, e sua importância para o próprio mercado interno; criação de impostos ao invés de criação de incentivos às exportações; concentração obsessiva na promoção de indústrias com altos custos sociais; consideração da exportação na primitiva visão de venda de excedentes, jamais como uma atividade básica e prioritária. Esses conceitos econômicos eram simplesmente ignorados pelos governantes da época. Ao invés de medidas monetárias e fiscais contentoras de demanda e estimuladoras de oferta, ou de medidas contra a exponencial inflação de custos das atividades econômicas, pensava-se em indefinidas reformas estruturais, denominadas de “Reformas de Base”.

 

Exemplo dessa atitude “escapista”, acima citada, foi o “Manifesto da Frente de Mobilização Popular” de outubro de 1963. Nesse documento, face a uma inflação de 50% em constante aceleração, a uma situação de falência cambial e a uma crescente e descontrolada desordem social, as “medidas consideradas indispensáveis à reconstrução nacional” eram: (1) reforma agrária, reforma eleitoral, conferindo direito de voto aos analfabetos e aos soldados, direito de elegibilidade aos soldados e praças; (2) suspensão das remessas de lucros e dividendos, e moratória da dívida externa; monopólio estatal de câmbio e das exportações, e encampação da refinaria de Capuava.

 

Ainda poderíamos considerar os efeitos aparentemente “paternalista” do governo, com uma política intencionalmente acomodatícia, e secretamente incentivada, aos pleitos descabidos e imorais de aumentos salariais e benefícios indiretos concedidos aos membros dos poderes públicos, desvinculados de quaisquer critérios técnicos em termos de produtividade e/ou merecimento, totalmente alheias à realidade econômica da época. Eram políticas sensíveis apenas à capacidade de geração de conflitos distributivos permanentes entre os poderes da República, almejando uma mobilização política incessante dos sindicatos em seus pleitos, sempre com o objetivo da máxima comunista de: “dividir para reinar”, causando distorções sem precedentes na política de recursos humanos no seio dos poderes públicos, culminando com a contaminação dessas malditas políticas totalitárias comunistas no ventre das Forças Armadas, com greves e passeatas de marinheiros, lideradas por um Almirante da ativa do Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha brasileira, de nome Aragão. Era o início do fim.

 

O nacionalismo temperamental atingiu seu ápice na fase “populista” imediatamente anterior ao movimento cívico-militar de 31 de março de 1964, contribuindo para reduzir o grau de racionalidade da política econômica, desviando a atenção da sociedade da verdadeira busca de reformas e soluções eficazes, para a identificação de inimigos externos. Esse período encerra uma fase triste e lamentável de grandes desperdícios do potencial de mobilização de energias coletivas, bem como de promoção de coesão nacional, encerrando também uma fase de impulsos irracionais de rejeição e irracionalidade.

 

A era pós 1964 inicia um período muito bem sucedido de transformação do nacionalismo temperamental em nacionalismo pragmático, mais seletivo e racional, mais interessado em mobilizar recursos, de todas as fontes, voltadas apenas para o desenvolvimento econômico do Brasil, e não em explicar antagonismos em relação ao mundo exterior. O modelo de desenvolvimento se tornou assim extrovertido, com ênfase sobre exportações como fator dinâmico de crescimento, e sobre importação seletiva de capitais externos para elevação da taxa de investimentos e modernização do aparelho produtivo nacional.

 

Antes de encerrar este artigo, caberia explicar a importância do grifo no parágrafo anterior, quanto à seletividade na importação de capitais externos visto que, no período dos governos militares, sabiamente, eram proibidas importação de recursos externos, captados através do mercado financeiro internacional, altamente voláteis, e de curto prazo, conhecido como hot money. Na época, eram autorizadas somente captações através do mercado de crédito internacional, com credores definidos em contratos e com prazos mínimos de sete anos para pagamento do principal, sendo dois anos de carência, já que nenhum governo dito sério, ou mesmo nas empresas privadas, se aventurariam em qualquer projeto de desenvolvimento econômico de um país, ou mesmo de indústria, com longos períodos para maturação, sendo financiados pelo prostituído e corrompido mercado financeiro internacional. Diga-se de passagem, política central do governo atual.

 

Rogo a Deus que os homens de responsabilidade deste país entendam a gravidade do que seja montar a política macroeconômica de uma nação, ou mesmo microeconômica de uma empresa, lastrando-se no nervoso, irracional, corrompido e prostituído mercado financeiro, tanto nacional, quanto internacional. Somente um governante claramente insano, como tem demonstrado ser o Sr. FHC, apostaria o destino de um povo na mortal “roleta russa” em que meteu nosso sofrido país. Estamos literalmente em uma “estrada sem retornos”. Quem viver verá!!!

 

 

* Economista, formado em 1974 pela Faculdade Candido Mendes no Rio de Janeiro, com cursos de extensão em Engenharia Econômica pela UFRJ, no período de 1974/1976, e MBA Executivo em Finanças pelo IBMEC/RJ, no período de1988/1989. Membro da área internacional do Lloyds Bank (Rio de Janeiro e Citibank (Nova York e Rio de Janeiro). Exerceu diversos cargos executivos, na área financeira em empresas como Cosigua – Nuclebrás – Multifrabril – IESA Desde de 1996 reside em Florianópolis onde atua como consultor de empresas e palestrante, assessorando empresas da região sul.

 

 

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Como citar e referenciar este artigo:
BERGAMINI, Ricardo. Por que da Revolução de 1964?. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2008. Disponível em: https://investidura.com.br/artigos/politica/por-que-da-revolucao-de-1964/ Acesso em: 26 jul. 2024