Levando em consideração o aumento dos casos de bullyng, de vazamento de informações e imagens pessoais etc por meio da internet, seu marco regulatório
civil no Brasil, nos moldes do que hoje está proposto na Câmara de Deputados, por meio do PL2126/2011, carece de precisão técnica no que tange aos
provedores de internet. Isso porque não faz qualquer distinção e ou classificação de tipos, restringindo-se a conceituar o que se considera internet e os
demais itens correlatos, mas esquecendo-se da fundamental divisão existente entre tais prestadores de serviços.
É importante salientar o respeito aos princípios constitucionais do sigilo e da inviolabilidade das comunicações. Contudo, parece-nos omisso o texto no
sobre o respeito à dignidade do ser humano que merece a mesma guarida, pois o anonimato tem favorecido inúmeros casos de danos a outrem.
Assim, parece-nos condição essencial ao sucesso do projeto de lei a conceituação de provedores de serviço como pessoas jurídicas, com determinadas
especificações, caracterizando e diferenciando provedores intermediários – aqueles que servem exclusivamente de meio, e os provedores de conteúdo que, além
do meio, ou mesmo sem ele, oferecem conteúdo de qualquer espécie ou gênero, pelo qual respondem.
Simplista a um primeiro olhar, a diferenciação propícia vale uma importante reflexão sobre a necessidade de armazenamento de dados dos usuários e a
incidência das leis em vigência, como a Lei de Imprensa, a de Direito Autoral e a do próprio Código de Defesa do Consumidor a cada caso, dispensando,
inclusive, a elaboração de novas leis, uma vez que tais diplomas abarcam todas as hipóteses previstas.
O Mercado Comum Europeu, por meio das Diretivas 2000/31/CE e da 2001/29/CE e os Estados Unidos da América, pelo Communication Decency Act estabeleceram a diferenciação que falta no projeto de lei brasileiro e o fizeram com o intuito de garantir que, na hipótese de dano, seja realizada a
correta diferenciação entre o conteúdo produzido pelo provedor e por terceiros, hipótese em que cabe àquele informar os dados do usuário e, com isso,
liberar-se de responsabilização.
Integrar o projeto nacional e a lei que dele resultará ao que está sendo praticado em todo o mundo amplia as possibilidades de cooperação no combate a todo
o tipo de ilícito, facilitando operacionalmente o combate aos atos danosos pela adoção de protocolos legais comuns.
Isabel Cochlar, advogada