Economia

Para Preservar a Biosfera (11/09/72)

Não há espetáculo mais nobre, mais
emocionante, mais capaz de inspirar heroísmos viris que o desta raça humana,
arrebatada no espaço infinito sobre seu globo flutuante, sujeita à fome, às
enfermidades, a morte, imersa num meio de que sua alam é como que o reflexo,
onde a violência e a crueldade lutam contra a solidariedade e a cooperação, e
que, entretanto, aspira tão obstinadamente à verdade como à justiça,
estendendo, por um labor incessante, o domínio de seu pensamento e de seu
poderio, e forja o seu próprio destino sobre a bigorna do tempo. (Painlevé, Paroles et Ecrits).

Tratando-se de assunto cujo conhecimento
básico ainda se generalizou, releve o leitor que eu aqui recorde seus
fundamentos.

Em 1968 um escocês, Alexandre King,
diretor-geral da divisão Científica da OCDE, e um industrial italiano, Aurélio
Pèccei, vice-presidente da Fiat, encontraram-se em Paris e trocaram idéias
sobre a necessidade de “agrupar personalidades conhecendo bem um setor da
ciência, ou da cultura, ou do mundo dos negócios, a fm de elaborar uma visão
universal da humanidade”.

Pouco depois, uma reunião do tipo imaginado
por essas duas personalidades realizou-se em Roma para tratar do assunto. Donde
a denominação de Clube de Roma.Lá estavam, entre outros, Bertrand de Jouvenel e
Eric Jantsch, especialista austríaco de renome mundial, em previsão
tecnológica. Não era geral o acordo sobre os métodos de empregar. Mas o
diagnóstico se impunha. A nossa biosfera, Isto é, a parte do nosso planeta em
que e de que vivemos, que abrange a sua superfície, uns poucos quilômetros de
profundidade e algumas dezenas deles em altura formando a atmosfera, está
ameaçada em sua própria existência funcional de meio ecológico em que se
processa a vida humana.

O Clube de Roma encomendou ao reputado MIT
(Massachusetts Institute of Technology) um estudo sobre a matéria.

Para construir seu modelo da Terra, a equipe
do MIT, dirigida pelo Prof. Dennis Meadows, destacou cinco fatores:

a) População.

b) Industrialização.

c) Alimentação.

d) Recursos materiais.

e) Poluição.

Por iniciativa do Clube de Roma, com base no
relatório do MIT, reuni-se em Estocolmo em junho passado, uma conferência
internacional patrocinada pelas Nações Unidas, em que se manifestaram as mais
opostas tendências ou, como diz Raymound Aron, onde a agulha do balancim
ideológico se deslocava de um a outro extremo.

De um lado, os que recomendavam providências
urgentes e positivas para resguardar e economizar os recursos naturais da
biosfera:

a) “Um imposto sobre as matérias-primas”, a
fim de economizar nossas reservas.

b) “Um imposto de amortização” proporcional às
expectativas de vida do produto.

c) “Um imposto sobre a energia”, a fim de
forçar as indústrias grandes consumidoras de energia, e substituí-las, quanto
possível, pelo trabalho humano.

Mas ainda nos países onde existem terras
virgens, florestas tropicais, tundras árticas, uma parte dessas terras,
conquanto permanecendo sob a atual soberania, seria interditada para o fim de
preservação ecológica. Os respectivos países receberiam compensação paga pelos
societários das Nações Unidas proporcionalmente ao produto nacional bruto de
cada um.

Finalmente, dizem os que vêem o problema por
esse prisma ameaçador que, tomando a ração de proteína por cabeça como a
principal variável, a população máxima que o planeta pode comportar é de 3.500
milhões de habitantes. Para isso é necessário limitar a taxa de substituição
demográfica a uma média de dois filhos por casal até o fim do século.

Mas havia na mesma conferência de Estocolmo os
que chamavam esses arautos da desgraça a curto prazo, que pensam que a
humanidade corre para o suicídio através da superpopulação e da poluição, de
profetas do apocalipse.

Esses desassustados, chamemo-los assim, não
escondem a seriedade do problema com que se defrontam os homens, diante da
pobreza que tantos se debatem, com carência de habitação, de nutrição, de
assistência médica, etc. Mas entendem que os tais profetas do apocalipse
exageram. É urgente combater a poluição, sobretudo a causada pelos combustíveis
industriais e pelos inseticidas. Mas confiam, de um lado, na capacidade dos
técnicos para amortecer o flagelo e, de outro, constatam nos países em
desenvolvimento uma baixa taxa de fertilidade reprodutiva comparável à que se
verificou na Europa ocidental na primeira metade do século passado.

Raymond Aron, apreciando o contraste entre as
duas tendências, diz, não sem razão, que os cálculos do Clube de Roma desprezam
uma variável essencial: “os progressos da técnica”. Mas caba dizendo: “Não nos
guiemos pelos radicais”, mas “tomemo-los a sério”.

u*Eugênio Gudin Filho (Rio de Janeiro, 12 de
julho de 1886 – Rio de Janeiro, 24 de outubro de 1986) foi um economista
brasileiro, ministro da Fazenda entre setembro de 1954 e abril de 1955, durante
o governo de Café Filho.

Formado em Engenharia Civil em 1905 pela
Escola Politécnica do Rio de Janeiro, passou a interessar-se por Economia na
década de 1920. Entre 1924 e 1926, publicou seus primeiros artigos sobre
Economia em O Jornal, do Rio de Janeiro.

Em 1944, o então ministro da Educação, Gustavo
Capanema, designou Gudin para redigir o Projeto de Lei que institucionalizou o
curso de Economia no Brasil. Nesse mesmo ano, foi escolhido delegado brasileiro
na Conferência Monetária Internacional, em Bretton Woods, nos Estados Unidos,
que decidiu pela criação do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco
Mundial (Bird)

Durante os sete meses em que foi ministro da
Fazenda (1954-1955), promoveu uma política de estabilização econômica baseada
no corte das despesas públicas e na contenção da expansão monetária e do
crédito, o que provocou a crise de setores da indústria. Sua passagem pela
pasta foi marcada, ainda, pelo decreto da Instrução 113, da Superintendência da
Moeda e do Crédito (Sumoc), que facilitava os investimentos estrangeiros no
país, e que seria largamente utilizada no governo de Juscelino Kubitschek. Foi
por determinação sua também que o imposto de renda sobre os salários passou a
ser descontado na fonte.

*Artigo sugerido por Ricardo Bergamini,
Economista, formado em 1974 pela Faculdade Candido Mendes no Rio de Janeiro,
com cursos de extensão em Engenharia Econômica pela UFRJ, no período de
1974/1976, e MBA Executivo em Finanças pelo IBMEC/RJ, no período de1988/1989.
Membro da área internacional do Lloyds Bank (Rio de Janeiro e Citibank (Nova
York e Rio de Janeiro). Exerceu diversos cargos executivos, na área financeira
em empresas como Cosigua – Nuclebrás – Multifrabril – IESA Desde de 1996 reside
em Florianópolis onde atua como consultor de empresas e palestrante,
assessorando empresas da região sul.. Site:
http://paginas.terra.com.br/noticias/ricardobergamini* Ricardo Bergamini,
Economista, formado em 1974 pela Faculdade Candido Mendes no Rio de Janeiro,
com cursos de extensão em Engenharia Econômica pela UFRJ, no período de
1974/1976, e MBA Executivo em Finanças pelo IBMEC/RJ, no período de1988/1989.
Membro da área internacional do Lloyds Bank (Rio de Janeiro e Citibank (Nova
York e Rio de Janeiro). Exerceu diversos cargos executivos, na área financeira
em empresas como Cosigua – Nuclebrás – Multifrabril – IESA Desde de 1996 reside
em Florianópolis onde atua como consultor de empresas e palestrante,
assessorando empresas da região sul.

(48) 4105-0832

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ricardobergamini@ricardobergamini.com.br

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Como citar e referenciar este artigo:
FILHO, Eugênio Gudin. Para Preservar a Biosfera (11/09/72). Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2011. Disponível em: https://investidura.com.br/artigos/economia/para-preservar-a-biosfera-110972/ Acesso em: 02 dez. 2025