Política

Islã: o chão afunda sob os pés


27/02/2011

Nivaldo Cordeiro

www.nivaldocordeiro.net

Em alemão, mente quem é cortês.” Goethe, no Fausto

[Acrescento: em português também. NC]

Certa vez o grande Goethe escreveu, observando o dia a dia da política
da Corte deWeimar e da Europa em geral: “Nosso mundo político e moral
está minado por galerias, porões e cloacas subterrâneas, como costuma ser uma
grande cidade, em cujas conexões com a situação geral de seus habitantes
ninguém pensa nem cogita; só aquele que possui alguma informação a
respeito poderá entender melhor as coisas no momento em que, de repente, o chão
se fundar, subir ali uma fumaça […] e se ouvirem aqui vozes espantosas
.”
(Citado por Walter Benjamin no Ensaios Reunidos, Editora 34, São Paulo, 2009).

É perfeita a descrição para nós, que observamos os acontecimentos do
momento no mundo islâmico. O chão afunda sob os pés, tudo que é sólido
desmancha no ar. E penso que não deveríamos nos surpreender: o que está em
marcha é um processo revolucionário que é, ele mesmo, o
passo 2 depois da derrubada das Torres Gêmeas. Explico-me. A
revolução no mundo islâmico só pode ser compreendida nesse esforço em curso
para destruir o Ocidente, que vem de décadas. Nessa empreitada é preciso, na
visão estratégica do novo califa, Bin Laden, destruir os apoiadores do Ocidente
no mundo islâmico, o núcleo do seu futuro império.

Podemos lembrar aqui do famoso verso posto na boca de Mefistófeles por
Goethe, no Segundo Ato do Livro 2, do Fausto: “Busquei de oculto-áureo
tesouro a Meca/E carvão negro e horrível recolhi
”. O fogo dos infernos
queimará no meio sarraceno como detonador da bomba que deverá incinerar o
Ocidente, ao menos na cabeça delirante de Bin Laden.

Quem ousou derrubar as Torres Gêmeas não se deterá diante de nada. A
vida individual de seus seguidores islâmicos nada vale, menos ainda a
dos ocidentais. Depois do ato surpreendente e audaz, Bin Laden sabe que perdeu
o elemento surpresa, restando poisfazer o mais fácil e o mais perto:
arrasar a ordem estabelecida nos países islâmicos, sobretudo aqueles
pró-ocidente. De repente, como no movimento inicial de uma orquestra movida por
implacável maestro, quebrando o silêncio unânime, o chão afundou e, um a um, os
países estão caindo como um castelo de cartas nas mãos dos revolucionários. Era
previsível e óbvio, mas os governos ocidentais, especialmente oobâmico e
hilário, foram surpreendidos. Na Folha de São Paulo de hoje tivemos a
apoteose obâmica: pediu a cabeça de Gaddafi, o malvado terrorista
aposentado, como se isso não agravasse o problema e não fosse o gesto mais
estúpido dentro da realidade mais dura. A ciência política está reduzida a
trapos na Casa Branca com Hussein no poder.

Bin Laden, no seu quartel-general, o grande maestro das revoluções no
mundo islâmico, pede que o coro de acólitos jihadistas suicidas
repita o coro dos insetos inserido por Goethe no Fausto, em homenagem a Hussein
Obama:

Bem-vindo! Bem-vindo,

Velho amo de antanho!

Voando, eis-nos, zunindo,

Não nos és estranho.

Sozinhos e aos pares,

Semeaste este bando.

Eis-nos aos milhares,

À volta dançando.

Malandros, os espinhos

Em seu peito encobrem,

No velo os piolhinhos

Sem mais se descobrem.”

Quem tem ouvidos para ouvir, que ouça!

* José Nivaldo Cordeiro, Executivo, nascido no Ceará. Reside atualmente
em São Paulo. Declaradamente liberal, é um respeitado crítico das idéias
coletivistas. É um dos mais relevantes articulistas nacionais do momento,
escrevendo artigos diários para diversos jornais e sites nacionais. É Diretor
da ANL – Associação Nacional de Livrarias.

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Como citar e referenciar este artigo:
, Nivaldo Cordeiro. Islã: o chão afunda sob os pés. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2011. Disponível em: https://investidura.com.br/artigos/politica/isla-o-chao-afunda-sob-os-pes/ Acesso em: 29 jul. 2025