A realidade é subjetiva. A teoria é como uma espécie de óculos para ver a realidade. Assim, conforme a teoria, podemos ver ou não determinados aspectos nessa mesma realidade.
Precisamos nos equipar mais adequadamente, para enfim, conseguir decodificar a realidade. Uma vez que realidade não pode ser experenciada em si, sendo mediada pelo discurso. Portanto, se não existir a palavra, consequentemente, não existirá a realidade.
É incrível como o mesmo grupo de pessoas percebe a mesma realidade das mais diferentes formas. Por isso, a leitura e a decodificação da realidade passam obrigatoriamente por um filtro subjetivo.
O que levou tanto Freud como Lacan a concluir que a nossa formatação enquanto sujeito está mediada pela linguagem. À medida que o sujeito se insere na realidade através do discurso.
Enfim, há a primazia do discurso que se traduz como poderosa ferramenta de mediação da realidade e através da qual acessamos a percepção e a apreensão da realidade.
Afinal, construir um discurso é espécie de terapia de como lidar com essa mesma realidade. É impressionante, por exemplo, que certos idiomas não possuem uma palavra para designar a cor azul (é o caso do grego antigo) e, por não haver a palavra azul, ipso facto, não existe a percepção da realidade como azul. Traduzindo assim, uma forma diferente de se apropriar da realidade.
Um famoso filólogo chamado Lazarus Geiger (1829-1870)[1] conduziu uma pesquisa interessante, analisando diferentes textos em diferentes idiomas e, concluiu que seríamos incapazes, mesmo depois de minuciosa descrição da realidade de afirmar que o céu é azul, pois na totalidade dos idiomas pesquisados pelo filólogo, não havia a palavra “azul”. Diversas experiências foram feitas com idiomas distintos e mostraram a concreta dificuldade de se apontar as diferenças entre cores presentes na realidade.
Desta forma, quando não temos a palavra para descrever certa realidade, possuímos igualmente a mesma dificuldade para entender a realidade. Até que um conceito seja comum, encontramos dificuldades em entender a realidade. É possível mesmo visualizar a realidade, porém, não conseguimos entender essa mesma realidade.
Daí, é pertinente o questionamento trivial, sobre se você sabe realmente o que você está vendo ou presenciando? O que nos leva ao ponto distintivo entre ler uma notícia e entender a notícia em seu real significado. Afinal, você decodificou? Novamente, somos desafiados pela esfinge: decifra-me ou te devoro!
O presente texto vem exaltar a importância de se entender o que é humano, o que vem a ser humanidade e, reconhecer a imprescindibilidade da dignidade humana.
É através das Ciências Humanas que conseguimos formar e expandir nossa consciência do que seja humano e como esta se apresenta em culturas, locais e pessoas diferentes. Por essa razão, que a humanidade é constantemente eleita para ser o primeiro alvo preferido de ataque pelos governos totalitários.
No fundo, o debate sobre a realidade objetiva e subjetiva direciona-se em saber se a realidade existe ou não. Cumpre explicar que realidade subjetiva e realidade mental não são sinônimas. Pois a mental é o ponto de vista que o sujeito parte dos conceitos da realidade objetiva e intelecção que analisa os fatos objetivos presentes na realidade objetiva.
Porque a realidade subjetiva é absolutamente dependente do sujeito, é como se produzisse a realidade, num tipo de solipsismo, e que não houvesse um referencial concreto e sólido. Com a realidade objetiva, você aceita que a realidade existe, que a verdade (tida como elemento condizente com o que se verifica na realidade) também existe bem como a lógica (e seus princípios) existe.
Enfim, formamos uma realidade coesa. Pois, se acreditarmos apenas na realidade subjetivo, concluiríamos que a realidade é diferente para cada um, implicando em não haver realidade, já que esta dependeria da mente do indivíduo, sem nenhum referencial.
O grande paradoxo da realidade ou verdade objetiva afirma que a realidade ou verdade para serem provadas objetivamente, devem permanecer assentes após hipotética sucumbência de todos os seres humanos. É controversa a noção de que não exista uma verdade objetiva. A noção de sua não existência é um princípio filosófico chamado de solipsismo.
Questionar as lentes através das quais temos enxergado a realidade é imperioso, para se ter uma visão crítica do mundo. Principalmente, para deixarmos de ser manipulados ou simplesmente sabotados pela política contemporânea.
[1] Foi filósofo e filólogo alemão. Estudou filologia clássica nas Universidades de Marburg, Heidelberg e Bonn. Contrariamente ao seu tio, pertencia ao grupo religioso ortodoxo de judeus alemães. Enxergou na linguagem a fonte da razão humana. A linguagem, segundo seus estudos, foi formada a partir de expressões sem sentido, propriamente pelas reações do homem primitivo a suas impressões visuais. Quando tais expressões se tornaram fixas e estabilizadas em conceitos permanentes, deu-se uma evolução civilizatória. William Gladstone percebeu que Homero em sua obra utilizou muitas páginas para descrever detalhes de vestimenta, armaduras e arsenal. E, por suas observações conclui-se que os gregos viviam num mundo bem pouco colorido. O mesmo acadêmico procurou em outras obras da Grécia Antiga e constatou que em nenhum deles havia qualquer referência, ainda que indireta a cor azul.
(In: JORNAL O GLOBO Azul, a cor mais jovem. 04.04.2015 Disponível em:https://oglobo.globo.com/sociedade/ciencia/azul-cor-mais-jovem-15491386 Acesso em 24.09.2020). Geiger notou que todo idioma tem, em primeiro lugar, uma palavra para o preto e o branco. E, a próxima cor a ser batizada seria o vermelho, a cor do vinho e do sangue, por exemplo. Depois, viriam o amarelo e, depois, o verde. De fato, a derradeira cor a aparecer em todas as culturas estudadas pro Geiger foi o azul. O caçula de todas as cores.