Direito do Consumidor

Crise, governo e esquerda e imprensa

Crise, governo e esquerda e imprensa

 

Vitor Vilela Guglinski*

 

 

A crise aérea pela qual o Brasil tem passado desde o acidente com o Boeing da Gol, agora agravada com o acidente envolvendo a aeronave da empresa TAM vem exaltando, como nunca visto antes, os ânimos da mídia nacional, a ponto de banalizar-se a liberdade de imprensa, garantida pelo ordenamento jurídico pátrio.

 

 

Há poucos dias, dois assessores da Presidência da República – Marco Aurélio Garcia e Bruno Gaspar – foram flagrados fazendo gestos obscenos após supostamente assistirem a uma reportagem exibida pelo Jornal Nacional da TV Globo, a qual noticiava que o acidente ocorrido com o Airbus da TAM poderia ter sido causado por falha humana, estando agora a experimentar um verdadeiro vilipendio à sua pessoa, uma vez que suspeitou-se que aquele assessor estaria a “comemorar” a inimputabilidade do governo do Presidente Lula em relação ao fato.

 

Tal fato foi por mim escolhido apenas como ponto de partida para tecer breves apontamentos sobre o indiscutível massacre que a imprensa brasileira vem promovendo contra este que, a meu ver, e sem medo de estar incorrendo em erro, é o que mais se aproximou, mesmo ainda estando longe, do idealizado pelo povo. Não é de hoje que o Governo Lula tem demonstrado em números a sua superioridade em relação àquelas lideranças às quais o povo brasileiro se submeteu durante décadas. Se a opinião pública é no sentido de que o mesmo está aquém do prometido, lembremos, então, dos governos de direita… dá pra chorar muito mais!

 

Com todo o meu respeito aos profissionais de excelência, se a imprensa nacional não abrir seus olhos com vistas a apurar fatos verdadeiramente relevantes, estaremos fadados à desinformação e ao pão e circo que permeou Roma durante alguns impérios.

 

Não se pretende, aqui, desagravar a conduta daqueles que desempenham importantes misteres junto às lideranças de nossa Nação, notadamente diante de um fato trágico como o ocorrido no último dia 17 de julho. Contudo, se prestarmos a devida atenção, é perceptível o exagero na liberdade de imprensa, a ponto desses profissionais com pouco bom senso ficarem de plantão, à espera de um deslize mínimo que seja de alguém ligado ao governo.

 

Recentemente, a título ilustrativo, as perseguições se voltaram para o Judiciário, o qual, compartilhando da opinião do insigne juiz mineiro Rogério Medeiros Garcia de Lima é, de longe, o Poder mais moralizado de todos. Foi o primeiro a acabar com o nepotismo, enquanto tal prática continua no Executivo e no Legislativo. É fato também de que padece das mesmas mazelas inerentes a qualquer atividade humana. Todavia, por ser um Poder moralizador, sofre cobranças mais severas da sociedade.

 

O que percebo, na atual conjuntura, é que o povo brasileiro, por conta da mídia inquisidora, não consegue viver sem algo ou alguém para vilipendiar, e ainda com a agravante de colocar todo mundo no mesmo balaio, como se todos os membros da sociedade fossem dotados de incontestável reputação ilibada e donos de um direito inafastável de criticar os erros de outrem.

 

O argumento que tem sido utilizado para criticar este assessor que foi flagrado fazendo gestos obscenos baseia-se nos princípios éticos que regem aqueles que ocupam cargos ou funções públicas, isto é, que devem pautar sua vida privada nestes mesmos princípios. Ora, gostaria de ter a certeza de que parlamentares, chefes de governo, ministros, juízes, desembargadores, enfim, indivíduos, em tese, dotados da mais refinada educação, nunca xingaram ou fizeram gestos obscenos enquanto ocupantes dos respectivos cargos. Tenham a santa paciência!

 

Não penso que tenha havido intenção daqueles assessores de banalizar a tragédia ocorrida. Todavia, tenho minhas dúvidas sobre se a imprensa intencionalmente agrava o desespero dos familiares de vítimas de quaisquer tragédias. Mais uma vez, com a devida venia aos profissionais preocupados com a imprensa responsável, percebo, sim, que o povo ingenuamente aplaude a sutil manipulação de suas mais profundas dores.

 

Por fim, gostaria de lembrá-los, caros amigos, que o aperfeiçoamento moral é um processo longo… ainda mais em terra de índios!

 

 

* Assessor de Juiz em Juiz de Fora, especialista em Direito do Consumidor pela Universidade Estácio de Sá de Juiz de Fora.

 

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Como citar e referenciar este artigo:
GUGLINSKI, Vitor Vilela. Crise, governo e esquerda e imprensa. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2008. Disponível em: https://investidura.com.br/artigos/direito-do-consumidor/crise-governo-e-esquerda-e-imprensa/ Acesso em: 08 out. 2024