Economia

A volta ao passado

A volta ao passado

 

 

Ives Gandra Martins*

 

 

A crise econômica brasileira, decorrente da crise mundial, tem levado o presidente Lula a uma série de declarações que lembram mais as manifestações do Fórum de São Paulo, idealizado pela esquerda radical, do que as suas declarações do passado, que receberam o elogio da comunidade internacional.

 

Durante seis anos, Lula atribuiu ao seu governo o mérito do crescimento brasileiro, não diferente do crescimento de todo o mundo. Um pouco menor que o da média das nações, é verdade, mas razoável, em face do boom internacional. A valorização da economia de mercado, que o levou, inclusive, à defesa da continuação da Rodada de Doha, era a grande vitrine de seu governo.

 

A crise do sistema financeiro e acionário, no mercado interno, em que os governantes todos tiveram culpa por omissão, inclusive o brasileiro, mas que estão procurando corrigir sem pretender revogar, todavia, as leis de mercado, impactou o presidente Lula de tal forma, que parece ter resolvido bandear de lado, pelo menos por enquanto e felizmente, apenas nos seus discursos.

 

Aproximou-se dos três aprendizes de ditadores (Morales, Chávez e Correa) e, no Fórum Social de Belém, repetiu frases próprias daquele famoso encontro da esquerda radical, de muitos anos atrás, em São Paulo. É de se lembrar que nestes países as Constituições aprovadas são de um só poder (o Executivo), sendo os outros poderes acólitos (Judiciário e Legislativo). No Brasil, o equilíbrio entre os poderes é que permitiu a estabilidade das instituições, apesar de todas as crises que tivemos nos últimos 20 anos.

 

Espero que suas manifestações sejam apenas retórica eleitoral, segundo uma ótica peculiar de que, quando a economia vai bem por força do setor privado, o governo é que merece as glórias; e quando vai mal, é o setor privado que merece as críticas.

 

De qualquer forma, temo uma recaída para o tipo de esquerda que liquidou o leste europeu, durante o domínio soviético, e do qual a China se libertou para tornar-se a terceira economia do mundo.

 

É que visualizo, como os especialistas estão provando, uma crise que atingirá em cheio o período eleitoral brasileiro e a busca de bodes expiatórios é uma das formas para afastar-se o espantalho da busca real da verdade verdadeira.

 

A recaída, que levou até à concessão de asilo a um cidadão condenado por quatro assassinatos, apenas por ter sido da esquerda comunista, é uma sinalização de que os radicais podem estar voltando à assessoria governamental, mesmo que à custa do estremecimento das relações com a Itália e da desfiguração da imagem do país no combate ao terrorismo.

 

É de se ter presente que o terrorismo na Itália e nos países europeus não se justifica, pois são democracias. A meu ver, o terrorismo não se justifica em hipótese alguma. O Brasil voltou à democracia, não por força da guerrilha de 69 a 71, mas da luta, principalmente da OAB, com a melhor das armas, que é a palavra.

 

O tempo dirá se a retórica, nestes tempos de crise, não contaminará a ação do presidente Lula. Que os sinais, entretanto, não são tranquilizadores, não são.

 

 

* Professor Emérito das Universidade Mackenzie e UNIFMU e da Escola de Comando e Estado maior do Exército. Presidente do Conselho de Estudos Jurídicos da Federação do Comércio do Estado de São Paulo, da Academia Paulista de Letras e do Centro de Extensão Universitária – CEU. Site: http://www.gandramartins.adv.br

 

Compare preços de Dicionários Jurídicos, Manuais de Direito e Livros de Direito.

Como citar e referenciar este artigo:
MARTINS, Ives Gandra. A volta ao passado. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2009. Disponível em: https://investidura.com.br/artigos/economia/a-volta-ao-passado/ Acesso em: 10 mar. 2025