Algo sempre me intrigou em nossa sociedade: por que as pessoas nunca assumem-se responsáveis pelos problemas brasileiros? Em outras palavras: por que a culpa é sempre de outros agentes? As pessoas estão sempre reclamando que as nossas ruas estão sujas, que os nossos rios estão poluídos, que as nossas escolas não prestam, que o país vive um surto de dengue etc. Mas será que essas mesmas pessoas já pararam para pensar que contribuem para que todos esses eventos ocorram?
Essa é uma das razões pelas quais o liberalismo sempre foi visto de forma bastante distorcida no Brasil. Isto porque, é justamente o liberalismo que prega um fato bastante trivial: o indivíduo é o agente social que importa. Afinal, qualquer organização social é composta e gerida por indivíduos e reflete nada mais do que a visão majoritária do conjunto de indivíduos que a representa. Assim, pregar que a responsabilidade de manter as ruas limpas, por exemplo, é do Estado é não compreender que a causa dela estar suja é dos próprios cidadãos.
Dessa distorção nasceu e se mantém uma de nossas maiores instituições informais: o paternalismo. Este nada mais é do que uma definição para a idéia que sempre me intrigou, ou seja, o porquê de as pessoas não assumirem sua responsabilidade social. Veio importada de Portugal e aqui encontrou terreno fértil para se reproduzir. Atualmente, o paternalismo brasileiro é representado pelo fato de que uma parcela considerável da população coloca nos ombros do Estado a culpa por todos os problemas nacionais. E, além disso, é retroalimentada por “políticos” que, aspirando às mordomias do poder, prometem resolver todos os nossos problemas como se isso fosse, de fato, possível.
Infelizmente a solução para a maior parte dos problemas brasileiros não está nas mãos de um governante, como prega o senso comum. Seria bastante simples se fosse possível solucionar nossas mazelas apenas colocando pessoas capazes e bem intencionadas no governo. Ainda que eleger bons governantes seja uma condição necessária para alcançar o desenvolvimento social e econômico, esta não é uma condição suficiente. Para que o Brasil se torne uma nação civilizada é extremamente importante que as pessoas entendam que elas próprias são parte do problema.
Cada indivíduo é responsável por manter uma rua limpa, um rio despoluído, uma cidade bem organizada. Bons governos ajudam, mas não resolvem completamente o problema. Assim sendo, pouco avançaremos enquanto essa idéia trivial não for “digerida” pela sociedade brasileira. E dificilmente ela compreenderá essa visão sem uma profunda modificação em nosso sistema de educação básica. Isto porque, enquanto algo tão simples como esse não for ensinado para crianças em formação, não poderemos ser considerados um país desenvolvido.
Não vejo como uma criança possa ser considerada alfabetizada sem compreender noções básicas de cidadania. Nosso sistema educacional prefere encher nossas crianças de fórmulas e conceitos inúteis a ensinar boas práticas sociais. Uma das mais importantes é justamente essa idéia intrigante: somos todos responsáveis pelo país que temos. Caso isto fosse compreendido, daríamos um passo extremamente importante para construir uma sociedade melhor.
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