Citações freudianas a propósito da religião
Paulo Queiroz *
As idéias religiosas surgiram da mesma necessidade de que se originaram todas as outras realizações da civilização, ou seja, da necessidade de defesa contra a força esmagadoramente superior da natureza;
Quando um indivíduo em crescimento descobre que está destinado a permanecer uma criança para sempre, que nunca poderá passar sem proteção contra estranhos poderes superiores, empresta a esses poderes as características pertencentes à figura do pai; cria para si próprio os deuses a quem teme, a quem procurar propiciar e a quem, não obstante, confia sua própria proteção. Assim, seu anseio por um pai constitui um motivo idêntico à sua necessidade de proteção contra as conseqüências de sua debilidade humana;
As idéias religiosas são ensinamentos e afirmações sobre fatos e condições da realidade externa (ou interna) que nos dizem algo que não descobrimos por nós mesmos e que reivindicam nossa crença;
Se a verdade das doutrinas religiosas depende de uma experiência interior que dá testemunho dessa verdade, o que se deve fazer com as muitas pessoas que não dispõem dessa rara experiência?
As religiões são ilusões, realizações dos mais antigos, fortes e prementes desejos da humanidade. O segredo de sua força reside na força desses desejos;
A impressão terrificante de desamparo na infância despertou a necessidade de proteção – de proteção através do amor – a qual foi proporcionada pelo pai; o reconhecimento de que esse desamparo perdura através da vida tornou necessário aferrar-se à existência de um pai, dessa vez, porém, um pai mais poderoso;
Constitui alívio enorme para a psique individual se os conflitos de sua infância que surgem do complexo paterno – conflitos que nunca superou inteiramente – são dela retirados e levados a uma solução universalmente aceita;
Na realidade, trata-se apenas de uma tentativa de fingir para nós mesmos ou para outras pessoas que ainda nos achamos firmemente ligados à religião, quando há muito tempo já nos apartamos dela;
A religião é a neurose obsessiva universal da humanidade; tal como a neurose obsessiva das crianças, ela surgiu do complexo de Édipo, do relacionamento com o pai;
Se, por um lado, a religião traz consigo restrições obsessivas, exatamente como, num indivíduo, faz a neurose obsessiva, por outro, ela abrange um sistema de ilusões plenas de desejo juntamente com o repúdio da realidade;
Os crentes devotos são em alto grau protegidos do risco de certas enfermidades neuróticas porque sua aceitação da neurose universal lhes poupa o trabalho de elaborar uma neurose pessoal;
As verdades contidas nas doutrinas religiosas são tão deformadas e sistematicamente disfarçadas que a humanidade não pode identificá-las como verdade.
(Extraídas de “o futuro de uma ilusão”).
* Doutor em Direito (PUC/SP), é Professor Universitário (UniCeub), Procurador Regional da República em Brasília, e autor, entre outros, do livro Direito Penal, parte geral. Rio: Lumen juris, 2008, 4ª edição. Website: www.pauloqueiroz.net
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