POF 2008-2009: desnutrição cai e peso das crianças brasileiras ultrapassa padrão internacional
O peso dos brasileiros vem aumentando nos últimos anos. Em 2009, uma em cada três crianças de
O excesso de peso e a obesidade são encontrados com grande frequência, a partir de 5 anos de idade, em todos os grupos de renda e em todas as regiões brasileiras. Já o déficit de altura nos primeiros anos de vida (um importante indicador da desnutrição infantil) está concentrado em famílias com menor renda e, do ponto de vista geográfico, na região Norte. Esses são alguns dos resultados da seção de Antropometria e Estado Nutricional da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2008-2009, realizada em parceria entre o IBGE e o Ministério da Saúde, que entrevistou e tomou medidas de peso e altura de pessoas em 55.970 domicílios em todos os estados e no Distrito Federal. Foram analisados os dados de mais de 188 mil pessoas de todas as idades. Os resultados foram comparados com as pesquisas de 1974-75 (Estudo Nacional da Despesa Familiar – ENDEF), 1989 (Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição – PNSN), 2002-03 (Pesquisa de Orçamentos Familiares – POF) para obtenção da tendência secular das variações de altura e peso da população.
Em 2008, uma em cada três crianças de
Em 2008, o excesso de peso atingia 33,5% das crianças de cinco a nove anos, sendo que 16,6% do total de meninos também eram obesos; entre as meninas, a obesidade apareceu em 11,8%. O excesso de peso foi maior na área urbana do que na rural: 37,5% e 23,9% para meninos e 33,9% e 24,6% para meninas, respectivamente. O Sudeste se destacou, com 40,3% dos meninos e 38% das meninas com sobrepeso nessa faixa etária.
A POF revelou um salto no número de crianças de
A Região Centro-Oeste foi a que teve a maior variação de meninos com excesso de peso em dez anos, de 13,8% em 1989 para 37,9% em 2008-09. Para meninas no mesmo período, o crescimento foi maior na Região Sudeste: de 15% para 37,9%. Essa região se destacou também por ter mais de um quinto de uma população infantil obesa em 2008-09: 20,6% dos meninos. Os menores índices de obesidade em crianças de
A pesquisa mostra, ainda, que, desde 1989, entre os meninos de
Déficit de peso e de altura das crianças de
Por outro lado, o déficit de peso em 2008-2009 entre as crianças de
Em 2008-09, o déficit de altura atingia 6,8% das crianças entre cinco e nove anos, sendo ligeiramente maior em meninos (7,2%) que em meninas (6,3%) e tendendo a diminuir com o avanço da idade. Era maior no Norte (12,2% dos meninos e 10,3% das meninas) e menor no Sul (4,7% e 4,0%, respectivamente). Já o déficit de peso estava presente entre 4,1% das crianças, com pouca variação entre os sexos. Esta distribuição, semelhante à verificada entre as crianças menores de cinco anos, mostra a manutenção do padrão regional de desnutrição infantil nas duas metades da década de 2000.
Ao contrário do observado entre as crianças menores de cinco anos, o déficit de altura tendeu a ser maior no meio rural que no urbano, com destaque negativo no Norte: 16,0% dos meninos e 13,5% das meninas de
A medida de altura é um dos fatores que ajudam a detectar a desnutrição infantil. Os déficits de altura revelam atraso no crescimento linear da criança ocorrido em algum momento, que pode ser desde a gestação, com prevalência nos dois primeiros anos de vida. Portanto, o déficit de altura na faixa etária entre cinco e nove anos na POF 2008-2009 reflete a desnutrição infantil na primeira metade da década de 2000. Observou-se, por exemplo, uma queda expressiva dos 29,3% dos meninos de cinco a nove anos em 1974-75 para 7,2% em 2008-09. Entre as meninas, o índice caiu de 26,7% para 6,3% em 34 anos.
No Nordeste, de
Crianças menores de 5 anos de idade com déficit de altura em 6%
Para as crianças com menos de cinco anos, foi elaborado um padrão nacional específico, levando em conta a influência da renda familiar sobre o crescimento infantil: a base foi a medida de altura de crianças de famílias com renda mensal maior que um salário mínimo per capita. Com essa referência, a POF estima em 6,0% o déficit de altura em crianças até 5 anos, abaixo da estimativa de 7,1% obtida em 2006-2007 em pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde, com no padrão da OMS.
Segundo a POF 2008-09, o déficit de altura em menores de cinco anos atingiu de forma semelhante os meninos e meninas: 6,3% e 5,7%, respectivamente, com ênfase no primeiro ano de vida (8,4% e 9,4%, respectivamente), diminuindo para cerca de 7% no segundo ano e oscilando em torno de 4% a 6% nas idades de dois a quatro anos. Além disso, foi maior no Norte (8,5%) e menor no Sul (3,9%). Não houve grandes variações para os meios urbano e rural. A maior diferença em pontos percentuais ocorreu nos estratos de renda: existia déficit em 8,2% das crianças até cinco anos das famílias no estrato com rendimento per capita até ¼ de salário mínimo e em 3,1%, quando esses rendimentos superavam 5 salários mínimos.
Obesidade é maior entre adolescentes com mais renda
A avaliação do estado nutricional dos jovens de
O excesso de peso, por sua vez, atingia 21,5% dos adolescentes, oscilando entre 16% e 18% no Norte e no Nordeste e entre 20% e 27% no Sudeste, Sul e Centro-Oeste. Nos dois sexos, tendeu a ser mais freqüente em áreas urbanas que em rurais, em particular no Norte e Nordeste. A obesidade, que foi verificada em um quarto dos casos de excesso de peso nos dois sexos, teve distribuição geográfica semelhante.
A renda era diretamente vinculada ao excesso de peso: ocorrendo três vezes mais entre os rapazes de maior renda do que nos de menor renda (34,5% contra 11,5%); no sexo feminino, a diferença foi de 24% para 14,2%. A obesidade foi registrada em 8,2% dos jovens de maior renda e 9,2% na faixa de um a dois salários mínimos; entre as moças, variou em torno de 4% nas faixas intermediárias de renda, sendo menor nos dois extremos.
Dos 10 aos 19 anos, sobrepeso aumentou seis vezes para homens e três para mulheres em 34 anos `
O aumento de peso em adolescentes de
Quanto à obesidade, mostra-se menos intensa, mas também com tendência ascendente, indo de 0,4% para 5,9% entre meninos e rapazes e de 0,7% para 4,0% no sexo feminino.
Déficit de peso se reduz entre adolescentes
Comportamento oposto ao da obesidade, ocorre com o déficit de peso, que teve declínio nesses 34 anos, indo de 10,1% para 3,7% entre os homens e de 5,1% para 3,0% entre as mulheres.
Este quadro caracteriza a população adolescente em todas as regiões brasileiras, com destaque para a Região Sul, cuja evolução do excesso de peso passou de 4,7% para 27,2% para os adolescentes e 9,7% para 22,0% para as adolescentes.
Entre adultos, déficit médio de peso não caracteriza desnutrição
Entre adultos, a avaliação do estado nutricional foi feita pelo Índice de Massa Corporal (IMC). Pessoas com IMC inferior a 18,5 kg/m2 têm déficit de peso, e uma população é caracterizada como desnutrida quando 5% de seus integrantes encontram-se abaixo desse índice. Já o excesso de peso e a obesidade são definidos por IMC iguais ou superiores a 25 kg/m2 e 30 kg/m2, respectivamente.
Dos adultos, 2,7% tinham déficit de peso (1,8% dos homens e 3,6% das mulheres) – percentuais que diminuíam com o incremento de renda em ambos os sexos, sem grandes variações regionais ou por situação de domicílio (urbano e rural).
Apenas em algumas faixas de idade da população feminina esse déficit ultrapassava 5%: chegou a 8,3% entre as mulheres de
Metade da população adulta tinha excesso de peso
Em 2008-09 o excesso de peso, por sua vez, atingiu cerca de metade dos homens e das mulheres, excedendo em 28 vezes a frequência do déficit de peso no caso masculino e em 13 vezes no feminino. Eram obesos 12,5% dos homens (1/4 dos casos de excesso) e 16,9% das mulheres (1/3). Ambas as condições aumentavam de frequência até a faixa de
O excesso de peso e a obesidade atingiam duas a três vezes mais os homens de maior renda, além de se destacarem nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste e nos domicílios urbanos. Nas mulheres, as duas condições se destacaram no Sul do país e nas classes intermediárias de renda.
Quantidade de obesos é quatro vezes maior entre homens a partir de 20 anos de idade
A POF também observou um aumento contínuo de excesso de peso e obesidade na população de 20 anos ou mais de 1974 para cá. O excesso de peso quase triplicou entre homens, de 18,5% em 1974-75 para 50,1% em 2008-09. Nas mulheres, o aumento foi menor: de 28,7% para 48%. Já a obesidade cresceu mais de quatro vezes entre os homens, de 2,8% para 12,4% e mais de duas vezes entre as mulheres, de 8% para 16,9%.
Isso ocorreu em todas as regiões brasileiras. No Sul, o excesso de peso masculino subiu de 23% para 56,8%. Entre as mulheres, este aumento é mais perceptível na Região Nordeste: de 19,5% para 46%. Lá, o aumento foi contínuo, enquanto que, nas outras regiões, houve interrupção no crescimento entre 1989 e 2002-2003, voltando a crescer daí até 2008-09. É o caso do Sul do país, onde o excesso de peso era de 36,6% em 1974-75, 47,3% em 1989, caiu para 44,8% em 2002-2003 e voltou a subir para 51,6% em 2008-09.
Este aumento é perceptível em todos os estratos de renda da população masculina. Entre as mulheres, o crescimento é mais acentuado entre os 20% de menor rendimento, passando de 14,6% para 45%. A obesidade passou de 2,4% para 15,1%. Entre os 20% de maior rendimento, o aumento foi de 10,8% para 16,9%, mas houve queda entre 1989 (15,4%) e 2002-2003 (13,5%).
Já o déficit de peso segue no declínio, regredindo de 8% em 1974-75 para 1,8% entre os homens e de 11,8% para 3,6% entre as mulheres, em todos os estratos de renda. Isso retrata, segundo a pesquisa, controle nos índices de desnutrição da população adulta brasileira.
Arquivos oficiais do governo estão disponíveis aos leitores.
* Ricardo Bergamini, Economista, formado em 1974 pela Faculdade Candido Mendes no Rio de Janeiro, com cursos de extensão em Engenharia Econômica pela UFRJ, no período de 1974/1976, e MBA Executivo em Finanças pelo IBMEC/RJ, no período de1988/1989. Membro da área internacional do Lloyds Bank (Rio de Janeiro e Citibank (Nova York e Rio de Janeiro). Exerceu diversos cargos executivos, na área financeira em empresas como Cosigua – Nuclebrás – Multifrabril – IESA Desde de 1996 reside em Florianópolis onde atua como consultor de empresas e palestrante, assessorando empresas da região sul.. Site: http://paginas.terra.com.br/noticias/ricardobergamini