Quando se deu a deposição do presidente de Honduras, Manuel Zelaya, escrevemos um artigo em que dissemos o seguinte:
Recentemente em Honduras, havia um governante eleito democraticamente pelo povo, Manuel Zelaya; mas que num dado momento desejou ter poderes absolutos. Assim sendo, fez uma tentativa semelhante à de Hitler: pediu ao Parlamento uma Ermachtigungsgesetz (Lei Habilitante) como Hitler e – depois dele, e inspirado por ele, Hugorila Chávez pediu ao Parlamento da Venezarzuela, porém o de Honduras não quis ser coadjuvante de um golpe.
Aí então, Zelaya pediu à Suprema Corte de Honduras que modificasse a Constituição concedendo-lhe poderes ilimitados, mas os ministros hondurenhos, como eram valiosos guardiões da lei e da ordem democrática, recusaram tal proposta indecorosa.
E como o referido governante insistia em se manter no Poder, dando claros indícios de que desejava exercê-lo de forma totalitária, os militares – com o apoio da maioria da população – deram um golpe apeando o candidato a ditador do Poder.
Obama, Lula, a OEA, Chávez, tout le monde et son père disseram que se tratava de um golpe dado em um governo democraticamente eleito pelo povo. Nada disto! Perderam uma boa oportunidade de ficar calados e não dizer asneiras de caráter meramente politiqueiro.
Eleito democraticamente pelo povo é verdade. Mas que, ao ser assim escolhido, assumiu o compromisso de governar juntamente com o Poder Legislativo e o Poder Judiciário. Porém, desde o momento em que esse compromisso foi claramente descumprido, o governo democraticamente eleito não deixou de ser um governo eleito, mas deixou de ser democrático.
Na Declaração de Independência, disse Thomas Jefferson: “Toda vez que qualquer forma de governo tornar-se destruidora dessas finalidades, é direito do povo alterá-la ou aboli-la e instituir um governo novo alicerçando seus fundamentos em tais princípios”.
Com isto, justificaram-se posteriormente o instituto do impeachment e, em casos mais contundentes, um contragolpe dado num governante golpista que, mesmo tendo sido democraticamente eleito, acabou se transformando num ditador. E é preciso acrescentar que na Constituição de Honduras não há a figura do impeachment como último recurso legal para afastar um presidente do cargo.
Por má informação ou por má fé, é deveras impressionante a maneira como se formou um consenso, incluindo a mídia e vários chefes de governo, em torno da idéia de que Zelaya foi vítima de um golpe e que este ameaça a democracia em Honduras e em toda a América Latina.
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E agora em 23/9/2009, ficamos sabendo que, após várias ameaças não cumpridas, Zelaya finalmente cumpriu o prometido: retornou secretamente a Honduras, vindo da Costa Rica num avião oferecido por Hugorila Chávez.
Na realidade, apenas passou por território hondurenho incógnito, de modo a não ser preso pela polícia, e foi diretamente para a Embaixada Brasileira em Tegucigalpa com sua mulher, filhos e 60 aspones. Para que tanta gente? Para organizar um golpe sob as protetoras asas da inviolabilidade diplomática da Embaixada Brasileira?
Mas para o espanto dos seres racionais e respeitadores do direito e de vetustos costumes diplomáticos internacionais, não pediu asilo político, como era de se esperar: já declarou mesmo que não pretende fazer tal coisa. Ora, o que mais poderia ele pretender?
Com seu chapelão de rancheiro texano, fazer discursos exaltados da sacada do prédio da embaixada, para sua chusma de acólitos e oportunistas de plantão, convocando-os a um golpe e criando um clima de tensão política em Tegucigalpa.
O presidente de Honduras enviou uma mensagem ao governo brasileiro em que, sensatamente e de acordo com os costumes diplomáticos internacionais, propôs duas alternativas: ou o Brasil concede asilo político a Zelaya ou o devolve ao governo hondurenho na condição de preso político. Tertium non datur!
Lulla e seu comandado, Excelso Amorim, protestaram veementemente junto a OEA, ao passo que Obama e Hilary Clinton se fizeram de mortos, como era conveniente a dois notórios esquerdistas para efeitos eleitoreiros.
Ficamos só imaginando como será o desfecho desse imbroglio criado pela incompetência diplomática e pelo esquerdismo delirante do nosso Ministério das Relações Exteriores. Ah! Como faz falta o ilustre José Maria da Silva Paranhos!
Até quando o Brasil poderá continuar sustentando esse caso, talvez inédito na história da diplomacia, em que um governante deposto, por tentar um golpe branco, é acolhido numa embaixada e nela se instala como se estivesse confortavelmente em sua casa, não desejando ser devolvido ao governo de seu país e sem querer pedir asilo.
É um verdadeiro Samba do Crioulo Doido da lavra do saudoso Stanislaw Ponte Preta, mas em ritmo de sambolero com maracas ensandecidas.
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El Heraldo de Honduras em 22/9/2009 diz o seguinte: “Desde Honduras suscribió el acuerdo de Petrocaribe, el ex militar golpista se sintió con la potestad de interferir en los asuntos políticos de este país sin importarle el derramamiento de sangre (22.09.09)El 25 de agosto de 2008 los hondureños comenzaron a sentirse incômodos con la presencia amenazante del presidente y ex militar golpista venezolano Hugo Chávez.
La injerencia directa del dictador venezolano comenzó cuando le ofreció al gobierno de Manuel Zelaya Rosales un trato preferencial em la venta de derivados del petróleo a través del acuerdo de Petrocaribe.En marzo del 2008 el Congreso Nacional, por petición de Zelaya, aprobó que Honduras firmara el acuerdo.
Posteriormente el Ejecutivo, sin consultar al Legislativo, el 25 de agosto, firmó en Casa Presidencial la adhesión de Honduras a
En un encendido discurso calificó a sus adversarios como “pitiyanquis, vende patrias”. En ese mismo evento, Chávez ofreció donarle a Honduras100 tractores para mejorar la producción.Cuando por fin llegaron las máquinas el entonces presidente hondureño,emulando a Chávez expresó: “aquí están los tractores a los que se oponían los pitiyanquis”.
“Todos los que han estado en contra de
Así quedó a la luz pública el fin reeleccionista de Zelaya, como se há practicado en todos aquellos países del bloque chavista. Fue el mismo Chávez quien le proveyó a Zelaya todo el material para que realizara el 28 de junio la consulta de llamado a la conformación de una constituyente. Con los “petrodólares”, Chávez logró una gran influencia sobre Zelaya, pero nunca pudo manipular al pueblo, a los políticos y a la clase empresarial del país.
El derrocamiento de su discípulo alteró los ánimos de Chávez, pues perdía uno de sus peones en su juego de ingerencia en América. El 28 de junio, Zelaya comunicó a su protector que lo habían expulsado de Honduras y que estaba abandonado en Costa Rica. Esto desató la ira del dictador: “Si juramentan a Micheletti, o a peleletti o gafetti o agoriletti, lo derrocaremos. Lo derrocaremos, así lo digo”, dijo con sua costumbrada verborrea.El enfadado jefe de estado suramericano responsabilizó al alto mando militar y a la derecha hondureña por el golpe, al tiempo que insinuó la participación de
Haremos todo lo que tengamos que hacer para que Manuel Zelaya searestituido en su cargo”, aseguró.”He puesto en alerta a las Fuerzas Armadas venezolanas”, advirtió como acostumbra amenazar a los colombianos. Inmediatamente puso a la disposición de Zelaya dos aviones para que se movilizara por todo elcontinente implorando apoyo para su restitución.
Después de sus amenazas, Chávez partió hacia Managua para reunirse com los miembros de
Ese día, Zelaya, subido en un avión venezolano, le informaba -vía teléfono- a su benefactor que estaba a punto de aterrizar sobre Toncontín, pero que los militares se lo estaba inimpidiendo. Luego la prensa internacional publicó una fotografía de Chávez sentado frente a un televisor con la imagen del aeropuerto Toncontín, y al fondo en una pizarra de formica se leía: 051345JUL09.
Enjambre de abejas africanas. Tribuna Presidencial. Heridos por picadas y desesperación de las personas. Para el experto en temas políticos y de seguridad, Mario Berríos, la foto mostraba a Chávez dirigiendo una operación militar, cuyo objetivo era que en la manifestación hubiera muertos y heridos y que la desesperación en la población comenzara a crear un clima de anarquía y intranquilidad.
Otro hecho que revela la ingerencia de Chávez en los asuntos políticos de Honduras fue cuando regañó a Zelaya por haber aceptado un procesode mediación dirigido por el presidente de Costa Rica, Óscar Arias, elcual inició el nueve de julio. Pero la injerencia de Chávez no concluye ahí. El pasado lunes, tras la confirmación del ingreso de Zelaya a Tegucigalpa, imágenes de Telesur difundían el diálogo que el ex- mandatario tenía con el ex militar golpista Chávez.
El presidente venezolano interrumpió un acto público en el que participaba para atender la comunicación que sostenía con el depuesto presidente. Chávez le manifestaba su agrado por el ingreso que había hecho de manera irregular a tierra hondureña.”
* Mario Guerreiro, Doutor em Filosofia pela UFRJ. Professor Adjunto IV do Depto. de Filosofia da UFRJ. Ex-Pesquisador do CNPq. Ex-Membro do ILTC [Instituto de Lógica, Filosofia e Teoria da Ciência], da SBEC [Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos]. Membro Fundador da Sociedade Brasileira de Análise Filosófica. Autor de Problemas de Filosofia da Linguagem (EDUFF, Niterói, 1985); O Dizível e O Indizível (Papirus, Campinas, 1989); Ética Mínima Para Homens Práticos (Instituto Liberal, Rio de Janeiro, 1995). O Problema da Ficção na Filosofia Analítica (Editora UEL, Londrina, 1999). Ceticismo ou Senso Comum? (EDIPUCRS, Porto Alegre, 1999). Deus Existe? Uma Investigação Filosófica. (Editora UEL, Londrina, 2000) . Liberdade ou Igualdade? ( EDIPUCRS, Porto Alegre, 2002). Co-autor de Significado, Verdade e Ação (EDUF, Niterói, 1985); Paradigmas Filosóficos da Atualidade (Papirus, Campinas, 1989); O Século XX: O Nascimento da Ciência Contemporânea (Ed. CLE-UNICAMP, 1994); Saber, Verdade e Impasse (Nau, Rio de Janeiro, 1995; A Filosofia Analítica no Brasil (Papirus, 1995); Pré-Socráticos: A Invenção da Filosofia (Papirus, 2000) Já apresentou 71 comunicações em encontros acadêmicos e publicou 46 artigos. Atualmente tem escrito regularmente artigos para www.parlata.com.br,www.rplib.com.br , www.avozdocidadao.com.br e para www.cieep.org.br , do qual é membro do conselho editorial.