Política

E se a Dilma fosse eleita?

 

Edição nº 2 – Ano I

          

                                         

Pesquisa feita pelo Ibope e pelo Diário do Comércio (SP) entre os dias 6 e 9 de fevereiro, em que foram entrevistadas 2.002 pessoas, mostraram que Serra continua na ponta liderando todos os cenários na maratona para Presidente. No cenário principal, ele tem 36% e Dilma 25%.

 

Comparados esses dados com os de dezembro do ano passado, pode-se dizer que Serra permaneceu estável, apesar de ter perdido 2 pontos, pois esta é a margem de erro da pesquisa. Mas Dilma teve um considerável crescimento, uma vez que cresceu 8 pontos! Com o fermento Lulla até chuchu na Sibéria, anão de circo e bilaus murchos crescem exuberantemente.

 

No entanto, num cenário em que Ciro I, rei dos persas e imperador de Sobral, está fora de cena, Serra abre 13 pontos de diferença em relação a Dilma. É mole ou quer mais?!  Segundo Márcia Cavallari, diretora-executiva de atendimento e planejamento do Ibope, “os cenários estimulados pela pesquisa mostram que, com a saída de Ciro da disputa, aumenta a probabilidade de a eleição acabar no primeiro turno”. E com uma vitória de José Serra, acrescentamos nós.

 

De acordo com os resultados dessa pesquisa, pode-se inferir também outra coisa – em nosso ver mais relevante: a eleição plebiscitária, tão desejada e buscada por Lulla, está correndo o sério risco de ir para o brejo, caso Ciro insista em ser candidato a Presidente e não a governador de São Paulo, como lhe pediu tão insistentemente Lulla. É ruim, hein? Em lagoa que tem sapo, mosquito não dá vôo rasante, e disto sabe muito bem Ciro.

 

Mas ainda tem muita água para rolar debaixo da ponte e é possível que esse quadro seja modificado quando começar efetivamente a campanha eleitoral e Dilma arrebatar as multidões nos programas eleitorais na TV com sua empolgante verve e com sua figura extremamente carismática, coisas que eclipsarão a figura de Serra, que já não é lá das mais atraentes e sensuais.

 

E por isso mesmo que acho que tem sentido, apesar dos dados altamente desfavoráveis da mais recente pesquisa do Ibope, colocar a questão: E se Dilma fosse eleita? Seria diferente de perguntar: E se Dilma fosse a eleita? Sim, porque a eleita ela já é, não aos olhos do Altíssimo, que tudo vêem, porém aos do Baixíssimo que nada vêem.

 

Faremos nossa especulação futurológica sem levar em consideração o passado da preferida de Lula, que empana sua ficha como candidata a Presidente do Brasil. Faremos de conta que nunca existiu a guerrilheira urbana do Var-Palmares de codinome Estella, que costumava praticar assaltos a bancos e trocar tiros com a polícia, porém tendo como nobre finalidade última e única arrecadar fundos para a revolução do proletariado explorado pelos vis e mesquinhos capitalistas.

 

Mesmo assim, há que considerar que os fins justificam os meios: a companheira Estella – como foi mostrado num filme passado na recente convenção do PT – lutava contra a ditadura militar e a favor da democracia como a então vigente – e hoje ainda firme e sólida sob o comando dos irmãos Castro – em Cubacan, misterioso país del amor.

 

Tudo isso e mais alguns detalhes são coisas do passado devendo ser deletadas, não delatadas. O ser humano é capaz de se arrepender, mesmo dos mais monstruosos crimes e pecados, passar uma esponja no passado e viver uma nova vida. Assim, tudo o que importa é a nova Dilma, um Fênix que ressurgiu das cinzas e alçou seu vôo as alturas. Sua  vida privada – assim como a de qualquer homem público – não tem a menor importância: tudo que é relevante, para a ciência política,  é sua figura de mulher pública. Como pensa ela? Que idéias políticas tem ela?  Como pretende nos governar?

 

Pouco se sabe, porque até agora pouco falou ela sobre o assunto. Tudo o que se diz dela é que é mandona, rabugenta e de pavio curto, muito parecida com as piores sogras. Mas ela já disse que seu governo será uma continuidade do governo de Lulla, o que não é nada surpreendente saindo da boca de uma candidata da situação e de um governo com 84% de parvos simpatizantes . Mais do que isto: como disse o próprio Lulla, elegê-la como sua sucessora é a coisa mais importante da sua vida, depois de dona Marisa e seus filhos, é claro.

 

Disse ela que quer um Estado mais forte. Bem, podemos entender várias coisas; (1) um Estado policialesco como o do Gauleiter Hugorila Chávez, (2) um Estado com um governante forte e com a californication exterminada pelos músculos do exterminador Schwarzenegger, (3) um Estado equipado com mais cabidões de empregos do que o Estado de Lulla [funcionalismo público no Brasil é que nem cama de despudorada galinha: sempre tem lugar para mais um] (4) um Estado fortemente intervencionista regulamentando até o modo de se vender bananas, se a peso ou à dúzia, ou de outro modo qualquer.

 

Disse ela que manterá as variadíssimas bolsas do governo Lulla, como a bolsa família, que “ou cobre de vergonha ou vicia o cidadão”, na expressiva linguagem de Patativa do Assaré; o auxílio reclusão, uma merrequinha de ate R$ 752,12, por filho, para o detento sustentar a família, já que o coitadinho não pode trabalhar para sustentar os filhos por estar preso. E nem trabalharia, caso solto estivesse…Isto para não falar na mais recente bolsa: a bolsa ou a vida!

 

Disse aprovar totalmente o PNDH3, que não é nenhuma fórmula química secreta, mas sim Plano Nacional dos Direitos Humanos 3. Se for assim, todo o Poder aos soviets! Ela aprova que sejam formados soviets de camponeses e sindicalistas como árbitros em questões de invasões de terras, antes mesmo de seus proprietários recorreram à Justiça com pedidos de reintegração de posse.

 

Se é for assim, ela aprova que sejam constituídos soviets destinados a censurar a mídia quando esta disser ou mostrar qualquer coisa que desagrade ao Big Boss da Bruzundanga: como, aliás, já afirmou Lulla que a função da imprensa é informar, não investigar.

 

 E tinha toda a razão, pois a imprensa deve noticiar boletins sobre o tempo, viagens e discursos do Presidente pelo mundo a fora, colunas sociais, culinárias, esportivas, etc. e parar de ficar metendo o nariz onde não é chamada, porque, se ficar investigando muito, pode descobrir coisas assaz desagradáveis, tais como dólares escondidos nas cuecas, obras superfaturadas do PAC (Plano para Alavancar a Companheira), entre outras irregularidades apontadas pelo TCU e prontamente arquivadas pelo Congresso.

 

Surpreendentemente, porém, ela disse que manterá o câmbio livre tal como Palocci no primeiro governo Lulla e Meireles no segundo. Ah! que medida típica de execráveis neoliberais contra a qual não se cansavam de tecer imprecações Lulla e o PT quando estavam na oposição! Ah! na oposição, a teoria é outra.

 

Mas parece que, ao menos continuaremos tendo o câmbio livre, o amor livre, passe livre para idosos e pessoas com dificuldades especiais neste país de intervencionistas e admiradores do xiita Ahmadinejad e do Gauleiter Hugorila Chávez. Vade retro!

 

                                 

                Apêndice I: Uma piadinha para amenizar a atual canícula senegalesca

 

        El Papagayo Cubano

 

En Cuba, un niño regresa de la escuela a su casa, cansado y hambriento, y le pregunta a su mamá:

                  – Mamá, que hay de comer?

 – Nada, mi hijo.

  El niño mira hacia el papagayo que tienen y pregunta:

  – Mamá, por qué no papagayo con arroz?

 – No hay arroz.

 – Y papagayo al horno?

 – No hay gas.

 – Y papagayo en la parrilla eléctrica?

 – No tenemos parilla ni hay electricidad.

 – Y papagayo frito?

 – No hay aceite.

Oyendo esto, el papagayo contentísimo gritó.

VIVA FIDEL!!! VIVA LA REVOLUCIÓN!!!

 

 

* Mário Antônio de Lacerda Guerreiro, Doutor em Filosofia pela UFRJ. Professor Adjunto IV do Depto. de Filosofia da UFRJ. Ex-Pesquisador do CNPq. Ex-Membro do ILTC [Instituto de Lógica, Filosofia e Teoria da Ciência], da SBEC [Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos]. Membro Fundador da Sociedade Brasileira de Análise Filosófica. Autor de Problemas de Filosofia da Linguagem (EDUFF, Niterói, 1985); O Dizível e O Indizível (Papirus, Campinas, 1989); Ética Mínima Para Homens Práticos (Instituto Liberal, Rio de Janeiro, 1995). O Problema da Ficção na Filosofia Analítica (Editora UEL, Londrina, 1999). Ceticismo ou Senso Comum? (EDIPUCRS, Porto Alegre, 1999). Deus Existe? Uma Investigação Filosófica. (Editora UEL, Londrina, 2000) . Liberdade ou Igualdade? ( EDIPUCRS, Porto Alegre, 2002). Co-autor de Significado, Verdade e Ação (EDUF, Niterói, 1985); Paradigmas Filosóficos da Atualidade (Papirus, Campinas, 1989); O Século XX: O Nascimento da Ciência Contemporânea (Ed. CLE-UNICAMP, 1994); Saber, Verdade e Impasse (Nau, Rio de Janeiro, 1995; A Filosofia Analítica no Brasil (Papirus, 1995); Pré-Socráticos: A Invenção da Filosofia (Papirus, 2000) Já apresentou 71 comunicações em encontros acadêmicos e publicou 46 artigos. Atualmente tem escrito regularmente artigos para www.parlata.com.br,www.rplib.com.br , www.avozdocidadao.com.br e para www.cieep.org.br , do qual é membro do conselho editorial.

 

Como citar e referenciar este artigo:
GUERREIRO, Mário Antônio de Lacerda. E se a Dilma fosse eleita?. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2010. Disponível em: https://investidura.com.br/artigos/politica/e-se-a-dilma-fosse-eleita/ Acesso em: 22 dez. 2024