Os
Estados Unidos podem emitir por ser o Banco Central do Planeta. A emissão de
moeda falsa para financiar as guerras do Iraque e Afeganistão é financiada pelo
resto do planeta a custo zero (reservas dos países), não gerando inflação
interna nos Estados Unidos.
A
exportação de problemas nacionais, nos países desenvolvidos, é uma forma
clássica de comportamento internacional. Votos estrangeiros não contam em
eleições nacionais. Os custos políticos de providências internas que poderiam
resolver um problema de desemprego, um problema de inflação ou um problema de
indústria deprimida, normalmente, são mais altos que os custos políticos da
exportação do problema. Assim o resto do mundo subdesenvolvido se transforma em
escoadouro de problemas internos dos países desenvolvidos.
As
reservas do Brasil saíram de US$ 37,8 bilhões em 2002 para US$ 307,5 bilhões em
fevereiro de 2011, sendo remunerada a custo zero, ou próximo de zero, e o
Brasil pagando juros internos médios de 14,48% ao ano no período de 2003/2010.
E a estupidez coletiva brasileira, apoiada pelo mercado financeiro
internacional, considerando o melhor governo da história Brasil.
Se
o Brasil fizesse a mesma coisa a inflação iria explodir internamente visto que
o Brasil não é exportador de Real. Tudo que emitir fica no mercado interno.
As
três únicas soluções para frear a queda do dólar são:
1)
Disciplina fiscal para reduzir a dívida pública e aumentar o seu PMP (Prazo
Médio de Pagamento – atual muito baixo de 3,51 anos, média mundial de 30 anos)
e consequentemente a queda dos juros;
2)
Criar restrições de entrada para esses dólares falsos destinados aos
investimentos indiretos (bolsas de valores e especulação financeira diária),
porém inviável politicamente, visto que nenhum político iria perder essa
oportunidade de criar essa ilusão temporária de crescimento ao seu povo. Cabe lembrar que crescimento sadio e
sustentável somente ocorrerá quando o Brasil mudar de patamar nos seus
indicadores de saber e conhecimento. Caso contrário continuará promovendo
pequenos vôos de galinha (avança e para). Como tem sido a história econômica do
Brasil;
3)
Voltar ao câmbio administrado (tipo China), abandonando a atual política de
câmbio flutuante.
O
Brasil viveu o mesmo problema na época do milagre brasileiro dos governos
militares. Passado o falso milagre gerado pelo excesso de dólares falsos para
financiar a guerra do Vietnam, o Brasil ficou 20 anos patinando na maionese. O
mesmo que vai acontecer com o falso milagre dos últimos 5 anos no Brasil, gerando
um falso crescimento pela ilusão monetária do dólar falso (excesso de
liquidez). O artigo abaixo do meu amado e saudoso mestre Eugênio Gudin retrata
bem o que estou dizendo.
Nota:
Exemplo
da ilusão monetária gerada pela emissão de dólares falsos.
De
janeiro de 2005 até janeiro de 2011 o mercado de commodities se valorizou
120,53% em dólares americanos. Uma loucura, sem precedentes na história
econômica mundial.
Não
é preciso ser mestre em economia para afirmar que esse castelo de areia vai
desmoronar.É insustentável.
O
PENSAMENTO DO PROFESSOR EUGÊNIO GUDIN
Artigo
publicado no jornal “O Globo” do Rio de Janeiro, edição de 17/09/73
A
DESORDEM MONETÁRIA INTERNACIONAL
O
pecado original que deu lugar à crise monetária internacional que ainda perdura
foi, como se sabe, o de terem os Estados Unidos abusado do privilégio de que
gozava o dólar, de ser também moeda internacional, como tal recebido e aceito
pelo mundo afora. Os Estados Unidos esbaldaram-se despejando dólares no mundo
através da guerra do Vietnam e de enormes investimentos na Europa, além do
fluxo habitual de turismo. A enorme massa de dólares que ficou ricocheteando
pela Europa de país a país tem grande responsabilidade na inflação que se
infiltrou na Europa onde atingiu 7% e 8% e mais ao ano, em países de ordem
monetária tradicional como Suíça e Alemanha Ocidental.
O
que há de curioso na presente conjuntura é que o dólar se depreciou muito mais
internacionalmente do que dentro dos Estados Unidos. A taxa de câmbio atual do
dólar em termos de marco alemão (julho de 1973) é de apenas de 2,38 marcos por
dólar, mas um dólar nos Estados Unidos tem um poder de compra equivalente a
3,17 marcos. Igualmente, a taxa de câmbio na Suíça é de 2,86 francos suíços por
dólar, entretanto um dólar compra nos Estados Unidos o equivalente a 3,90
franco suíços.
É
um caso típico de desvio da paridade do poder de compra, oriundo de itens
outros que não os referentes a mercadorias, especialmente transferência de
capitais.
A
inflação nos Estados Unidos, a partir de 1965, foi em parte uma inflação de
demanda oriunda de vastos déficits orçamentários (RS$ 25 bilhões em 1972, ora
estimado em US$ 15 bilhões para 1973), e em outra parte, uma inflação de custos
por elevação excessiva de salários em anos recentes (ferroviários 42% em 42
meses, siderúrgicos 30% em 3 anos, General Motors, etc), além da inflação de
caráter internacional oriunda das recentes desvalorizações do dólar que encarecem
os preços das mercadorias importadas.
Mas
a inflação na Europa, oriunda basicamente da expansão de crédito vinda do
excesso de dólares flutuantes, não ficou atrás da dos Estados Unidos.
O
atual desequilíbrio monetário internacional é devido muito mais aos movimentos
de capitais do que às disparidades inflacionárias entre os Estados Unidos e a
Europa. Os Estados Unidos, aparentemente mais preocupados com sua atividade
econômica interna do que com seu balanço de pagamentos, mantém taxas de juros
reputadas baixas, pouco atraentes portanto para dinheiro do exterior. Por outro
lado, a falta de confiança no dólar fez com que a esperada repatriação de
dólares depois da desvalorização não se verificasse. A demanda de dólares por
parte das empresas americanas e das empresas multinacionais, bem como dos
árabes do petróleo, não tem correspondido à expectativa.
Do
lado das mercadorias (balanço de comércio) a situação está melhorando com o
grande encarecimento dos artigos importados à nova taxa cambial; por exemplo,
um Volkswagen que custava US$ 1.900,00 passou para US$ 2.300,00. Os algarismos
do balanço comercial continuam a melhorar conquanto as exportações não tenham
tido o impulso que se poderia esperar. Por outro lado, a importação de petróleo
cresceu em volume e em preço; os turistas americanos continuam a voar para o
exterior mesmo com preços vinte e cinco por cento mais altos; 600 mil militares
no estrangeiro e os empresários americanos continuam a exportar capitais.
Em
artigo escrito, neste jornal, em setembro do ano passado, sobre a crise
monetária internacional, eu dizia:
“O
problema não é fácil nem de rápida solução. Exige muito tempo, talvez anos para
sedimentar-se em um consenso generalizado”.
A
hipótese de nova volta ao padrão-ouro está fora de cogitação. A crise atual, se
de um lado desprestigiou o dólar, serviu, de outro, para mostrar como o ouro é
sujeito às influências da especulação e das variações do volume produzido, o
que o torna impróprio para servir de padrão de valor para todas as moedas.
Donde
se vê que as perspectivas de curto prazo não são animadoras. Nem o projeto
Nixon round, de reduções tarifárias, nem a reunião de Nairóbi do FMI, em
setembro, nem a Comissão dos Vinte (nem que fossem 40) solucionarão o caso.
O
único remédio é o esforço persistente – sobretudo dos Estados Unidos – para
restabelecer a confiança no dólar e o equilíbrio de seu balanço de pagamentos,
ao nível da taxa cambial que for.
Vencida
essa primeira etapa é que se poderá organizar um novo esquema monetário
internacional.
* Economista, formado em 1974
pela Faculdade Candido Mendes no Rio de Janeiro, com cursos de extensão em
Engenharia Econômica pela UFRJ, no período de 1974/1976, e MBA Executivo em
Finanças pelo IBMEC/RJ, no período de1988/1989. Membro da área internacional do
Lloyds Bank (Rio de Janeiro e Citibank (Nova York e Rio de Janeiro). Exerceu
diversos cargos executivos, na área financeira em empresas como Cosigua –
Nuclebrás – Multifrabril – IESA Desde de 1996 reside em Florianópolis onde atua
como consultor de empresas e palestrante, assessorando empresas da região
sul.. Site:
http://paginas.terra.com.br/noticias/ricardobergamini