Rafael Cataneo Becker*
Antropologia: ciência das sociedades primitivas?
I – ORIGENS DA ANTROPOLOGIA
A reflexão sobre o outro consta desde a Antiguidade, quando os gregos, sob a ‘’exclusão ideológica’’ e a ‘’inclusão científica’’, falam dos bárbaros. Na Idade Média, houve a noção do cristão e do não cristão. Durante a Modernidade, com a Europa tomando conhecimento do resto do mundo, surgem noções de antropologia. Contudo, as reflexões sistemáticas iniciam-se a partir dos séculos XVII e XVIII. Nesse contexto surgem a etnologia e a etnografia. ‘’Apenas nos fins do século XIX as duas disciplinas se apresentam como duas fases complementares de um mesmo projecto: colecta dos documentos e descrição (etnografia), e depois sínteses comparativa (etnologia) (p.18)’’.
Do projecto teórico ao trabalho de campo
Paralelamente ao evolucionismo darwiniano, à paleontologia e à museografia, durante o século XIX, a etnologia fixa sua especificidade de estudo. ‘’E é a síntese metódica dessas diversas práticas que permitem à etnologia delimitar um campo geográfico e social no quadro do descobrimento (e da conquista) de novas sociedades (p.19)’’.
No entanto, o estudo etnológico dividia-se em pesquisa de campo e sua interpretação. Com Malinowski e Boas teve vez a cisão de tal separação, o que impulsionou efetivamente o desenvolvimento dessa ciência no século XX.
Panorama de um itinerário teórico
Salientam-se cinco escolas etno-antropológicas.
Evolucionista: Ocorreu no século XIX com uma concepção de inferior e superior no desenvolvimento das sociedades. ‘’Mas a pesquisa das leis de evolução das sociedades levou frequentemente a extrapolações e a generalizações abusivas (p.20)’’. ‘’Pode-se afirmar, sem exagero, que todas as teorias etnológicas subseqüentes tomaram uma posição antievolucionista (p.20)’’. Lewis H. Morgan (1818-1881); Banchofen (1815- 1887); Summer Maine (1822-1888).
Difusionista: Os difusionistas ‘’pesquisam os círculos, as áreas culturais que delimitam
e explicam as diferenças e semelhanças entre sociedades (p.21)’’. Essa escolha apresentou diversos ‘’vícios: atomização dos conjuntos culturais, identificações formais, pesquisa de focos de difusão singulares… (p.21)’’. F. Graebner P. Schmidt, L.
Frobenius, C. Wissler.
Funcionalista: Encabeçada por Bornislaw Malinowski (1884-1942), diz: ‘’Todo o elemento (instituição) de uma cultura desempenha uma função neste conjunto e reflete uma necessidade biológica (p.21)’’. Malinowski também introduziu a observação participante, a perspectiva psicanalítica e iniciou a antropologia econômica.
Culturalista: Associação de pesquisas etnológicas, psicológicas e psicanalíticas. Estuda a configuração social em assuntos como os ‘’aprendizagem dos valores pelas crianças, a delimitação das mentalidade nacionais, a definição das normas e dos desvios (p.22)’’. E.Sapir, M. Mead, R. Benedict, A. Kardiner, R. Linton.
Estruturalismo: Para Lévi-Strauss, o objetivo da etnologia ‘’é atingir, para além da imagem consciente e sempre diferente que os homens formam do seu devir, um inventário de possibilidades inconscientes, que não existem em número ilimitado, e cujo repertório e as relações de compatibilidade ou de incompatibilidade que qualquer delas mantém com todas as outras fornecem uma arquitectura lógica a desenvolvimentos históricos que podem ser imprevisíveis sem nunca serem arbitrários (p.22)’’.
IV – RESPONSABILIDADES SOCIAIS E POLÍTICAS DA ANTROPOLOGIA
A antropologia deve rejeitar a ‘’paz branca’’ dos estudiosos sentimentais que clamam contra o etnocídio e nada mais fazem do que ter peso na consciência. Deve bem como rejeitar aqueles que buscam apenas uma objetividade da disciplina sem desconsiderar a carga ideológica que carregam –normalmente da cultura européia-. A antropologia não pode mais ficar entre ‘’povos primitivos’’ e a sociedade moderna. Precisa acompanhar as mudanças e entrelaçar seu conhecimento.
Para uma antropologia geral
As ciências humanas devem unificar-se por uma ‘’necessidade científica’’ de um novo método capaz de perscrutar a sociedade contemporânea. E nisso desenvolverá a antropologia uma tarefa fundamental.
COPANS, J. [et al]. Antropologia: ciência das sociedades primitivas? Lisboa: Edições
70, 1971.
* Aluno de Direito da UFSC
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