Desmistificando a Riqueza das Nações
Marcel Damato Belli *
Resumo: Quando as nações atingem um patamar de riqueza, deve-se pensar como elas chegaram lá. É para isso que aqui estamos, numa análise da obra de Adam Smith.
Palavras-chave: Adam Smith, Adam, Smith, Riqueza das Nações, Riqueza, Nações.
1 INTRODUÇÃO
O que faz uma nação, quais caminhos toma e quais os métodos que utiliza para atingir um patamar de riqueza e obter sucesso em sua produção, exportação e comércio internacional?
Quais as nuances que envolvem os setores do mercado, a circulação de bens e a decisão de onde aplicar cada um desses bens?
A Riqueza das Nações, por Adam Smith, é uma reflexão sobre todas essas e muitas outras perguntas que, até hoje, ecoam nas mentes dos economistas e ministros da economia do mundo inteiro e aqui analizaremos a tutela dada por Smith entre as páginas 41-51 e 377-379 de sua obra.
2 Nações Ricas e Nações passíveis de enriquecimento
2.1 Da Natureza do Ato
Para conseguir-se algo de outra pessoa, deve-se garantir que ofereça-se algo em retorno pelo qual a pessoa nutra algum interesse. Essa é a essência de toda e qualquer troca ou “permuta”, como definia Aristóteles sobre a ação de um homem ceder propriedade de algo seu para outra pessoa, contanto que recebesse direito de propriedade absoluta sobre outra coisa que lhe interessasse.
Essa é a fundamentação da troca, do comércio e do capitalismo – sendo que este último envolve sempre uma representação de valor chamada “dinheiro”. Por toda sua vida o homem troca coisas para suprir seus interesses. Trocar um carro e uma quantidade de dinheiro por um veículo mais novo; trocar uma casa e um apartamento por uma residência ainda maior em uma área mais nobre; seja quais forem as especificidades, o intercâmbio de ítens sempre sofreu uma atenção permanente na vida humana.
2.2 Divisão
Há uma natural posição de vantagem, de um país, na execução de um dado objetivo. Países de clima tropical naturalmente terão mais sucesso no cultivo de laranjas do que aqueles que vivem encobertos por neve.
Naturalmente, pelo fato de alguns países possuírem mais recursos financeiros, portanto maior pesquisas e desenvolvimento tecnológico – não necessariamente produção palpável dessa tecnologia.
De fato, pela maior capacitação condicional, os países mais bem-abastados deveriam responsabilizar-se pela produção manufatureira e de produção tecnológica e aqueles menos capazes financeiramente pela produção agropecuária. Porém, vale-nos acrescentar que, em países centrais que decidem pela produção agrícola, esta é muito maior pela quantidade de recursos tecnológicos aplicados à ela e ainda maior quando ela se adequa ao clima do ítem produzido.
Quando o ítem produzido chega à etapa da manufatura, deve-se atender ao fato de que, quanto maior a divisão do trabalho, quanto maior a extratificação em etapas da árvore de complexidade produtiva, maior a eficiência dela, resultado da especialização do trabalhador.
É comum o trabalhador aplicar um mínimo de intelecto à sua profissão, por mais robotizante que esta seja, sendo um porquê do fato de ver-se acontecendo tantas vezes os trabalhadores de chão-de-fábrica inventarem máquinas ou customizarem procedimentos que resultam em maior eficiência de produção. Isto advém de dois fatos: 1) a proximidade do trabalhador de uma ação tão pequena – advinda da alta especialização – torna-o apto a analizar com maior minúcia os detalhes e questionar as falhas; e 2) a constante procura por poupar-se do próprio trabalho leva-o a criar qualquer ítem de facilitação possível.
A divisão do trabalho na linha de produção e em qualquer outra atividade produtiva gera maior eficiência porque há uma aquisição de maior destreza na tarefa disposta, pois a alta quantidade de repetições gera a quebra de defeitos; poupa-se o tempo da mudança de tarefa – que, quando acontece, exige um esforço mental de adaptação aos novos parâmetros da nova requisição de ação e, por isso, o trabalhador torna-se vadio – e os trabalhadores têm ao seu dispor máquinas para a diminuição de complexidade ou da necessidade de esforço na tarefa apresentada.
2.3 Mercados
Para que uma nação alcance o estado de economicamente dominante, não basta apenas ter uma perfeita produção de uma grande variedade de bens, mas deve-se ter um bom sistema comercial para a boa circulação dos produtos.
O fato de o homem viver em sociedade é para que outras pessoas, com aptidões diferentes, possam cobrir as lacunas das capacidades de outros. Mesmo uma pessoa totalmente capacitada em todos os possíveis aspectos nunca poderia manufaturar todos os objetos que a vida oferece, pois existem certos bens que podem apenas ser produzidos em regiões específicas do mundo. Eis a necessidade da circulação de bens.
O princípio básico da circulação de bens e da penetração deles em território nacional é o que conhecemos hoje como protecionismo – alta taxação de bens externos para a proteção da vantagem de circulação interna de bens produzidos em território nacional.
A taxação de elementos de fora do território nacional, criando um impedimento da sua circulação, estimula diretamente a criação e o desenvolvimento de um parque de produção do que quer que esteja sendo impedido de circular.
Facilmente determina-se que, quando alguém quer atingir sucesso e precisa escolher entre mercados, supondo-se uma igual capacidade econômica entre eles, o mais vantajoso é logicamente o interno, pois gastos com transporte de matéria-prima, de produto entre local de manufatura e localidade dos compradores, etc, é muito menor, além de ter-se um conhecimento e uma capacidade de produção de bens com que o mercado local já está acostumado a lidar e a necessitar e de toda a legislação envolvida em seu campo de trabalho – conhecimento este muito valioso em caso de qualquer problema legal. Há também o fator de que o seu capital nunca está muito tempo longe do seu contato e do seu controle, mesmo em instituições de extrema confiança como paraísos fiscais, é sempre mais útil ter o capital por perto pela agilidade de acesso.
Em segundo lugar coloca-se o mercado internacional, seja de serviços ou produção de bens, por ser semalhante ao mercado nacional mas apenas constando uma maior demora nos processos como transporte, movimentação financeira, contatos, etc., e de não se haver um conhecimento tão preciso da legislação.
Por último lugar deve colocar-se o mercado de transporte pelo principal fato de que o capital vai estar sempre dividido. Transporte-se uma carga entre Madri e Berlim que o capital deve ficar dividido entre três estações: o local de partida, o local de chegada e o capital que está em movimento. Quando movimenta-se bens de uma distância muito grande imediatamente tem-se um reduzido controle sobre o que está sendo transportado, portanto o dono do sistema de transporte geralmente prefere fazer o trabalho por si mesmo, o que acarreta ainda mais impecilhos.
2.4 Investimentos
Qualquer indivíduo possui atributos que o qualificam muito melhor a saber onde investir seu capital do que um legislador ou um estadista, que são quem regulam o mercado.
Geralmente a aplicação de capital é no mercado interno – embora, atualmente, as multi e transnacionais são polos de extrema atração de capital – pelo maior conhecimento da situação em que ele se encontra.
A aplicação das altas taxas alfandegárias implica um estímulo da produção interna, por haver a necessidade de estabelecer um parque de produção de tal item.
Mesmo que não se desenvolva um parque industrial para produção do bem impedido de penetrar proveniente do mercado externo, o país nunca se tornaria mais pobre do que seria se importasse o bem, embora, se não criar o parque industrial e não importar o bem, porder-se-ia investir o capital em outro campo de produção ou mesmo fora do campo econômico nacional.
3 CONCLUSÃO
Maior divisão das etapas de produção, protecionismo, investimento no mercado interno são apenas alguns dos itens desenvolvidos por Adam Smith dentro dos breves trechos que analisamos de sua obra A Riqueza das Nações e vê-se que, independente da idade desta obra, seus postulados até hoje são aplicados no mercado capitalista.
SMITH, Adam, 1723-1790: A RIQUEZA DAS NAÇÕES.
* Atualmente estudante de graduação no curso de Direito da Universidade Federal de Santa Catarina.
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