A vez dos homens
Maria Berenice Dias*
Aproxima-se o dia 8 de março. Duvido que alguém não tenha ouvido a célebre pergunta: por que dia das mulheres? Não há dia dos homens! Ou ainda, de forma jocosa: o dia das mulheres são todos os dias, já que elas estão invadindo todos espaços e ocupando os lugares masculinos.
Até há pouco tempo, ninguém sabia sequer que havia um dia no calendário dedicado à mulher. Era data despercebida. Afinal, feminismo era quase um palavrão. Nenhuma mulher tinha coragem de se identificar como feminista: sinônimo de mulher feia, mal amada, que ninguém quis, tem raiva dos homens, ou é lésbica.
Claro que as mulheres já vêm conquistando o espaço público. Estão conseguindo inserir-se no mercado de trabalho. Mas, ainda recebem remuneração inferior e não é fácil o acesso aos postos de poder. Também na política, a chamada “bancada do baton” é praticamente nula. No geral, para obter aceitação, a tendência é copiar o modelo masculino. Todavia, ao ocultar as características femininas, a mulher acaba se auto-condenando à invisibilidade. Dessa forma, a presença das mulheres não significa aceitação das qualidades que lhes são próprias. O molde permanece sendo o masculino e a mulher precisa acomodar-se nele.
Apesar desses “avanços”, no reduto doméstico a relação permanece verticalizada. Os homens não se sentem compromissados com o que se refere às tarefas do lar. No máximo se dispõem a prestar alguma ajuda, o que significa mera colaboração no desempenho de uma atividade que não é sua. Não têm consciência de que as lides domésticas e o cuidado com os filhos são deveres comuns do par. Mas, para gerar essa consciência e repartir esse encargo, é preciso que as mulheres os deixem fazer tais tarefas, sem medo de perder o reinado do lar. Aliás, essa é a grande queixa dos maridos e companheiros: não fazem porque as mulheres não deixam; acham que eles não sabem fazer nada. Pudera!… as mães nunca deixaram os filhos brincar de boneca, entrar na cozinha, ou fazer qualquer outra atividade que pudesse “comprometer” sua virilidade. No fundo, é o velho temor da homossexualidade, que torna os homens com tão poucas habilidades para as coisas tidas como femininas.
Acabam as mulheres se sujeitando à famosa dupla ou tripla jornada de trabalho. Mas a solução está nas nossas mãos. Não basta só a mulher mudar: é preciso mudar a forma de educar os filhos. Eles serão os maridos e os pais de amanhã. Só serão participativos, se lhes ensinarmos que homem chora; que carência afetiva não é sinal de fraqueza; que cuidar de filhos, arrumar a casa, pregar botão, não diminui ninguém. São atividades prazerosas, nada mais do que manifestações de afeto.
É necessário lembrar o dia da mulher, para ela não esquecer que não pode perder sua feminilidade. O caminho ainda é longo, mas será mais fácil de percorrer se também for uma trilha de união. A única forma de evidenciar a igualdade é marcar a diferença sem perder a autenticidade.
* Desembargadora do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Vice-Presidente Nacional do Instituto Brasileiro de Direito de Família – IBDFAM
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