Direito Internacional

Minaretes suíços

 

 

A Suíça sempre se caracterizou por ser um país com cidadãos serenos, respeitadores dos demais, preocupados em não se envolver com seus vizinhos, tendo, inclusive, conseguido permanecer neutra em duas guerras mundiais, apesar de estar no centro dos conflitos.

 

Estranhamente, a onda de um falso laicismo, que começa a dominar o mundo, pela qual, devido ao extremismo, só quem não acredita em Deus pode falar em um Estado laico, tem levado à geração de ódios e preconceitos que terminaram por atingir o âmago de povos civilizados, como o suíço, o francês e até mesmo a comunidade europeia.

 

Na França, proibiu-se o uso das burcas e xadors nas escolas, mas não a pouca roupa das meninas francesas, que se exibem em revistas de todas as espécies, algumas delas não recomendáveis, pois em um Estado laico quem é islamita não pode seguir os seus costumes publicamente. Na Itália, uma única mulher obtém da Corte de Direitos Humanos da União Européia – tenho dúvidas se os juízes deste tribunal não italiano conheçam as tradições e costumes do povo italiano – o direito de eliminar de todas as escolas públicas o crucifixo. Felizmente, a ministra da Educação italiana já disse que não respeitará a desarrazoada decisão. Agora, na Suíça, proíbe-se que os templos islâmicos ostentem seus minaretes.

 

É bem verdade que no Estado laico europeu, que está conformando os “sem-Deus” ou aqueles agnósticos que se julgam deuses, se comemora o aniversário de Cristo, com feriados e presentes, sem que haja um movimento para abolir o Natal, data maior da cristandade.

 

Pergunto eu: por que não respeitar os minaretes islâmicos como se respeitam os sinos católicos e as igrejas cristãs na Suíça? Por que o preconceito? Por que admitir que as casas de prostituição, os motéis para encontros suspeitos, as boates noturnas e os espetáculos pouco dignificantes, que também existem na Suíça, como em todos os países, não sejam fechados, por uma questão de igualdade?

 

Por que o culto ao criador, conforme cada religião, não é respeitado como se respeita o culto aos denominados centros turísticos de diversões laicas, em que a droga e o meretrício de luxo têm curso fácil e quase sem controle oficial?

 

Àqueles que não conseguem viver como deveriam pensar e passam a pensar como vivem, à evidência, incomoda os valores que as religiões transmitem e que não conseguem viver, em sua maioria, razão pela qual os bons costumes devem ser afastados – embora vividos pela maioria das pessoas – em detrimento de um Estado laico, sem valores, quase sempre libertino, onde a frustração, os divãs dos psiquiatras, a droga, o adultério, os casamentos desfigurados e os filhos desorientados povoam como símbolo da modernidade.

 

Indiscutivelmente, o preconceito suíço não faz bem à sua história, definitivamente manchada pelo plebiscito, que pode estar beirando às raias de um racismo contra o povo árabe, revivendo o que de pior o nazismo exibiu, na busca de uma raça pura. Estou convencido que este tipo de preconceito aristocrático suíço e de outros europeus está na essência da reação dos povos menos desenvolvidos, que, muitas vezes, até no terrorismo buscam a sua vingança. Como entendo que devemos buscar a paz e a convivência entre os povos, não posso aprovar a discriminação odiosa dos suíços.

 

 

* Ives Gandra da Silva Martins, Advogado. Doutor em Direito. Professor Emérito das Universidades Mackenzie, UNIFMU e da Escola de Comando e Estado Maior do Exército. Presidente do Conselho de Estudos Jurídicos da Federação do Comércio do Estado de São Paulo e do Centro de Extensão Universitária.

Como citar e referenciar este artigo:
MARTINS, Ives Gandra da Silva. Minaretes suíços. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2010. Disponível em: https://investidura.com.br/artigos/direito-internacional/minaretes-suicos/ Acesso em: 22 dez. 2024