Rafael Becker*
Havia uma colméia cheia de luxo e comodidade que abrigava uma grande população de abelhas. Seu governo era uma monarquia lograda pelos seus ministros.
Toda profissão tinha algo de desonesto: os advogados, médicos, soldados, sacerdotes e demais. O desejo por fama, a preguiça, a luxúria, a avareza, o orgulho, a inveja, a vaidade, o suborno. Tanto o luxo como a comodidade vinham, pois, desses desvios enquanto alguns, é claro, deveriam se contentar com uma vida módica ou miserável.
Nas partes, o vício; no todo, a virtude. E a hipocrisia ainda fazia clamarem por honestidade. E Júpiter, cedendo ao pedindo, um dia fez de todos homens honestos. A justiça logo tornou-se inútil, os médicos passaram a cuidar verdadeiramente dos pacientes, os sacerdotes faziam cultos transparentes. O mercado faliu. Supérfluos foram deixados de lado, tudo passou a ser barato e simples.
A colméia perdeu quase toda a população que migrou e teve de arcar com insultos de fora com poucos guerreiros. Os sobreviventes foram para uma árvore oca. Moral: A virtude não leva uma nação à grandeza. ‘’Não devemos nós a produção do vinho À mirrada, pobre e encurvada parreira Que, enquanto seus brotos eram negligenciados, Sufocava as outras plantas e tornava-se mato, Mas nos abençoou com seus nobres frutos Tão logo foi amarrada e podada?
Assim é o vício tornado benéfico. quando pela Justiça desbastado e restrito.
*Acadêmico de Direito da UFSC
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