04 de dezembro de 2009
Recebi muitos comentários ao meu artigo anterior, no qual explorei os textos de César Benjamin sobre o governo e a pessoa de Lula. Muitos leitores questionaram a afirmação que fiz de que Benjamin teria manifestado uma disposição moral superior ao emitir tais opiniões. Reafirmo o que disse, mesmo considerando os flashes da história de vida do editor. Desde a sua trajetória enquanto guerrilheiro e a longa carreira revolucionária tudo isso eu sei, assim como fatos mais recentes de seus negócios editoriais. E daí?
Todo homem que tenha completado cinqüenta anos não poderá olhar para trás sem contemplar o mergulho nos infernos que é a própria existência, em si um processo de tentativa e erro continuado que nos leva inevitavelmente ao pecado. Não se espera de um vivente que seja puro, mas que, a partir das próprias experiências, depois de ter “experimentado de tudo”, que passe a usar o que lhe “convém”. A pretensão puritana da vida é descabida e irrealista. Esquece-se da própria condição humana. Não se pode condenar ninguém no altar da própria consciência olhando para trás, mas para frente. É da tomada de consciência dos próprios erros que a maioridade moral acontece.
Inevitável comparar o horizonte de César Benjamin e do próprio Lula. Este último jamais cogitou em criticar sua própria vida e de se perguntar das conseqüências do mal gigante que tem provocado em nosso país. Já César Benjamin, com uma trajetória de vida bem mais heróica, preferiu contemplar o real e partilhar a sua verdade com toda a gente.
Isso para dizer que a tomada de consciência manifestada por César Benjamin foi duplamente corajosa: por ter abraçado o real e por ter vindo a público partilhar dessa visão. Contemplar o real não é brincadeira, exige o despojamento de todas as ilusões e, no caso da realidade política, pode exigir o enorme sacrifício das crenças, das amizades, dos projetos políticos. Mesmo a vida econômica pode ser duramente afetada. A contemplação do real leva necessariamente a uma tomada de posição moral equivalente a uma conversão platônica. A vida desde então nunca mais será a mesma.
O fato de vir a público revela o senso de responsabilidade coletivo do editor, ele que, em larga medida, ajudou a construir o monstro que aí está. Por isso percebo como muito importante o seu testemunho, o relato dos fatos presenciados e a denúncia dos enormes perigos que estão latentes. Por ter a biografia que tem esse testemunho é ainda mais potente. Talvez por isso o interesse pelo que diz seja ampliado, pois revela de fato uma tomada de posição que contraria os compromissos de uma vida inteira.
César Benjamin vai agora amargar grande rejeição e terá prejuízos políticos e pessoais de grande monta. Espero que ele tenha se preparado para o repuxo. Ninguém que contrarie o senso comum firmemente alojado na Segunda Realidade revolucionária terá paz. Qualquer movimento de fechamento do regime pode colocar a existência de pessoas como ele em perigo. São os alvos mais óbvios da violência revolucionária, quando ela chegar. Em suma, seu gesto não foi utilitarista, mas unicamente a expressão de uma consciência moral. Reconhecer esse fato é importante, pois ele terá pela frente um largo período de incompreensão e isolamento. A verdade em primeiro lugar, é isso que emerge dos seus textos fortes.
* José Nivaldo Cordeiro, Executivo, nascido no Ceará. Reside atualmente em São Paulo. Declaradamente liberal, é um respeitado crítico das idéias coletivistas. É um dos mais relevantes articulistas nacionais do momento, escrevendo artigos diários para diversos jornais e sites nacionais. É Diretor da ANL – Associação Nacional de Livrarias.