Direito Agrário

O Sistema de Plantio Direto na Palha como uma das soluções para os efeitos da Revolução Verde

Camila de Carvalho Brito[1]

Thiago Oliveira Gaspar[2]

RESUMO

O presente artigo versa sobre o Sistema de Plantio Direto diante do impasse de aumentar a produção de alimentos sem, no entanto, desfavorecer o meio ambiente. Com esse objetivo, a metodologia utilizada no decorrer desse artigo é o método narrativo consistindo em pesquisas em outros artigos, revistas eletrônicas e livros.

Palavras-Chave: Meio Ambiente. Revolução Verde. Sistema de Plantio Direto na Palha.

ABSTRACT

This article deals with the Direct Planting System in the face of the impasse of increasing food production without, however, disfavoring the environment. With this objective, the methodology used in the course of this article is the narrative method consisting of researches in other articles, electronic journals and books.

Keywords: Environment. Green Revolution. Direct Planting System in the Straw.

INTRODUÇÃO

Idolatrada por uns, destoante para muitos, a Revolução Verde surgiu com o argumento tendencioso apresentando-se como uma nova e pioneira inovação na produção mundial de alimentos e fibras e para atender a demanda mundial de uma população crescente, resultante de 1970.

Não obtuso a tal ponderação, este foi um programa realizado a partir da ideologia para o aumento da produção agrícola, melhoria na genética em semente, uso intensivo de insumos, mecanização e redução do custo de manejo. Ela favoreceu o aumento na produção, desencadeando um aumento na oferta de alimentos, ajudando a erradicar a fome no mundo além proporcionar tecnologias que atingem maior eficiência na produção agrícola. uma aceleração fundiária, as grande propriedades possuíram mais recurso que as pequenas propriedades.

Entretanto tal sistema mostrou-se demasiadamente obtuso as práticas sustentáveis de desenvolvimento agrícola e pecuário, empobrecendo a biodiversidade e eliminando abelhas, minhocas e outros animais, além de espécies de plantas, também desenvolvem ervas daninhas resistentes e uma das consequências mais gravosas por ser um projeto baseado em monoculturas e que fazem uso em grande escala de fertilizantes, agrotóxicos e insumos de alto custo. A vontade, não mais de suprir a fome no mundo, mas sim lucrar a todo custo trouxe à tona devastação de grandes áreas em razão do avanço das fronteiras agrícolas.

O atendimento das necessidades dos países ricos por alimentos e fibras vegetais mais funcionais e mais elaborados e da grande população de baixa renda nos demais países deve feito de modo sustentável e harmônico, isto é, sem comprometer a habilidade das gerações futuras de também atender suas necessidades.

Nessa senda é que a grande questão que se coloca nesse limiar do Século XXI é como viabilizar um novo modelo de agricultura de alta performance, que continue produzindo alimentos em escala global, capaz de suprir as necessidades de uma humanidade que cresce geometricamente, e, ao mesmo tempo, preservar o que resta dos recursos naturais e da biodiversidade.

1 REVOLUÇÃO VERDE E DANOS AMBIENTAIS

Durante as décadas de 1960 e 1970, houve a implantação de novas técnicas agrícolas onde países em desenvolvimento aumentaram significativamente sua produção agrícola, através da ideia de Revolução Verde cuja principal ideologia era aumentar a produção num cenário de pós-guerra mundial.

Esse programa foi discutido e financiado pelo grupo Rockefeller, sediado em Nova Iorque. Utilizando um discurso humanitário de aumentar a produção de alimentos para acabar com a fome no mundo, o grupo Rockefeller expandiu seu mercado consumidor, fortalecendo a corporação com vendas de pacotes de insumos agrícolas, principalmente para países em desenvolvimento como México,Brasil e Índia.Esse novo padrão deixou de lado as técnicas tradicionais e levou ao crescimento da produção apenas nas grandes propriedades que tinham condições para inserção do processo de modernização, como o relevo e o clima

As sementes aperfeiçoadas em laboratórios possuem alta resistência a diferentes pragas e doenças, seu plantio é aliado à utilização de agrotóxicos, implementos agrícolas, fertilizantes e máquinas.No entanto, esse programa trouxe danos irreversíveis tanto no âmbito social quanto no ambiental que, por ora, é mais importante de ser ressaltado.

Mudanças climáticas, falta de água, poluição de mares e rios, entre outros, foram os efeitos dessa revolução na questão ambiental. Inúmeras são as discussões a respeito dessa mudança climática provocada por ações humanas, a humanidade já ultrapassou 4 dos 9 Limites Planetários, segundo a revista Science, e com isso chega ao que chamam de uma zona de perigo. Já foram ultrapassadas as fronteiras de mudanças climáticas, de perda de integridade da biosfera, de mudança do sistema terrestre e de alteração de ciclos biogeoquímicos (o nitrogênio e o fósforo).

Nas discussões sobre mitigação da mudança do clima em nível internacional, muito se discute sobre a redução das emissões de gases de efeito estufa associadas às atividades industriais, à geração de energia, ao transporte, entre outros setores. Porém, curiosamente, pouco se fala sobre reduções maiores na agricultura e na pecuária – isso porque tais dessas atividades representarem juntas quase 1/4 das emissões globais de gases de efeito estufa.

De todos os setores, a indústria da carne é a maior fonte de poluição da água. Resíduos animais excessivos e sem regulamentação, fertilizantes químicos, pesticidas, antibióticos e outros contaminantes relacionados ao gado entopem as hidrovias.A pecuária emite 64% de toda a amônia, o que causa a chuva ácida e o sulfeto de hidrogênio, um gás fatal.

O estrume já é conhecido por ser uma das e o escoamento de esterco e de outros fertilizantes agrícolas é responsável por inúmeras zonas mortas pobres em oxigênio somente ao longo do litoral dos EUA. A aquicultura polui o ambiente com as algas tóxicas e produtos químicos, como pesticidas e antibióticos.

Uma “solução” para a redução dos gases GEE é a taxação de produtos relacionados à pecuária, ou seja, precificar as emissões dos alimentos poderia contribuir para a diminuição dos impactos da mudança climática visto que grande parte da redução das emissões se daria pelo aumento do preço médio dos produtos alimentares de origem animal, de tal maneira que esse preço passaria a refletir também os custos ambientais da produção do alimento.

2 A SEGUNDA REVOLUÇÃO VERDE

Como visto, enfrentou-se o desafio da fome mundial por meio do melhoramento genético de sementes, insumos industriais, mecanização e redução do custo de manejo, o que ficou conhecido como Revolução Verde. Mas a população mundial não cessou de crescer e os desafios da demanda persistiram.

A luta contra a fome não se reduz ao aumento da oferta de alimentos. Os que passam fome devem ter condições de adquirir ou de auto produzir o seu sustento, o que nos remete ao emprego gerador de renda, ao auto-emprego e à reforma agrária. Tais questões não se resolvem pela aplicação das tecnologias da primeira revolução verde.

É sabido que uma Segunda Revolução Verde ou “revolução sempre verde” (evergreenrevolution), também chamada por pesquisadores franceses de “revolução duplamente verde” está em andamento, ante a queda da produtividade, principalmente do arroz, que ocorre em países asiáticos por diversos motivos, segundo informações de um importante artigo publicado pelo The Economist.

Para tal, novas variedades foram e estão sendo desenvolvidas pelo IRRI – International Rice ResearchInstitute nas Filipinas com diferentes finalidades. Algumas delas são resistentes às inundações, outras às secas, às salinidades ou aos calores extremos, problemas enfrentados pelos pequenos e pobres produtores asiáticos cuja renda buscam elevar. Além de melhorar seus nutrientes.

Quando submersas em água da chuva, por exemplo, a semente contém uma sequência genética que a coloca em uma espécie de hibernação, permitindo que, em vez de se afogar, o arroz cresça quando as águas baixam.

Em analogia, enquanto a primeira revolução conseguiu melhoramentos pela genética tradicional – aquela que se utiliza do cruzamentos de plantas, irradiação e modificações genéticas obtidas por meio de compostos químicos. A segunda revolução usa biotecnologia, especialmente a manipulação genética.

Nesse sentido, percebe–se o mais importante nessa segunda revolução verde: ela não se limita a adaptar sementes de arroz a ambientes específicos. Empenha-se em melhorar a qualidade nutricional do produto, e não apenas o número de calorias.

Portanto, o que se pode inferir é que a primeira revolução verde ensejou o debate ambiental, indispensável à supressão de efeitos colaterais nocivos. Já a segunda revolução ocorre sob a égide dessa nova ciência, a ecologia, cujos fundamentos acompanham as pesquisas.

Insta destacar que nesta Segunda Revolução Verde os governos procuram também proporcionar renda adicional para muitos produtores que sofrem de pobreza absoluta. Os preços para suas produções não podem obedecer simplesmente às regras do mercado internacional que tendem a mantê-los comprimidos, necessitando serem subsidiados.

Para que haja a competitividade internacional da agropecuária brasileira são necessários novos esforços sistemáticos no sentido de maior produtividade, juntando-se suportes governamentais aos esforços que estão sendo feitos pelo setor privado.

Porém, a exploração político ideológica a que o tema tem sido submetido inibe os governos a apoiar as pesquisas genéticas, não obstante os bilhões de vidas que podem salvar. A produção de alimentos, assim como a ecologia, é ciência, não ideologia. Não podem, pois, viver em conflito.

3 SISTEMA DE PLANTIO DIRETO (SPD)

De acordo com ASSAD, Eduardo (FDBS) a utilização da tecnologia do plantio direto já esta desenvolvida em grande parte das áreas agrícolas do Centro-Sul do país, especialmente com soja, milho e trigo, com expansão para outras regiões, em especial o Centro-Oeste e para outras culturas, como o algodão. Desde 2001, o SPD brasileiro é indicado pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação) como modelo de agricultura.

O Sistema Plantio Direto (SPD) é conceituado como a forma de manejo conservacionista que envolve todas as técnicas recomendadas para aumentar a produtividade, conservando ou melhorando continuamente o ambiente. Fundamenta-se na ausência de revolvimento do solo, em sua cobertura permanente e na rotação de culturas. Pressupõe, também, uma mudança na forma de pensar a atividade agropecuária a partir de um contexto socioeconômico com preocupações ambientais (Hernani &Salton, 1998).

A prática do Plantio Direto está diretamente relacionada com a rotação de culturas e a formação de palha na cobertura do solo. A superfície do solo deve permanecer protegida constantemente. Esta proteção depende da área coberta pela palha. Quanto maior a cobertura, menores as perdas de água no solo.

O contato da palha com a superfície do solo atua como uma barreira física ao livre deslocamento da água aumenta a sinuosidade do fluxo e a oportunidade de infiltração no solo (Heckler& Salton,2002). Segundo Calegari (1997), na presença da cobertura morta (“mulch”) há uma tendência de manutenção da umidade no solo (diminuição das perdas de água por evaporação), além de diminuir a oscilação térmica nas primeiras camadas.

A palha pode atuar de várias maneiras: a) regulando a incidência de energia na superfície do solo pela maior reflectância da radiação solar; b) aumentando a umidade relativa do ar na camada imediatamente acima do solo, entre a camada de palha, o que reduz a demanda evaporativa; c) aumentando o volume de água no solo pela maior taxa de infiltração, devido a ausência de crosta superficial; e d) aumentando a rugosidade superficial, reduzindo a velocidade do ar e diminuindo a demanda evaporativa.

No SPD, pode-se perceber que é relevante a redução de temperatura quanto o tradicional manejo das plantações. Salton&Mielniczuk (1995) concluíram que das variáveis afetadas pelo preparo do solo, a cobertura e a capacidade calorífica volumétrica foram as que mais afetaram a amplitude térmica do solo.

Dentre as muitas razões para implantar-se culturas de cobertura do solo, pode-se destacar o uso de determinadas espécies, que antecedendo culturas comerciais podem proporcionar ganhos em fertilidade do solo e nutrição das plantas, pela reciclagem ou disponibilização de nutrientes que irão beneficiar as culturas subseqüentes.

Com a manutenção da palha sobre a superfície ocorrerá um processo de acúmulo gradativo de material orgânico no solo com o transcorrer do tempo. A partir de determinado momento, quando a taxa de adição deste material orgânico superar a taxa de decomposição, a concentração de matéria orgânica tenderá a aumentar, resultando no aumento da fertilidade do solo.

Como resultado da maior concentração de nutrientes nas camadas superficiais e do maior teor de matéria orgânica, haverá aumento na eficiência de uso dos nutrientes, o que em muitas situações possibilitará redução nas dosagens dos adubos. (Heckler& Salton,2002).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A revolução verde não foi um verdadeiro “remédio para todos os males”. Ela trouxe um extraordinário aumento da produtividade de grãos onde já estavam reunidas as condições para a sua aplicação, beneficiando aqueles que já tinham mais mecanismos para tal. Deixou de lado, porém, extensas áreas geográficas e marginalizou centenas de milhões de pequenos camponeses, além de propiciar uma sequência de impactos ambientais negativos como poluição das águas e solos pela agricultura intensiva em insumos químicos, além do desperdício de água e salinização dos solos.

A segunda revolução ou “revolução sempre verde” busca simultaneamente maior produtividade agrícola e sustentabilidade ambiental, combinando-as com uma opção social pelos pobres e pelas mulheres. Surgindo como uma proposta de modernização do mundo rural bem diferente daquela embutida na primeira revolução verde.

Nesse sentido, a prioridade desta última revolução passa a ser a adequação dos pacotes tecnológicos às necessidades da pequena agricultura familiar, inclusive no que diz respeito às biotecnologias suscetíveis de aumentar a produtividade da biomassa e de abrir o leque dos produtos dela derivados.

Uma das técnicas desenvolvidas na chama Revolução Sempre Verde, e desenvolvimento no artigo, é o Sistema Plantio Direto (SPD). Este é conceituado como a forma de manejo conservacionista que envolve todas as técnicas recomendadas para aumentar a produtividade, conservando ou melhorando continuamente o ambiente.

Como demonstrado, essa técnica é uma das mais viáveis, pois tem como resultado, pela maior concentração de nutrientes nas camadas superficiais e do maior teor de matéria orgânica, o aumento na eficiência de uso dos nutrientes, o que em muitas situações possibilitará redução nas dosagens dos adubos.

REFERÊNCIAS

EHLERS, E. Agricultura Sustentável: origens e perspectivas de um novo paradigma.2.ed. Guaíba: Editora Agropecuária, 1999.

MUNDO EDUCAÇÃO. A revolução verde. Disponível em: <http://www.mundoeducacao.com.br/geografia/a-revolucao-verde.htm>. Acesso em: 17 ago. 2010 às 22:00 h.

ROMEIRO, A. R. Agricultura e Meio Ambiente. Teorias e História do Progresso Técnico. Tese de Doutorado. Instituto de Economia da Universidade de Campinas, Campinas.

SILVA, J.G. A nova dinâmica da agricultura brasileira. Unicamp – instituto de economia. CAMPINAS – São Paulo, 1996.

TOLEDO, Bruno. Estudo: taxar carne pode e laticínios pode ajudar o clima global. Disponível em: http://pagina22.com.br/2016/11/08/estudo-taxar-carne-e-laticinios-pode-ajudar-o-clima-global/>Acesso em: 17 de nov. 2016.



[1] Graduanda em Direito pela Universidade Estadual do Maranhão. Email: camila_brito00@hotmail.com

[2] Graduando em Direito pela Universidade Estadual do Maranhão.

Como citar e referenciar este artigo:
BRITO, Camila de Carvalho; GASPAR, Thiago Oliveira. O Sistema de Plantio Direto na Palha como uma das soluções para os efeitos da Revolução Verde. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2018. Disponível em: https://investidura.com.br/artigos/direito-agrario/o-sistema-de-plantio-direto-na-palha-como-uma-das-solucoes-para-os-efeitos-da-revolucao-verde/ Acesso em: 20 nov. 2024