A crise da democracia: o poder
Ives Gandra da Silva Martins*
O Estado Moderno é um Estado Mastodôntico. Seja desenvolvido, seja emergente, o Estado Moderno é mais do que a sociedade. Pesa-lhe mais do que lhe presta serviços. Não representa o desejo de seu povo, mas sim de quem detém o poder.
Tal realidade ocorre tanto nos governos de esquerda, como de direita. Os intelectuais psicologicamente tem, porém, nítida preferência pelos governos de esquerda, que visam redistribuir as riquezas de quem soube ganhá-las “pro domo sua”. Daí resulta que a corrupção, o clientelismo, a ineficiência dos governos de esquerda têm menor repercussão na mídia do que sua ocorrência nos governos de direita. Simone de Beauvior, em seu livro “Os Mandarins”, mostrava como na França do pós-guerra tudo justificava o ataque à direita, mesmo quando não merecia, e tudo justificava esconder os defeitos da esquerda, mesmo quando valeria a pena divulgá-los por uma questão de equilíbrio e de justiça.
Raramente, vimos os governos de esquerda colocarem em prática as teses “redistributivistas”. Quase sempre a única distribuição que praticam tem como beneficiários seus adeptos e correligionários, que se enquistam nos governos após a conquista do poder. Como disse Ruy Falcão, inteligente e perspicaz líder da esquerda no Brasil, “não há administração pura” e as administrações de esquerda são tão impuras quanto as administrações de direita. Quase sempre, todavia, são menos eficientes.
Por outro lado, nas economias de mercado, nem sempre se tem uma visão clara dos objetivos. São, entretanto, sempre mais bem sucedidas que os regimes de esquerda, e mais geradoras de emprego, e de desenvolvimento, lembrando que os países que obtiveram maior sucesso econômico não são socialistas. Por outro lado, os governos socialistas que assumiram economia de mercado nos moldes de governos capitalistas, só conseguiram crescer quando deixaram de ser socialistas, praticando as mesmas técnicas e mecânismos dos governos liberais. Foi o que ocorreu com Portugal, Espanha, França e Alemanha cujos governos não diferem, do não socialista da Itália. De rigor, os rótulos com que conquistam o Poder são diferentes, mas a prática é idêntica. Escondem que o fracasso de todas as nações socialistas detrás da cortina de ferro, decorreu de terem acreditado que o redistributivismo geraria emprego e que estaria na natureza humana partilhar tudo o que se tem.
Ocorre, todavia, que os ideólogos da esquerda e os profissionais da conquista do poder, que pretendem tirar dos ricos para dar aos pobres, exatamente aqueles recursos que são geradores de empregos, são fantasticamente ineficientes no trato do social e pouco altruistas, a não ser com seus fiéis correligionários. Têm inveja dos ricos, mas não sabem produzir riqueza. Por isto querem dela se apropriar.
Por outro lado, os ricos, infelizmente, só trabalham para o social quando têm os faróis da mídia e da comunicação a afagar suas vaidades, desdobrando-se, açuladamente, para frequentar as páginas das revistas e dos jornais, em que exibem, como pavões, os sinais exteriores de suas riquezas.
Nada melhor, para estimular a inveja da esquerda, do que o fútil exibicionismo da direita rica, as mulheres ostentando plásticas rejuvenescedoras, roupas caríssimas e frequentando festas fenomenais e os homens acolitando esta folclórica manifestação de futilidades e desperdícios.
E, de rigor, esta classe social composta de invejosos da esquerda e de exibicionistas da direita, vai se tornando, juntamente com aqueles que exercem o Poder, ou seja, políticos e burocratas, um enorme peso morto que a sociedade deve suportar, colocando a democracia em permanente
* Advogado tributarista, professor emérito das Universidades Mackenzie e UniFMU e da Escola de Comando e Estado Maior do Exército, é presidente do Conselho de Estudos Jurídicos da Federação do Comércio do Estado de São Paulo, do Centro de Extensão Universitária e da Academia Paulista de Letras.
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