História do Direito

Cincinato: Exemplo de Desapego ao Poder

 

O ideal de realizar grandes feitos é natural e louvável. Todavia, o desapego ao poder é virtude que poucos alcançaram. A maioria, aliás, não faz empenho algum em adquirir essa virtude e só se desliga do poder contra sua vontade…

 

Um louvável exemplo foi dado por LÚCIO QUINTO CINCINATO ( www.sobiografias.hpg.ig.com.br/LuciusQu.html):

 

[ou Lucius Quinctius Cincinnatus] (519 – 438 a. C.) Guerreiro romano de trajetória parcialmente lendária. Homem simples chegou a cônsul e ditador e, depois de salvar a cidade, tornou-se um dos personagens mais importantes da história de Roma. A república romana atravessava então momentos difíceis por causa de um iminente ataque de volscos e équos, duas tribos tradicionalmente inimigas dos latinos. Um destacamento romano comandado por Minúcio (458 a. C.) enfrentou os équos no monte Álgido, mas ficou acuado num desfiladeiro. Diante da desesperada situação dos sitiados e da própria cidade, os cônsules decidiram recorrer a Cincinato, experiente general que comprovara sua habilidade militar em confrontos anteriores com os volscos. O oficial que procurou Cincinato para entregar a nomeação encontrou-o lavrando a terra. Com dificuldade, conseguiu convencê-lo a aceitar o cargo de ditador, título que lhe outorgava, em caráter provisório, poder absoluto. No comando de um poderoso exército, ele foi ao encontro do inimigo e o venceu, segundo a lenda, em apenas um dia. De posse de vultoso butim, regressou a Roma, renunciou ao cargo e voltou à vida simples de lavrador.

 

Temos que CINCINATO:

 

a) não procurou o poder e sim foi convidado para exercê-lo;

b) foi-lhe outorgado poder absoluto, mas não consta que tenha agido de forma indevida contra alguém ou em benefício próprio;

c) cumprida sua missão, renunciou ao poder.

 

Numa época em que grandes disputas ocorrem pelos postos de comando; em que abusos dos mais graves são praticados por muitos que exercem o poder; em que tudo se faz para continuar em situação de evidência – fica parecendo surrealista o idealismo de um CINCINATO.

 

Mas, o antídoto para essa fúria desenfreada pelo poder está na compreensão de que somente o povo detém o poder.

 

Em caso contrário, acreditando cada um que o exercício do poder significa a recompensa aos bem dotados, seres superiores que merecem dirigir os destinos dos menos aquinhoados, estaremos utilizando-o, mesmo que minimamente, com desvio ou excesso de poder.

 

Pensando de forma incorreta e em desacordo com as luzes atuais de valorização do povo, quando chegar a época de deixarmos o poder, estaremos desarvorados, como quem perde um patrimônio pessoal…

 

É necessária essa conscientização, pois importantes e menos importantes servidores públicos são sempre servidores do público…

 

 

* Luiz Guilherme Marques, Juiz de Direito da 2ª Vara Cível de Juiz de Fora (MG).

Como citar e referenciar este artigo:
MARQUES, Luiz Guilherme. Cincinato: Exemplo de Desapego ao Poder. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2009. Disponível em: https://investidura.com.br/artigos/historia-do-direito/cincinato-exemplo-de-desapego-ao-poder/ Acesso em: 04 jul. 2025