Política

Democracia Plena – Quando?

Democracia Plena – Quando?

 

 

Deoclécio Galimberti *

 

 

 

Mesmo que não queiramos falar em política, os últimos acontecimentos na terra de Pindorama não nos permitem fugir à evidência. Como permanecermos silentes, ouvindo o presidente dizer que um infrator penal “é menos criminoso do que aqueles que foram responsáveis pela política econômica nos últimos 20 anos”? Como ficarmos quietos, ante discurso de nosso presidente revelando que só depois da descoberta da camada pré-sal, ficou sabendo de que “a água do mar não é salgada por causa do xixi que se faz dentro dela”? A par destas perplexidades, alguns auxiliares dançam a mesma música. Além disso, através de escaramuças, maracutaias e escutas clandestinas de telefones, interceptam adversários na procura de alguém que compartilhe da corrupção.  

 

            Hoje, a expressão “não é verdade” é a mais ouvida entre os ocupantes de elevadas funções públicas, utilizando-a para contestar na mídia notícias de irregularidades praticadas no governo, muitas delas já apuradas e comprovadas. Sempre negam qualquer acusação, sem convencer a mais ninguém, olvidando lapidar lição deixada por Nietzche, segundo a qual “as convicções são inimigas da verdade e mais perigosas do que as mentiras”.

 

            E os escândalos não cessam. Depois do terremoto das denúncias de ex-deputado, sem que nenhum dos investigados fosse condenado pelos alcances cometidos em troca de apoio ao governo, surgiram partidários, amigos, irmão e filho do presidente, que teriam sido beneficiados com dinheiro público, e nem sequer foram investigados. Recentemente, com grampos ilegais da ABIN ou da Polícia Federal, o Executivo tisnou a independência e a autonomia constitucional que caracterizam a coexistência harmônica dos três Poderes.

 

            Relatório do BIRD (Banco Mundial) apontou nosso País como o de maior nível de corrupção nos últimos dez anos, salientando que a situação se agravou de 2003 em diante. Na Câmara dos Deputados, dos 513 parlamentares, 268 são alvos de processos no STF, indiciados desde homicídios, peculatos, improbidade administrativa, formação de quadrilha, até seqüestros. Em conseqüência, pesquisa afirma que 76% dos brasileiros não confiam no Congresso Nacional e 81% das pessoas desconfiam dos partidos políticos. Graças a Deus que 68,1% ainda optam pelo regime democrático ao invés de qualquer outro.

 

            Diante de tal quadro, De Gaulle teve razão quando disse que “Le Brésil n’est pas un pays sérieux”. Só poderemos respirar Democracia Plena, quando aprendermos a votar bem. Ainda nos resta esperança.

 

 

* Doutor em Direito.

 

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Como citar e referenciar este artigo:
GALIMBERTI, Deoclécio. Democracia Plena – Quando?. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2008. Disponível em: https://investidura.com.br/artigos/politica/democracia-plena-quando/ Acesso em: 27 dez. 2024