Visão Liberal

Caetano Apanha da Metonímia

13/09/2011

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Tomemos a definição de dicionário da metonímia: figura de linguagem que usa um nome por outro, na construção da frase, em virtude de haver associação
óbvia de significado. Exemplos: ler um Drummond (autor pela obra), ir ao barbeiro (o possuidor pelo possuído), completou dez primaveras (a parte pelo
todo) e assim por diante. Detenhamo-nos no primeiro exemplo, pois de fato é o que me interessa aqui, para mostrar como o nosso glorioso Caetano Veloso
tropeçou na interpretação do texto de Thomas Mann (Casamento e homoerotismo), que tive oportunidade de comentar em vídeo (Caetano não compreendeu
Thomas Mann).

Voltei ao vídeo do cantor e ao texto do alemão novamente e me dei conta da origem da sua grande confusão, além do fato óbvio de que Caetano não tem as
qualificações necessárias para ser comentador de Thomas Mann. Nada neste autor está desconectado do conjunto do que escreveu, mesmo aqueles textos,
como o Considerações de Um Apolítico, do qual aparentemente parece ter sofrido uma enantiodromia nas posições políticas e existenciais. Thomas Mann
manteve admirável coerência de princípios e não menos admirável retidão moral, que o levaram a ser o maior inimigo civil do nazismo, fato que o tornou
o primeiro exilado do regime.

Voltemos à origem da confusão. Ao ler a frase “De fato, não há como censurar ou zombar de uma esfera de sentimentos que produziu o túmulo do Médici e o
David, os sonetos venezianos e a Patética em si menor” é que me dei conta. Obviamente que Thomas Mann não disse aqui que as obras espelham
peculiaridades homossexuais, mas a condição de seus autores o terem sido. Evitou dizer-lhes os nomes por elegância, sua marca registrada. Michelangelo,
Platen e Tchaikovsky foram grandes por terem sido artistas e não por terem sido homossexuais. Esta condição não precisaria necessariamente deixar
marca, fato não compreendido por Caetano, daí ironizar a música de Tchaikovsky. Foi atropelado pela metonímia. Confundiu-se todo.

[Platen foi usado por Thomas Mann para modelar o personagem de A Morte em Veneza, Aschenbach].

Sem o querer, certamente, Caetano colocou uma pequena sombra, inexistente no texto de Thomas Mann. Tropeçou. Um ato infeliz.

* José Nivaldo Cordeiro, Executivo, nascido no Ceará. Reside atualmente em São Paulo. Declaradamente liberal, é um respeitado crítico das idéias
coletivistas. É um dos mais relevantes articulistas nacionais do momento, escrevendo artigos diários para diversos jornais e sites nacionais. É Diretor
da ANL – Associação Nacional de Livrarias.

Como citar e referenciar este artigo:
CORDEIRO, José Nivaldo. Caetano Apanha da Metonímia. Florianópolis: Portal Jurídico Investidura, 2011. Disponível em: https://investidura.com.br/colunas/visao-liberal/caetano-apanha-da-metonimia/ Acesso em: 19 abr. 2024