Visão Liberal

A base aliada do PT

Desde que o PT assumiu com Lula temos visto os esforços hercúleos do PT para formar uma “base aliada”, eufemismo para dizer que o partido quer consolidar uma maioria parlamentar, supostamente para facilitar a governabilidade. Isso seria o normal em todos os governos. Ocorre que a tal base aliada tem sido infiel e tem falhado nos momentos decisivos. Por quê?

O problema central é que o PT não quer apenas a governabilidade, mas quer também implantar, pela via parlamentar, sua agenda revolucionária, aprovando suas proposituras de lei. Acontece que o “centrão”, representado pelo PMDB, faz tudo para apoiar o governo, menos aquilo que é decisivo: não apoiou a CPMF, a reeleição de Lula, o decreto de sovietização do Estado, a “democratização” da mídia, a criminalização da homofobia e outras do mesmo naipe. O PMDB também tem servido de oposição eficaz ao PT. Isso está levando o partido ao desespero, pois o fraco desempenho de Dilma Rousseff nas últimas eleições pode significar o fim do projeto eleitoral do PT proximamente, sem que ele tenha logrado alcançar seus objetivos estratégicos.

Proposituras revolucionárias importantes estão para ser apresentadas, como aquela que pretende mexer na federação, modificando as responsabilidades sobre a segurança pública. Tudo que o PT quer é desmilitarizar as Polícias Militares, comandar a operacionalidade das forças necessárias a manter a ordem e transformar os governadores em vaquinhas de presépio. É claro que algo assim não apenas não pode acontecer e não vai acontecer.

Vimos também que o Congresso Nacional como um todo não está facilitando a vida dos seus membros pegos em falcatruas, como as do mensalão e, já agora, do petrolão, operações notoriamente destinadas a remunerar adequadamente seus apoiadores. Uma base aliada mais fiel poderia poupar a possível cassação de quadros preciosos que estão por vir. Não basta apenas dinheiro, é preciso fazer com que os aliados percam qualquer veleidade de independência. O PT não quer aliados, quer escravos.

Nesse começo de legislatura estamos vendo a presidente tomar um atalho para driblar a rebeldia do PMDB, fortalecendo as siglas menores da base aliada. Acho que é em vão e o tiro poderá sair pela culatra, uma vez que o movimento colocou em alerta as lideranças do partido, fazendo-as mais oposicionistas do que nunca. Ademais, as siglas menores são do mesmo naipe do PMDB: apoiam o governo em tudo, menos na agenda revolucionária. São uma espécie de PMDB descentralizado, de muito mais difícil gerenciamento. Não vai ajudar muito.

Evidentemente o Brasil não tem problema de governabilidade se o governo quiser se limitar a governar, abrindo mão de transformar as instituições. O caso é que o PT entende que não foi eleito apenas para isso, quer a transformação social. Suas lideranças devem estar chegando à mesma conclusão de Lênin: sem violência e golpe de Estado não é possível consolidar a revolução. O PT, todavia, não tem os meios materiais para dar um golpe. Está travado nos seus maus propósitos, ao menos por enquanto.

www.nivaldocordeiro.net – 16/01/2015

Como citar e referenciar este artigo:
CORDEIRO, Nivaldo. A base aliada do PT. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2015. Disponível em: https://investidura.com.br/colunas/visao-liberal/a-base-aliada-do-pt/ Acesso em: 28 mar. 2024