Amazônia: O Porta-Jóias é do Mundo ou do Brasil?
Claudia Zardo*
Em palestra ministrada pelo Brasil e pelo mundo, o General do Exército Luiz Gonzaga Schroeder Lessa tem versado sobre as ameaças à soberania nacional e as pressões internacionais sobre as riquezas da Amazônia. Sendo um dos maiores especialistas mundiais sobre a Amazônia, o general divulga os problemas e aponta as riquezas da região amazônica, além de defender a tese de que a soberania nacional está em cheque.
Segundo ele, a área da Amazônia corresponde a cinco milhões de km² e possui o maior banco de biodiversidade do mundo. Abordando a Amazônia pan-americana, o general explica que esta engloba os limites de outros nove países, que fazem fronteira com o território brasileiro. Nessas proporções, 1/5 da água doce, 2/3 do potencial hidroelétrico e 1/3 das florestas mundiais estão em terras brasileiras. A área nos limites nacionais equivale a 56% do território brasileiro. “É quase um continente e é dela que quero tratar. Percebam a extensão territorial, é quase toda a Europa, com exceção da Rússia”, compara.
RIQUEZAS
Para ele, a Amazônia é um verdadeiro porta-jóias em que podem ser encontradas as mais diversas jazidas e riquezas minerais conhecidas. O general ressalta também o descaso por parte das autoridades brasileiras diante de tamanha exuberância, fontes de riqueza e imenso potencial a ser explorado. “A riqueza que está no subsolo é um potencial que não se transformou em realidade, pois é pouco explorado pelo próprio país ao qual ele pertence”, acrescenta.
A região conhecida como “Cabeça do Cachorro”, segundo ele, é a maior reserva de nióbio do mundo. “95% do nióbio estão nesta região e o restante o mundo o busca
Em se tratando de fontes de energia, ele cita, entre outras, a região do Urucu, na qual, entre os rios Juruá e Coruja, está localizada – em território continental brasileiro – a maior bacia de hidrocarbonetos. “Nesta região temos jazidas de gás e de óleo com grande potencial. E no momento se constrói uma obra faraônica, pelo esforço enorme de fazer com que o gasoduto atravesse o rio Urucu, o rio Amazonas e chegue até Manaus. É uma obra de quase
De acordo com o general, a obra é de suma importância para que, no atual cenário da crise de gás, o Brasil possa ver sua dependência em relação à Bolívia sendo amenizada. “Estamos absolutamente sujeitos à Bolívia hoje. Foi um erro terrível de administração que fizemos ao longo dos últimos anos. Como podemos depender da metade do nosso gás na Bolívia? Um país que sabemos ter problemas na estabilidade política. Alguns Estados brasileiros dependem totalmente do gás da Bolívia. 70% do gás das indústrias de São Paulo vêm da Bolívia, 100% do gás utilizado no Rio Grande do Sul vêm da Bolívia”, questiona ele ao justificar que a obra auxiliará na diminuição da dependência; ainda que, de acordo com ele, “as ações do governo sejam tímidas diante do problema”.
CONFLITOS
Contabiliza o general que a região amazônica engloba também 23 mil km navegáveis – 16% da água doce do planeta. Para ele, esse potencial será motivo de disputas em um futuro próximo. “Dados da OIT [Organização Internacional do Trabalho] divulgam que 1 bilhão de seres humanos já não têm água para necessidades básicas. “Vejam a gravidade disso! Segundo a ONU [Organização das Nações Unidas], 900 milhões de pessoas passam fome hoje no mundo. E de acordo com a previsão da OIT, por volta de 2035, metade da população estará sem água. Serão, portanto, 4 bilhões de seres humanos daqui a 25, 30 anos, sem água potável. A gente com essa água toda, o mundo sedento; o que vocês acham que vai acontecer?”, cita e questiona.
Entre outros alertas, cita o General Lessa, o isolamento, a falta de uma postura incisiva da diplomacia brasileira na defesa da região, a ausência de uma política racional em relação aos corredores ecológicos, a falta de fiscalização das áreas de proteção ambiental, os conflitos nas terras indígenas e riquezas do subsolo serão problemas que irão se agravar nas próximas gerações e que devem ser pensados hoje a fim de serem evitados.
DE DIREITO?
E como se não bastassem estes e outros os problemas de ordem interna, o palestrante faz questão de enfatizar em palestras algumas citações proferidas publicamente por líderes de peso mundial, as quais dão a entender que, no caso de conflito de interesses e de sobrevivência, a Amazônia deixará de ser um problema de soberania nacional para se tornar a solução para os problemas do restante do mundo. “E diante disso, questiono: como nós ficamos neste contexto?, teremos força política, econômica, estratégica, social, diplomática, moral e militar para enfrentar a cobiça do restante do mundo?”, indaga e finaliza o general.
* Jornalista e acadêmica de Direito
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