Visão Liberal

José Nêumanne Louva Lula

20/08/2011

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Quando comecei a ouvir e a ler os comentários sobre o livro de José Nêumanne Pinto, editorialista do Jornal da Tarde e articulista do Estadão eu
inicialmente me recusei a acreditar. Nêumanne é um dos orgulhos da comunidade nordestina em São Paulo, homem inteligente e talentoso escritor. Sempre o
tive na mais alta conta e até então era, para mim, era um pilar da imprensa livre no Brasil.

Eu já havia percebido nos artigos recentes que costuma publicar no Estadão certa tolerância com o PT e a Dilma Rousseff. A isso atribuí a natural
acomodação que um grande jornal por vezes faz com o poder do dia. Afinal, as gordas verbas não podem parar de fluir. Sem vender a alma de todo um
jornal faz concessões aqui e ali. Mas a publicação do livro (O Que Sei de Lula, Editora TopBooks) foi um rebaixamento e um gesto subserviente sem
igual. A resenha publicada no próprio jornal O Estado de São Paulo disse que o autor procurar mostrar “o homem atrás do mito”. Na verdade, o livro
cultiva ainda mais o mito.

Foi aberto imediatamente intenso debate na minha página no Facebook. A maior parte dos amigos que a integram são simpatizantes e leitores de longa data
do jornalista, como eu mesmo sou. O próprio Nêumanne integra a relação dos meus amigos naquele sítio. O repúdio foi geral ao encômio feito a Lula no
livro e Nêumanne se manifestou em tom defensivo/acusatório, alegando que na verdade fazia até denúncias, como a de que Lula dizer-se admirador de
Hitler, declaração que o ex-presidente deu a uma antiga edição da revista Playboy, fato sobejamente conhecido.

Nêumanne deu uma entrevista a um site da internet e a ouvi com atenção. Frases como “Lula é um gênio”, “Lula nunca foi de esquerda” e “Lula é um enorme
talento” me levaram a concluir que José Nêmanne Pinto não escreveu mais do que uma peça de propaganda, convenientemente em momento bem próximo às
eleições. Lula é precisamente o oposto de tudo que Nêumanne enxergou nele. O livro virou notícia em toda parte e tem sido objeto de intensos debates.
As eventuais “denúncias” contra Lula, todas velhas notícias requentadas, parecem-me meras escoras para aumentar a credibilidade do escritor e o
imunizá-lo contra as críticas de puxa-saquismo e de propagandista da causa.

Mas foi exatamente isso que José Nêumanne fez: puxou o saco de Lula e fez propaganda da sua personalidade e do PT. Um gesto lamentável, um opróbrio
para uma biografia que tinha sido até agora uma exaltação inerente. Uma obra maldita. José Nêumanne caminhou além da linha vermelha.

Eu, pensando comigo: em 1933, Thomas Mann exilou-se, foi o primeiro exilado, aquele que não compactou com a Alemanha de Hitler, enquanto toda a gente,
as “Zelites” inclusive, toda a imprensa, todos os ricos, o Exército, todos os alemães (menos alguns, os insubstituíveis, os restos de Israel, como
Voegelin. Excluo os judeus por óbvio, como Strauss) aderiram de mala e cuia ao novo regime. Algo semelhante acontece entre nós, mas onde anda o nosso
Thomas Mann, aquele que poderia dizer: onde eu estou está a cultura brasileira? Ninguém, ninguém. Ou tem? Acho que vi um: Olavo de Carvalho, que
presentemente se encontra no exílio. Em 1933 era apenas um. Em 2011 é apenas um. A classe letrada, toda ela, pôs-se a serviço dos revolucionários.
Tempos de grandes perigos.

* José Nivaldo Cordeiro, Executivo, nascido no Ceará. Reside atualmente em São Paulo. Declaradamente liberal, é um respeitado crítico das idéias
coletivistas. É um dos mais relevantes articulistas nacionais do momento, escrevendo artigos diários para diversos jornais e sites nacionais. É Diretor
da ANL – Associação Nacional de Livrarias.

Como citar e referenciar este artigo:
CORDEIRO, José Nivaldo. José Nêumanne Louva Lula. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2011. Disponível em: https://investidura.com.br/colunas/visao-liberal/jose-neumanne-louva-lula/ Acesso em: 26 dez. 2024