23/12/2010
O jornal O Estado de São Paulo trouxe hoje uma
expressiva e sensacional entrevista com Julian Assange, o publisher do
site WeakLeaks. Perguntado se se considerava um anarquista da
internet, ele respondeu: “Vamos colocar de forma simples. Sou
um publisher. E esse é meu papel. Como publisher tenho de
organizar nosso pessoal e administrar a sequencia do material. Não
pretendo ganhar dinheiro, mas levar conhecimento às pessoas para que entendam
seu mundo”. É o que penso dele desde o início, menos no quesito
dinheiro. O que ele tem é valiosíssimo e ser publisher é um negócio
como outro qualquer.
O governo Obama, pela boca Joe Biden,
qualificou Assange se terrorista. Ele comentou: “Talvez
o que mais se aproxime desse tipo de comportamento seja o
período macarthista. Vemos declarações de que eu sou um
terrorista high tech, de que toda nossa organização deve ser
perseguida, como Osama bin Laden. Leis propostas no Senado nos
qualificam de ameaça transnacional para que ações possam ser tomadas contra
nós. Todo esse comportamento contra uma organização que apenas publicou o
material a que teve acesso é alarmante. Isso revela algo que não víamos antes e
o quanto a retórica dos EUA sobre a liberdade de imprensa na China ou outros
países é falsa. Quando começamos a publicar algo sério, que poderia levar a
reformas, e de fato eram informações embaraçosas, vimos as leis e os valores
dos EUA serem jogados no lixo, de forma preocupante”.
Assange está certíssimo. É preciso
desmistificar os segredinhos da burocracia diplomática, que mais das vezes
conspira contra indivíduos e outros países mais fracos. Se governos querem
guardar segredos, que o façam, mas não devem contar com a conivência nem da
imprensa e nem das pessoas comprometidas com as liberdades. Se
queremos reduzir o Estado temos que reduzir, por primeiro, seus atos
secretos e as chamadas “razões de Estado”, que mais das vezes contradizem as
liberdades. Mais das vezes cidadãos são surpreendidos até com guerras sem que
seus governos tenham dado qualquer aviso prévio.
Perguntado como se mantém financeiramente,
respondeu: “Temos uma base de apoio, em todo o mundo, incluindo os EUA e
Austrália. Na situação australiana, vimos uma petição com 600 mil pessoas num
país de 20 milhões de habitantes; na América do Sul, e especialmente no Brasil,
recebemos apoio político. O aspecto financeiro é difícil. É verdade
que Visa, Mastercard e Bankof America, sem autorização
judicial, cortaram nossas transações financeiras. Mas há mais formas de as
pessoas nos ajudarem. Infelizmente, a forma mais fácil é por cartão de crédito
– e isso foi tirado de nós”. A conspiração dos grandes bancos,
empresas de cartões de crédito e do governo americano não
intimidaram Assange, felizmente.
Assange disse: “O que eu espero é que
nosso trabalho mostre às pessoas em todo o mundo como é que o mundo de fato
funciona. Para 2011, vamos publicar mais telegramas sobre países e sobre
mais de cem organizações. Mas também teremos outras publicações. Vamos expandir
nossa estrutura. Temos milhares e milhares de documentos significativos.
Alguns dos mais significativos foram sobre os bancos, na Suíça, Islândia,
IlhasCayman, EUA e Grã-Bretanha”. Fortes emoções são aguardadas. Não é à
toa que os governantes estão irritados e preocupados com o australiano.
Governos, tremei! Assange vem aí com suas notas.
Mesmo aceitando o apoio público do governo
brasileiro, ele disse: “Temos alguns brasileiros já trabalhando nas últimas
semanas. Mas vemos muito apoio vindo do Brasil, tanto da população, mídia, da
forte e emergente cultura de internet. E também há muita corrupção. Portanto,
haverá bons tempos no futuro no Brasil para nós”. Penso
queAssange não se iludiu com Lula e sua gangue, que lhe deram apoio
ostensivo. Ele sabe quem são ospetralhas. Melhor assim.
A melhor frase da entrevista: “Transparência
é para governos. Não para indivíduos. O objetivo de revelar informações sobre
pessoas poderosas é cobrar responsabilidade deles”.
* José
Nivaldo Cordeiro, Executivo, nascido no Ceará. Reside atualmente em São Paulo.
Declaradamente liberal, é um respeitado crítico das idéias coletivistas. É um
dos mais relevantes articulistas nacionais do momento, escrevendo artigos
diários para diversos jornais e sites nacionais. É Diretor da ANL – Associação
Nacional de Livrarias