A volta ao passado
Ives Gandra Martins*
A crise econômica brasileira, decorrente da crise mundial, tem levado o presidente Lula a uma série de declarações que lembram mais as manifestações do Fórum de São Paulo, idealizado pela esquerda radical, do que as suas declarações do passado, que receberam o elogio da comunidade internacional.
Durante seis anos, Lula atribuiu ao seu governo o mérito do crescimento brasileiro, não diferente do crescimento de todo o mundo. Um pouco menor que o da média das nações, é verdade, mas razoável, em face do boom internacional. A valorização da economia de mercado, que o levou, inclusive, à defesa da continuação da Rodada de Doha, era a grande vitrine de seu governo.
A crise do sistema financeiro e acionário, no mercado interno, em que os governantes todos tiveram culpa por omissão, inclusive o brasileiro, mas que estão procurando corrigir sem pretender revogar, todavia, as leis de mercado, impactou o presidente Lula de tal forma, que parece ter resolvido bandear de lado, pelo menos por enquanto e felizmente, apenas nos seus discursos.
Aproximou-se dos três aprendizes de ditadores (Morales, Chávez e Correa) e, no Fórum Social de Belém, repetiu frases próprias daquele famoso encontro da esquerda radical, de muitos anos atrás,
Espero que suas manifestações sejam apenas retórica eleitoral, segundo uma ótica peculiar de que, quando a economia vai bem por força do setor privado, o governo é que merece as glórias; e quando vai mal, é o setor privado que merece as críticas.
De qualquer forma, temo uma recaída para o tipo de esquerda que liquidou o leste europeu, durante o domínio soviético, e do qual a China se libertou para tornar-se a terceira economia do mundo.
É que visualizo, como os especialistas estão provando, uma crise que atingirá em cheio o período eleitoral brasileiro e a busca de bodes expiatórios é uma das formas para afastar-se o espantalho da busca real da verdade verdadeira.
A recaída, que levou até à concessão de asilo a um cidadão condenado por quatro assassinatos, apenas por ter sido da esquerda comunista, é uma sinalização de que os radicais podem estar voltando à assessoria governamental, mesmo que à custa do estremecimento das relações com a Itália e da desfiguração da imagem do país no combate ao terrorismo.
É de se ter presente que o terrorismo na Itália e nos países europeus não se justifica, pois são democracias. A meu ver, o terrorismo não se justifica em hipótese alguma. O Brasil voltou à democracia, não por força da guerrilha de
O tempo dirá se a retórica, nestes tempos de crise, não contaminará a ação do presidente Lula. Que os sinais, entretanto, não são tranquilizadores, não são.
* Professor Emérito das Universidade Mackenzie e UNIFMU e da Escola de Comando e Estado maior do Exército. Presidente do Conselho de Estudos Jurídicos da Federação do Comércio do Estado de São Paulo, da Academia Paulista de Letras e do Centro de Extensão Universitária – CEU. Site: http://www.gandramartins.adv.br
Compare preços de Dicionários Jurídicos, Manuais de Direito e Livros de Direito.