Política

Desemprego e Superpopulação

Desemprego e Superpopulação

 

Francisco César Pinheiro Rodrigues*

 

Tenho vontade de rir quando leio, ou ouço, um candidato a chefe do Executivo dizer que vai criar tantos mil empregos. A comicidade não está na vontade de enganar do candidato — ele acredita (em termos…) no que diz, está sendo sincero — mas na falta de compreensão clara de um problema abrangente envolto em fumaças de variadas origens, notadamente políticas e religiosas. E o problema é essencialmente físico, rasteiro, quantitativo.

 

Antes de escrever este artigo fiz uma rápida busca na Internet para conhecer qual o enfoque geralmente dado nos artigos relacionados com o tema “superpopulação”. O que li parecia mais uma tomada de posição contra qualquer forma de controle de natalidade, se bem que não especificamente associado ao problema do desemprego. De modo geral, os textos deblateram contra os países ricos que não cuidam, como deviam, dos países pobres.

 

Indo diretamente ao ponto, o problema do desemprego — que afeta quase todos os países, ricos e pobres — origina-se da mecanização e da computação. Quando as máquinas, décadas atrás, expulsaram do campo imensas levas de trabalhadores braçais, os desocupados pensaram em salvar-se trabalhando na cidade, em escritórios, lojas, etc, o que trouxe algum alívio. Precisava-se de professores, datilógrafos, arquivistas, estenógrafas, telefonistas, balconistas e todas as demais ocupações relacionadas com a prestação de serviços. O homem ainda era essencial.

 

Aí inventaram, ou aperfeiçoaram, o computador e aparelhos conexos. Ele ensina, calcula, traduz, escreve, deleta (apaga), corrige ou alerta quanto à grafia, pesquisa, arquiva, registra, imprime, vende, responde a consultas telefônicas, anota recados, e tudo o mais que fazia a secretária, a telefonista e demais profissões burocráticas. A mera enumeração, incompleta, do que pode fazer a informática e a automação já subentende milhões de empregados dispensados.

 

E quem, convenhamos, quer ter empregado, se pode ter um aparelho que o substitua, às vezes de modo mais eficiente? Uma câmara de vigilância, por exemplo, não reclama de horário. Não sente fome, sede, sono; não exige salário, aumento, 13º, férias, respeito à sua dignidade, e não tem medo nem de bandido armado.

 

Em suma, o avanço tecnológico condenou o homem a um progressivo ócio. Mas como sustentar esse ócio? O trabalhador braçal do campo, desempregado, expulso pelos tratores e máquinas colhedeiras, tem poucas alternativas: migrar para as cidades (e viver, a maioria, como mendigo), juntar-se em bandos e invadir terras, ou virar marginal de cidade grande.

 

Como essa leva de desocupados — forçados — poderia se defender desses dois inimigos que apareceram disfarçados de amigos, o computador e a máquina? A longo prazo, diminuindo fortemente a natalidade. Em uma geração, os filhos das camadas mais pobres ficariam tão relativamente raros que mesmo com o aumento da automação e da informática essa raridade da mão de obra a levaria os salários à estratosfera. Isso porque não é possível imaginar um planeta totalmente automatizado. Admira-me que, até agora, não tenha surgido um líder das classes trabalhadoras que pregasse, a nível universal, a limitação dos filhos a um por casal. Seria o mais revolucionário movimento “socialista” até agora presenciado. E sem um único tiro. Levaria poucos anos para começar a produzir efeito, mas não há matemática capaz de negar que a imensa raridade da mão de obra braçal forçaria a um aumento forte dos salários. Quando se diz, hoje, que o desemprego em tal país está em 20% é o caso de se dizer que se tivesse havido, vinte anos antes, uma redução de natalidade em 20%, o desemprego seria zero. Ou algo parecido.


É claro que um movimento dessa natureza logo despertaria imensa reação das classes mais abastadas, que não se sujeitariam a lavar banheiros, engraxar sapato, servir de babá, cozinhar, por a mesa, lavar a louça e tudo o mais que hoje é mal remunerado.

 

Um problema para esse movimento de controle voluntário da natalidade está no fato de exogor uma dificílima, quase impossível coordenação universal. Isso, evidente, porque se os pobres de um determinado país decidissem limitar drasticamente a prole, sem que os outros povos fizessem o mesmo, a migração em massa tornaria essa queda de natalidade sem os efeitos econômicos desejados. Países europeus, com menos de dois filhos por casal, permitem o ingresso de estrangeiros que possam desempenhar o trabalho pesado, ou desagradável, porque o consideram abaixo de sua dignidade de pessoas instruídas e de regular posição social. O que os países europeus de maior riqueza não permitem — e com razão, porque não querem mendicância e criminalidade de rua — é a imigração desordenada, ameaçando o já difícil emprego dos trabalhadores locais.

 

Oura alternativa para solução do desemprego, oriundo do inevitável avanço tecnológico, está em os Estados, por eles mesmos, sem precisar de nenhum movimento operário “anti-bebê”, estimular a restrição da natalidade quando o desemprego está alto ou tendendo para isso. Poderia, por exemplo, pagar um “prêmio” a cada homem, ou mulher, que, após ter um ou dois filhos, se submetesse à vasectomia ou laqueadura.

 

Esperar que todas as nações enriqueçam e com isso diminua naturalmente a natalidade é brincar com uma bomba-relógio já armada. Um governo democrático mundial facilitaria a solução do problema.

 

* Advogado, desembargador aposentado e escritor. É membro do IASP Instituto dos Advogados de São Paulo. Website do autor: http://www.franciscopinheirorodrigues.com.br

 

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Como citar e referenciar este artigo:
RODRIGUES, Francisco César Pinheiro. Desemprego e Superpopulação. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2008. Disponível em: https://investidura.com.br/artigos/politica/desemprego-superpopulacao/ Acesso em: 22 nov. 2024