27/12/2010
Na última edição do programa Manhattan
Connection no canal GNT estava lá o convidado especial Fernando Henrique
Cardoso. No ano que vem o programa será transmitido pela GloboNews. É o
único programa da TV brasileira que me faz parar o que faço para vê-lo. Gosto
muito do time de comentaristas, embora nem sempre esteja de acordo com a
opinião deles.
Fernando Henrique é sempre muito ensaboado ao
opinar sobre as pessoas, mastrês pontos quero aqui sublinhar, por relevantes.
O primeiro é que ele disse desconhecer o que pensa
Dilma Rousseff pelo simples fato de que ela jamais completa um
pensamento. Como ela também não publica podemos concluir que o Brasil elegeu
uma pessoa completamente desconhecida, fiado no aval de Lula. Faça ela o que
fizer será surpreendente, porque não se sabe o que ela quer, nem se sabe se ela
tem algum projeto na cabeça.
Segundo, FHC foi enfático ao dizer que o PSDB
precisa ser oposição de verdade e precisa afirmar as coisas boas que realizou
durante seu governo, como as privatizações e a estabilização monetária levada a
cabo pelo Plano Real. Ele está certíssimo. Mas é muito difícil fazer oposição
no Brasil quando se está à frente de algum poder executivo, pelo fato de que
fatia expressiva dos recursos passa pela esfera federal e depende da boa
vontade da Presidência da República. Quem faz oposição aberta perde recursos; a
chantagem é muito grande.
O ponto mais relevante levantado por FHC,
todavia, foi notar que o Poder Legislativo está esvaziado. Grandes decisões de
alocação de recursos são agora tomadas à revelia do Parlamento, como o destino
final do dinheiro dos fundos de pensão e do BNDES. Esses recursos podem
representar brutal transferência de renda e de riquezas, pois há diferenciais
de taxas que implicam em subsídios elevados, na faixa de bilhões de dólares. A
parte do setor privado que se beneficia dos recursos tem grandes vantagens
competitivas em relação aos competidores que não têm o mesmo acesso. O
caso Erenice Guerra deixou claro que a manipulação desses recursos
não é gratuita e mais das vezes está casada com remuneração espúrio de
Caixa 2.
FHC notou que essa estrutura de poder paralelo
acontece ao arrepio da representação legítima. Os parlamentares estão excluídos
do processo de decisão relativo a essa gigantesca massa de recursos. Essa é uma
das questões maiúsculas que eventualmente deve constituir matéria da reforma
política de que tanto se fala.
* José
Nivaldo Cordeiro, Executivo, nascido no Ceará. Reside atualmente em São Paulo.
Declaradamente liberal, é um respeitado crítico das idéias coletivistas. É um
dos mais relevantes articulistas nacionais do momento, escrevendo artigos
diários para diversos jornais e sites nacionais. É Diretor da ANL – Associação
Nacional de Livrarias